Esquema pagou dupla sertaneja e Nizan, diz operador

Valério também aponta ao Ministério Público existência de outra conta de Duda Mendonça fora do País; todos negam as acusações

Foto do author Fausto Macedo
Por Felipe Recondo , Alana Rizzo , Fausto Macedo , BRASÍLIA e BRASÍLIA
Atualização:

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado a mais de 40 anos de prisão por operar o mensalão, entregou à Procuradoria-Geral da República os números de três contas bancárias no exterior nas quais teria feito depósitos para quitar dívidas de campanha do PT com a dupla Zezé Di Camargo e Luciano e com os publicitários Nizan Guanaes e Duda Mendonça. As operações , segundo ele, ocorreram em 2005.No depoimento prestado em 24 de setembro à Procuradoria-Geral, Valério disse que dinheiro do esquema do mensalão foi usado para pagar a dupla sertaneja e os publicitários. Nesta semana, o Estado confirmou com fontes ligadas ao processo que o empresário também deixou com o Ministério Público os dados das contas bancárias.Além de terem sido garotos-propaganda de Luiz Inácio Lula da Silva na campanha presidencial de 2002, Zezé Di Camargo e Luciano trabalharam em campanhas petistas em 2004. Nesse mesmo ano, Nizan comandou a campanha derrotada de Jorge Bittar (PT) à prefeitura do Rio - dois anos antes, tinha sido o marqueteiro de José Serra na derrota pela disputa ao Planalto.Os dados de uma terceira conta, cujo beneficiário seria Duda Mendonça, seriam diferentes da conta nos Estados Unidos na qual o marqueteiro de Lula em 2002 admitiu receber mais de R$ 10 milhões - o publicitário foi absolvido pelo Supremo no julgamento do mensalão após ser acusado de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Duda trabalhou com petistas também no ano de 2004. Os publicitários e a dupla sertaneja negam ter recebido qualquer pagamento de forma ilegal (mais informações no texto abaixo).Papéis. Ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, confirmou o recebimento de documentos e depósitos entregues por Valério, mas não especificou sobre o que eles tratavam.Segundo a versão de Valério, o dinheiro que ele diz ter ido parar nas contas dos publicitários e dos músicos saiu de um suposto acerto que, conforme afirmou ao Ministério Público, teria ocorrido em 2003 no gabinete presidencial, numa reunião entre Lula, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o então presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta.O empresário afirmou no depoimento de 24 de setembro que uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, arrumaria cerca de R$ 7 milhões para o PT pagar dívidas de campanha suas e de aliados. Esse dinheiro seria usado, segundo as acusações de Valério, dois anos depois para pagar Nizan, Duda e Zezé Di Camargo e Luciano. Naquele mesmo 2005, Valério chegou a viajar para Portugal acompanhado de Rogério Tolentino, seu ex-advogado e sócio, e do dirigente do PTB Emerson Palmieri - a viagem, afirmou o deputado cassado Roberto Jefferson ainda em 2005, serviu para "liberar" o dinheiro da Portugal Telecom.Lula afirmou na semana passada, durante viagem ao exterior, que não responderia às acusações de Valério por se tratar de "mentira". O criminalista José Roberto Batochio, advogado de Palocci, também negou que seu cliente tenha participado das reuniões no Planalto citadas pelo empresário à Procuradoria-Geral da República.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.