Escuta mostra interesse do grupo por verbas do BNDES

Diálogo captado pela PF, entre contraventor e um ex-vereador, menciona recursos que teriam ido parar nos cofres da Delta

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Por Fernando Gallo e GOIÂNIA (GO)
Atualização:

Uma conversa entre Carlinhos Cachoeira e o ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez, gravada pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo, mostra que ambos trataram de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinadas a obras no Estado de Goiás. Durante o diálogo, ocorrido em 26 de abril de 2011, Garcez diz a Cachoeira: "Eu num falei pro Cláudio ainda, mas... parece que... aquela hora que eu tava com você no carro o secretário de Finanças lá o... diretor financeiro que eu tinha ligado pra ele mais cedo, disse que o governador assinou o decreto, vai ser publicado, e que agora é rápido, aquele pagamento lá da... do BNDES entendeu? (sic)".O Cláudio citado no diálogo é Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções, preso anteontem durante operação do Ministério Público em Goiânia. Pouco antes de citar o BNDES, Garcez diz a Cachoeira que queria levá-lo à Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) no dia seguinte, antes que o contraventor fosse ao aeroporto, pois uma pessoa chamada Tiago lhe telefonara para informar que "agora sai o trem lá porque pegou o quadro lá tudo direitinho".O governo de Goiás, na gestão de Marconi Perillo (PSDB), tinha à disposição R$ 85 milhões do BNDES para obras - valor restante de um contrato de R$ 260 milhões firmado na gestão anterior de Alcides Rodrigues (PP). Perillo prometia usar os recursos em obras rodoviárias. A Delta era uma das empresas que tinham contrato com a Agetop.Em 29 de abril, três dias após o diálogo gravado pela Polícia Federal entre os contraventores, o governo de Goiás publicou dois decretos suplementando o orçamento da agência de obras, um deles no valor de R$ 17 milhões e outro no valor de R$ 1,4 milhão. Duas semanas depois, um novo decreto suplementa o crédito da agência em R$ 69,5 milhões, com a informação de que era dinheiro do BNDES. A Agetop, que é presidida por Jayme Rincón, tesoureiro da campanha de Perillo em 2010 e uma das figuras mais proeminentes da administração goiana, afirma ter pago à Delta entre 2011 e 2012 para conservação e construção de rodovias o montante de R$ 12,8 milhões. O Estado, porém, localizou no Portal da Transparência do governo estadual pagamentos de R$ 51,1 milhões à empresa somente no ano passado. O governo não explicou a diferença nos valores, que pode estar no fato de que a Delta tem contratos em outras áreas. Atualmente, só com a Agetop a Delta tem contratos que somam R$ 115 milhões. Desses, segundo o governo, R$ 64,5 milhões foram firmados na gestão Alcides Rodrigues, e R$ 51,5 milhões na atual.Na conversa com Garcez flagrada pela PF, Cachoeira volta a citar Cláudio Abreu: "Você que tem de cobrar o Cláudio. Segunda-feira é que dia? Terça-feira tem de tá depositado esse trem".

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