'Empresário ficar fazendo beicinho não dá'

Ministro rebate entrevista do presidente do Iedi ao 'Estado' e diz que Planalto precisa 'discutir relação' com o setor produtivo

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Por Vera Rosa , Adriana Fernandes e Lu Aiko Otta - O Estado de S. Paulo
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BRASÍLIA - Acostumado a entrar em polêmicas para defender o governo, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT), diz que os problemas de relacionamento do Palácio do Planalto com os empresários podem ser resolvidos com conversa. "Empresário ficar fazendo beicinho não dá", afirma.A declaração de Bernardo é uma resposta à entrevista do presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, publicada no último domingo pelo Estado. Na opinião de Passos, a confiança dos empresários no governo acabou."Precisamos fazer uma boa DR com os empresários", argumenta o ministro, numa referência à sigla que significa "discutir a relação". Para Bernardo, a campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff vai ser dura. "É Aécio que vai salvar nossa economia?", provoca ele, ao ironizar o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB ao Planalto. Os beliscões reservados ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), são mais leves. "Os investimentos lá são do governo federal. Mas é um cara que trabalha, né?"Os adversários do PT dizem que o governo está perdido na economia. Como rebater esse argumento na campanha?A nossa oposição fica esperando o que a mídia fala. É igual pegar um corpo inanimado para dar descarga elétrica. Cria no máximo um Frankenstein. Mas os empresários se queixam muito do governo. Dizem que não são ouvidos...Empresário ficar fazendo beicinho não dá. Pode ser que às vezes não tenha sido atendido, mas foi bem ouvido. Nós estamos enfrentando uma quadra muito difícil no mundo. Achar que isso não influencia o Brasil é ilusão. Agora, o governo não permitiu que a crise fosse colocada na conta das famílias. Fechamos 2013 com o menor índice de desemprego. As empresas estão buscando idoso, o que inclusive me dá esperança (risos). Vou ter perspectiva.A crítica dos empresários é improcedente?Há críticas procedentes, mas isso não pode ser generalizado. Temos de melhorar o relacionamento. Só isso. É preciso fazer uma boa DR com os empresários e ouvir (risos). Pode ser que haja rusgas, arestas, mas isso pode ser consertado. A campanha da presidente Dilma terá comitê de empresários?Campanha é outra coisa. Mas é natural que haja empresários para ajudar na campanha.O senador Aécio Neves diz que o Brasil está no fim da fila dos que querem investir...A novidade é Aécio dizer que vai adotar o Bolsa Família. Antes o PSDB dizia que o programa era esmola. O PSDB já esteve no governo e não fez nada nessa área de emprego. Quando Lula assumiu, em 2003, a inflação era de 12,7%. Mas a inflação ainda é um problema e preocupa o governo...Nós não vamos dar moleza para a inflação. Mas não temos inflação de 12% e juros pornográficos. O Brasil, hoje, tem US$ 380 bilhões em reservas.Como sair da armadilha do pibinho, do baixo crescimento?Neste ano os investimentos vão deslanchar. Estamos falando de um PIB que vai crescer 2%, 3% e a produção do petróleo, 8,3%. Eu acho que 2014 vai ser um ano melhor. O PSDB diz que o PT faz campanha usando dados do governo Lula, que eram melhores, escondendo índices ruins de Dilma...Eles vão fazer campanha eleitoral para o Lula? (risos). O mais difícil é Aecinho provar que é melhor. A economia é a grande preocupação da campanha?Todo mundo se preocupa com a economia. Eu calculo que a presidenta Dilma passe metade do tempo dela preocupada com a economia e tratando disso. Mas é o Aécio que vai salvar a nossa economia? O cara vive em Copacabana, na praia, passeando. Tem cara, jeito e fala como playboy. Acorda tarde. O outro candidato é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que teve uma administração exitosa e foi parceiro. Mas vamos ser sinceros: quem alavancou os grandes investimentos de Pernambuco foi o governo federal. A população entende o que é PIB, superávit primário ou está mais interessada no impacto de tudo isso no bolso?O cidadão não entende conceitos macroeconômicos, mas sabe se a economia está indo bem ou mal. E acha que está indo bem. Agora, aquela turma da PUC do Rio, da Casa das Garças (instituto que reúne ex-c0laboradores do governo Fernando Henrique), acha que vai fazer a cabeça das pessoas. Ninguém entende o que eles falam.O senhor dá como certo que haverá dois turnos?Disputa presidencial é difícil e essa eleição vai ser muito dura. Só que nós temos discurso.E o apagão?Que apagão? Não tem apagão não, gente! Eduardo Campos e Marina Silva eram aliados do governo. Ela foi do PT e ministra do Meio Ambiente no governo Lula. Não é uma dupla difícil de enfrentar? Vamos debater com Eduardo, que deve ter Marina de vice. Eu gosto do jeito dele. É um cara que trabalha, né? Pega no batente. Mas tanto ele quanto Aécio são desconhecidos. É claro que Eduardo e Aécio querem ganhar agora, mas também têm um Plano B, que é o de ficar na frente para 2018. Acho que os dois vão se pegar no meio da campanha. O Eduardo vai baixar a borduna no Aécio.O PT prefere Aécio ou Eduardo Campos como adversário num eventual segundo turno? Se Aécio for para o segundo turno, boa parte dos votos do Eduardo vai para a Dilma, porque tem proximidade. Nesse caso, o mais provável é que Eduardo também apoie a Dilma. Ele vai querer apostar no Aécio, que pode ser eleito e reeleito, em 2018?

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