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Em pequenos grupos, eleitores de Haddad tentam 'virar voto' nas ruas

Diante de pesquisas desfavoráveis, pequenos grupos de apoiadores de Fernando Haddad (PT) estão indo para ruas e praças para tentar reverter votos nulos e conquistar indecisos

Por Roberta Pennafort
Atualização:

"Se você vai votar nulo, vamos conversar?" Diante de pesquisas desfavoráveis e dos embates inflamados e infrutíferos das redes sociais, pequenos grupos de apoiadores de Fernando Haddad (PT) estão indo para ruas e praças para tentar reverter votos nulos e conquistar indecisos nas eleições 2018. A ideia, que está se espalhando por cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio Grande do Sul, é romper o que eles chamam de "bolha ideológica" e tentar travar conversas olho no olho que mostrem bons projetos do candidato petista em relação ao rival, Jair Bolsonaro (PSL).

Grupo de apoiadores de Haddad conversa com eleitores na zona sul do Rio. A ideia é tentarreverter os votos nulos e conquistar indecisos. Foto: Fabio Motta/Estadão

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No Rio, a jornalista Maria Eduarda Mattar, de 38 anos, deu o ponto de partida no Largo do Machado, na zona sul da capital, no feriado do dia 12 de outubro. Com quatro amigos, levou uma placa que oferecia escuta atenta a quem planeja anular o voto. Chegando lá, encontrou um casal que fazia o mesmo, e exibia um cartaz com os dizeres: "Em dúvida sobre o segundo turno?" Durante 1h30, Maria Eduarda e os amigos mostraram vídeos e tiraram dúvidas sobre falas de Bolsonaro referindo-se pejorativamente a negros e pessoas LGBT.

"Eu estava cansada de ver o discurso belicoso crescer nas redes sociais. Falar olho no olho e usar bons argumentos é algo que faz muita diferença. Fiquei muito tempo com cada um e acho que convenci três pessoas", acredita a jornalista, que trabalha com projetos sociais. "O 'nós e eles' não está dando certo. Percebi que muitas pessoas não sabem que o Bolsonaro já falou coisas tão radicais". A jornalista compartilhou sua experiência no Facebook e viu sua iniciativa se disseminar. Ela também esteve no movimentado Largo da Carioca, no centro. "Dá para virar. Se cada um de nós que votou contra o Bolsonaro conseguir virar um voto, a gente dobra o número. Sigo nessa esperança", disse a jornalista Daniela Muzi, de 38 anos, do mesmo grupo, animada, durante ação na semana passada. "Não há mais espaço para o diálogo. Meu lado é o da democracia". Em Porto Alegre, a psicóloga Helen Barbosa, de 37 anos, também aderiu e foi para o Parque da Redenção. "Vi o post no Facebook e resolvi fazer o mesmo porque queremos o acolhimento. Não temos a lógica da panfletagem. As pessoas estão sendo engolidas pelas fake news", justificou Helen. A arquiteta Ana Cosentino, de 32 anos, de Belo Horizonte, e amigos estiveram numa feira de artesanato com o mesmo objetivo. "As pessoas querem ser ouvidas. A maioria se informa através do WhatsApp. Focamos no risco que o Bolsonaro traz, a possibilidade de perda de direitos e o armamento da população." Os grupos se sentem motivados pelo fato de a abstenção no primeiro turno ter sido recorde - quase 30 milhões de pessoas no País, ou 20,3% do eleitorado, o maior índice desde 1998 - e de os votos nulos e brancos terem somado 8,79%; por sua vez, os resultados das pesquisas eleitorais, que mostram manutenção da vantagem de Bolsonaro, não os tiram das ruas, garantiu o pedagogo Rodrigo Vinco, de 30 anos, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele está na organização de um conjunto de 50 pessoas que ocupou o calçadão comercial da cidade com a mesma abordagem. "A grande maioria é de professores. Usamos a paciência que temos no nosso dia a dia com alunos. Muita gente deixou de ir votar no primeiro turno. Temos que mostrar que os mandatos do Bolsonaro como deputado não representam as mudanças que ele promete, e expor as realizações do Haddad como prefeito de São Paulo. Esse movimento é totalmente espontâneo e é contra a epidemia de fake news", esclareceu. No Instagram, o perfil "Vira Voto", com mais de 250 mil seguidores, reúne histórias bem-sucedidas de votos novos a Haddad, em banquinhas que oferecem fatias de bolo e brigadeiro, em conversas em botecos, em corridas de Uber e até em ligações com atendentes de operadoras de telefonia. 

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