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Em carta, funcionário pede contrato de R$ 1,5 milhão

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Por Redação
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A carta a que se refere Massimo Giavina data de 4 de dezembro de 2002. É dirigida à Siemens, aos cuidados do delator do cartel, Everton Rheinheimer. Nela, em tom misterioso, o funcionário da Temoinsa Maurício Memória solicita a Rheinheimer que lhe envie um contrato de R$ 1,5 milhão. Giavina sugere que se tratava de propina.Dois e-mails relacionados à carta constam de documentação em posse do Cade. O primeiro, de 28 de outubro de 2002, é de Álvaro Colomer, da Temoinsa, para Rheinheimer. Colomer tratava de uma proposta referente ao interesse da Temoinsa em participar da reforma dos trens da série 2100 da CPTM - um dos projetos denunciados pela Siemens. Ele falava no pagamento de "comissão" a Rheinheimer. "A Temoinsa ofereceu a você em Madrid em relação ao contrato de 48 trens da série 2100: a) pagamento, pelo Maurício Memória (da comissão dele), de um total de R$ 1 milhão líquido, isto é, todos os impostos pagos por ele ou pela empresa dele; b) Pagamento pela Temoinsa Brasil/Espanha, de um total de R$ 1,5 milhão; c) os dois pagamentos a serem feitos de acordo com um calendário de pagamentos do contrato (60 meses) e obviamente ajustados de acordo com a fórmula de ajuste de preços do contrato."Um mês depois, em 29 de novembro - cinco dias antes da carta enviada por Memória - Rheinheimer responde o e-mail de Colomer. "Decidimos aceitar sua oferta confirmada abaixo (referente à série 2100) e enviaremos nos próximos dias um esboço do contrato a ser assinado entre nossas empresas."Não está claro por qual motivo Rheinheimer negociava o subfornecimento de um contrato que fora assinado três meses antes, em 28 de agosto, entre a CPTM e um consórcio formado pela Alstom e pela CAF, nem tampouco porque seria destinatário de uma "comissão". Há uma divergência entre o que diz o Cade e o que diz a promotoria em relação à subcontratação no projeto da série 2100. No acordo de leniência firmado com a Siemens, o Cade diz que "o contrato do projeto S2100 foi adjudicado ao consórcio Consmac (Alstom e CAF), que contratou a Bombardier, a Temoinsa e a Mitsui como subfornecedores".O promotor Marcelo Mendroni, autor de denúncias contra executivos do cartel, afirmou haver "equívoco" do Cade pois, segundo ele, as empresas subcontratadas foram a Tejofran e a T'Trans. A CPTM informou que a Temoinsa não foi subcontratada para reformar nenhuma das séries licitadas. O escritório Cordeiro Lima Advogados, que representa a Temoinsa, informou que está preparando a defesa e que ficará comprovada a idoneidade da empresa. Sobre a carta de Memória, os defensores anotaram que só irão se manifestar "no momento oportuno".A Siemens afirmou que Rheinheimer "se desligou da empresa por decisão própria". Mas não respondeu se tinha por praxe cobrar comissão de fornecedores, nem se tinha ciência da carta de Memória. A advogada de Rheinheimer, Sylvia Urquiza, reagiu taxativamente à suspeita lançada por Massimo Giavina. Ela afirmou que a carta reflete "entendimentos comerciais entre as empresas" e que "a comissão ali mencionada seria devida à Siemens, e não ao Everton". "O contrato citado nunca chegou a ser assinado", disse. Sylvia desmontou a tese do empresário da T'Trans de que Rheinheimer teria sido demitido por causa da carta. "A carta data de 2002, Everton deixou a empresa apenas em 2007, em virtude de decisão pessoal, uma vez que, findo seu contrato de trabalho, decidiu não retornar para a matriz alemã pela qual era contratado"./ F.M. e F.G.

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