Doação da Gerdau ao PSOL abre debate ideológico na esquerda

Por SINARA SANDRI
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Os 100 mil reais doados pela empresa Gerdau à campanha de Luciana Genro (PSOL) à prefeitura de Porto Alegre abriu uma batalha ideológica entre integrantes de partidos de esquerda. "Recebemos (o dinheiro) e já estamos gastando", disse Roberto Robaina, coordenador de campanha e principal assessor de Luciana Genro, à Reuters. Para Robaina, não há qualquer problema em aceitar a doação da Gerdau já que todo o processo teria sido público, legal e sem a imposição de qualquer compromisso de favorecimento da empresa em um suposto governo. "Em Porto Alegre, estamos em uma situação de disputa de massa para tentar ganhar (a eleição). Não é possível ser ingênuo. Para ser socialista, não precisa ser burro e rasgar dinheiro", disse Robaina. A previsão de despesas registrada pelo PSOL junto ao TRE é de 700 mil reais, mas não há expectativa de que este volume de dinheiro seja efetivamente arrecadado. A doação da Gerdau representaria cerca de 15 por cento de todo o orçamento. Contrariando a versão do PSOL de que a Gerdau teria procurado os candidatos à prefeitura para oferecer financiamento, o grupo declarou à Reuters, através de nota, que "apoiou de forma igualitária" doando 100 mil aos "candidatos à Prefeitura de Porto Alegre que procuraram a empresa." "Se todas as empresas tivessem essa política (doar o mesmo valor), a campanha eleitoral seria muito diferente", disse Robaina. ORIGEM DA CORRUPÇÃO A questão se transformou em disputa ideológica já que o financiamento de campanha é apontado como origem das práticas de corrupção e vem sendo criticado por políticos de esquerda. No caso de Luciana Genro, a doação já serve como combustível para seus adversários. "A Luciana era vista como alguém que não se entregava (aos interesses econômicos). Infelizmente, ela aceitou o financiamento da Gerdau", disse Fernando Correa, assessor de imprensa do PSTU em Porto Alegre. Foi o PSTU que veiculou, em caráter de denúncia, a informação sobre a doação da Gerdau durante o horário eleitoral da última quarta-feira. O partido está coligado com o PCB e apresenta Vera Guasso como candidata à prefeitura. "Condenamos porque o financiamento (para campanhas) dos partidos de trabalhadores deve ser feito pelos próprios trabalhadores", disse Correa. Muitos integrantes do PSTU e do PSOL partilham de uma trajetória comum e estiveram juntos em organizações de esquerda que, durante anos, fizeram parte do PT. Foi exatamente esta proximidade que permitiu ao PSTU acompanhar a discussão sobre o assunto entre os adversários. "Após a decisão do diretório municipal (do PSOL), passamos a questionar os militantes deles até o momento em que não tinham mais como negar", disse Correa. As primeiras reações vieram dos próprios integrantes do PSOL, como o deputado federal e candidato a prefeito do Rio, Chico Alencar, que teria considerado um erro aceitar a doação. O debate entre PSTU e PSOL deve constituir uma segunda linha de fogo entre antigos aliados, reproduzindo a batalha travada entre Manuela D'Ávila (PCdoB) e Maria do Rosário (PT) que após o rompimento da tradicional Frente Popular disputam a chance de estar no segundo turno das eleições municipais.

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