Diretório Nacional do PSOL aprova apoio a Lula

Aliança recebeu 35 votos favoráveis e 25 contrários; em discurso, o ex-presidente destacou a 'relação de confiança' com o partido, uma dissidência do PT

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Por Renato Vasconcelos e Natália Santos
Atualização:

O diretório nacional do PSOL oficializou neste sábado, 30, apoio à pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto nas eleições de outubro. Foram 35 votos favoráveis e 25 contrários.

O anúncio foi feito durante uma conferência realizada em um hotel na zona sul de São Paulo que contou com a participação do ex-presidente e reuniu lideranças de partidos de esquerda que formam a frente ampla que apoia a candidatura de Lula.

Abraço entre Guilherme Boulos, Eduardo Suplicy e Lula, durante oficialização de apoio do PSOL ao petista nas eleições de 2022 Foto: Renato Vasconcelos/Estadão

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"A minha relação com o PSOL é uma relação de confiança, é uma relação de agradecimento. Não porque vocês decidiram me apoiar. O meu agradecimento ao PSOL é pelo fato de vocês terem nascido, pelo fato de vocês terem tido a coragem de criar um partido político e terem tido a coragem de enfrentar as adversidades que a política exige da gente", discursou Lula, que foi recebido calorosamente pela militância do partido que nasceu de uma dissidência petista em 2004.

O ex-presidente também agradeceu aos aliados pelo apoio durante o período em que foi alvo da Operação Lava Jato. "Mesmo nos momentos de acusação, vocês não deixaram de ser solidários e acreditaram na minha inocência", afirmou.

Negociações

O movimento do PSOL para apoiar a candidatura de Lula começou em fevereiro, quando a Executiva nacional do partido aprovou a abertura de negociações com o PT e demais partidos de esquerda para a criação de uma aliança eleitoral em 2022. Os partidos chegaram a um acordo no começo desta semana, quando a legenda do ex-presidente acolheu as propostas do PSOL ao programa de governo da pré-candidatura.

"Hoje é um dia que vai marcar a história não só para o PSOL, mas para a esquerda brasileira. Porque hoje é o dia, Lula, que nós fomos capazes de colocar aquilo que nos separa em segundo plano em relação aquilo que nos unifica. Se o Bolsonaro tem um mérito no governo dele é que ele uniu a esquerda e os movimentos sociais brasileiros para enfrentá-lo", disse Guilherme Boulos.

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Oficialmente, a decisão deste sábado garante apenas o apoio à candidatura de Lula em outubro. A decisão sobre uma participação de parlamentares psolistas em um eventual governo, no entanto, ficou para dezembro - o que foi apontado de forma sutil pelo presidente nacional da sigla, Juliano Medeiros, que enfatizou que a decisão foi tomada sem a espera por uma contrapartida ou cargos.

"Estamos felizes e esperançosos com essa decisão. Na semana que vem já iniciaremos as conversas para participar do conselho político da campanha e da coordenação do programa de governo", disse.

Para além do apoio à disputa do Planalto, no entanto, outros movimentos podem ser notados no entorno. O próprio Boulos, que disputou a Presidência em 2018 e era pré-candidato pelo PSOL ao governo de São Paulo, desistiu da corrida em março para apoiar o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e ajudar na construção da aliança nacional. "Política se faz com gestos. Nós temos um gesto importante para fortalecer a unidade da esquerda, dos progressistas, em São Paulo e no Brasil", justificou à época.

O apoio a Lula representa uma mudança histórica no PSOL, que pela primeira vez não terá uma candidatura própria à Presidência. A decisão não veio, no entanto, sem resistência - conforme mostra a diferença de dez votos no placar.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Vereador do Rio de Janeiro e quadro histórico do partido, Chico Alencar declarou que votou a favor do apoio a Lula por considerar a melhor forma, dentro da conjuntura atual, de enfrentamento ao bolsonarismo, e negou que a decisão diminua de alguma forma os planos do PSOL. "A gente compreende no papel como um polo à esquerda da coligação ampla que o Lula está montando. Não vamos ser um aliado submisso, subjugado. Vamos afirmar a nossa identidade", disse.

Além de PSOL e PT, a conferência também reuniu representantes de PV, PCdoB e Rede, delineando a frente que se forma à esquerda para as eleições presidenciais. A coalizão, porém, ainda deve crescer, de acordo com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). "Não tem limite para aliança. Este ano não é uma eleição comum. Nós estaremos diante de um plebiscito", afirmou o líder da Rede, que também anunciou apoio a Lula nessa semana. "Nós estamos diante de um cara (Bolsonaro) que não reconhecerá o resultado das eleições. Estamos diante de um cara que incita as Forças Armadas para corromper as eleições e corromper o resultado das eleições. Não estamos numa situação qualquer. Nós estamos na maior encruzilhada histórica que este povo já viveu", afirmou.

Fator Alckmin

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Apontado como um dos pontos de resistência entra a militância, a posição de Geraldo Alckmin (PSB) como vice na chapa de Lula ainda é vista com ressalvas. "O Alckmin a gente tem que engolir, né? A gente, na medida que apoia o Lula, vem com tudo", disse Chico Alencar. E completou: "Foi uma decisão do PT. Nós não temos nada a ver com isso. Não seremos mal criados, mas vamos trabalhar que a visão do Alckmin não prevaleça do ponto de vista programático."

Fernando Haddad minimizou as discordâncias internas na votação do PSOL e defendeu a presença do ex-tucano na chapa presidencial. "O fato inédito de que todo campo progressista está alinhado na mesma perspectiva de derrotar a extrema direita é muito importante para o País. Eu acho que a vinda do Alckmin nesse contexto amplia ainda mais e coloca a tarefa de derrotar o extremismo no País na ordem do dia e eu espero que essa orientação seja seguida por todos os democratas", disse."O PT também passou por uma votação agora há pouco sobre a aliança com o PSB e não foi unânime, então isso é natural. Vamos exigir do PSOL uma coisa que nós não temos?"

Ataques a Bolsonaro e Moro

Recebido aos gritos de "Olê, olá, Lula" e "fora Bolsonaro", o ex-presidente aproveitou o momento com a militância para atacar alguns desafetos como o próprio presidente Jair Bolsonaro e o ex-juiz federal Sérgio Moro.

Lula voltou a chamar Bolsonaro de "fariseu", assim como fez em evento da Rede. "Evangélico? Olha a cara dele! Esse cara é cristão? Ele é fariseu! Não tem nada a ver com Deus. É um pecador da pior espécie", disse.

Sobre Moro, Lula mencionou a decisão da ONU que reconheceu que o suas garantias foram violadas durante a operação Lava Jato. "Hoje eu estou feliz porque o Moro. Eu nem sei o que ele esta fazendo. Mas tem aquele ditado que a gente aprende com a mãe da gente: 'O que a gente faz na terra a gente vai pagar aqui na terra'. Ele vai pagar por tentar manobrar a sociedade brasileira."

PSOL e Rede

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O PSOL oficializou a formação de federação partidária com a Rede  em 30 de março. No início desse mesmo mês, a Rede já havia aprovado, por unanimidade, a unificação, com declarações favoráveis de Randolfe, da ex-ministra Marina Silva e da ex-senadora Heloísa Helena, principais lideranças da legenda.

Após definir a federação, a Rede e o PSOL acordaram que seus filiados estarão liberados para apoiar candidatos diferentes na disputa pelo Palácio do Planalto. Esse acerto, porém, é informal e não vai constar no estatuto da federação.

Nesta semana, integrantes da Rede organizaram um evento para declarar apoio a Lula, mas sem a participação de Marina e de Heloísa Helena. Ambas já foram filiadas ao PT.