Dirceu adapta negócios à realidade da prisão

Ex-superconsultor põe à venda imóvel onde atendia empresas no Ibirapuera e reorganiza equipe para nova rotina em Brasília

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Por Pedro Venceslau
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Já condenado a 7 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa e aguardando o julgamento de embargo infringente sobre formação de quadrilha em 2014 - que pode levar a pena a mais de 10 anos - o ex-ministro José Dirceu pretende manter uma estrutura modesta de apoio político e profissional no período de cumprimento da pena. Sua principal base operacional, uma casa de cerca de 500 m² em São Paulo, na Avenida República do Líbano, a 300 metros do Parque do Ibirapuera, foi colocada à venda, com opção de ser locada. É no local - comprado em 2009, quando o ex-poderoso chefe da Casa Civil de Lula vivia o auge de sua carreira de consultor, com uma carteira de 15 clientes - que ainda funciona a J.D Assessoria e Consultoria. Segundo corretores consultados pelo Estado, o imóvel vale pelo menos R$ 5 milhões. Dirceu teria pago, segundo se divulgou em 2012, R$ 1,6 milhão. Pessoas próximas ao petista contam que o irmão e sócio dele, Luís Eduardo de Oliveira e Silva, conclui o atendimento dos últimos contratos que ainda estão em vigor. Também é Luís Eduardo quem está pagando as contas e cuidando da manutenção da casa do ex-ministro em Vinhedo, no interior paulista. Novos negócios não estão sendo prospectados. Dirceu esperava que sua prisão, ocorrida há uma semana, só fosse decretada no ano que vem, por isso não tinha terminado de formatar sua nova estrutura. Mesmo assim, a equipe de apoio da J.D - um jornalista que respondia pela agenda, uma secretária e um segurança - já havia sido dispensada. "O Zé articulou trabalho para todos eles em outros lugares", diz, reservadamente, um amigo do ex-ministro. Hoje, só uma recepcionista atende no escritório, que nos bons tempos já teve 15 funcionários. Enquanto cumprir sua pena em regime semiaberto, no qual é permitido sair de dia para trabalhar, Dirceu deverá contar com apenas quatro funcionários remunerados em sua assessoria. O jornalista Ednilson Machado continua responsável pela assessoria de imprensa, tendo apoio de outras duas jornalistas para editar o blog. São elas, aliás, que estão atualizando a página de Dirceu enquanto ele está detido. Assessora política do ex-ministro, a historiadora Maria Alice Vieira pretende continuar viajando pelo Brasil e articulando o apoio de entidades e personalidades à campanha de "denúncia" contra o julgamento. Ao Estado ela revelou que ainda está vinculada profissionalmente a Dirceu, mas se tornará voluntária se for necessário. "A rede de apoio voluntário ao Zé quintuplicou. As pessoas estão se organizando espontaneamente", afirma. Voluntários. A linha de frente dos "apoiadores" de Dirceu conta com dois voluntários que cuidam, entre outras coisas, dos contatos políticos e do meio campo com o PT: o jornalista Breno Altman e o advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do setor jurídico do PT. "O José Dirceu continuará sendo uma das pessoas mais influentes da política brasileira. Esse episódio não é o último nem o mais importante capítulo da vida dele", diz Carvalho. Para poder usufruir do regime semiaberto, Dirceu precisa comprovar à Justiça que tem um emprego fixo. Como sua opção foi por permanecer em Brasília para ficar perto da filha Maria Antonia e do filho Zeca, que é deputado, sua estrutura será transferida para a capital federal. Dirceu chegou a articular com o advogado Hélio Madalena, um antigo amigo, para ser contratado. A conversa, no entanto, não avançou. A tendência é que o ex-ministro leve para Brasília o escritório da J.D, no qual poderia ter encontros políticos e algum conforto antes de retornar para dormir na prisão.

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