Dinheiro pagou festa do PT, disse Freud a comissão

Essa foi a justificativa dada em 2010 por ex-assessor de Lula para depósito da SMPB em conta de empresa

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Por Redação
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O ex-assessor da Presidência Freud Godoy afirmou em junho de 2010 que os R$ 98,5 mil que recebeu de uma empresa de Marcos Valério em janeiro de 2003 se destinavam a pagar serviços de segurança que prestou ao PT no final de 2002. Valério disse à Procuradoria-Geral da República que repassou a uma empresa de Freud cerca de R$ 100 mil, no início de 2003, para pagar gastos pessoais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Freud disse oficialmente, dois anos atrás, que os serviços foram prestados em eventos que o partido promoveu para comemorar a primeira vitória de Lula nas urnas, em outubro do ano anterior."Nos meses de novembro e dezembro houve vários eventos de comemoração que o Partido dos Trabalhadores fez, e quando chegou em janeiro, tínhamos um saldo, um valor para receber, que estava em atraso do Partido dos Trabalhadores", relatou ele à CPI da Bancoop, que funcionou na Assembleia Legislativa de São Paulo na última legislatura. "Foi pedido que essa empresa SMPB pagasse à Caso Sistema de Segurança. A Caso foi paga pela SMPB, pelos eventos que foram feitos na época", afirmou à época.A Caso Sistema de Segurança é uma empresa de vigilância de propriedade da mulher de Freud, Simone, e do cunhado, Kleber, mas na prática é comandada pelo ex-assessor de Lula. A SMPB, por sua vez, é uma das agências de publicidade de Valério que compuseram o valerioduto e irrigaram o mensalão. No depoimento à CPI, Freud reconheceu que não trabalhou para a agência de publicidade de Valério. "Não prestamos serviço à empresa dele diretamente", sustentou. Não foi, contudo, indagado pelos deputados estaduais por que recebera da agência de publicidade, e não diretamente do PT, a quem prestara o serviço. Tampouco deu detalhes.O ex-assessor também não foi questionado sobre os motivos de ter sido uma outra empresa chamada Caso, também de sua propriedade, a receber pelos trabalhos de segurança, e não a própria empresa que em tese prestou o serviço: o depósito foi creditado na conta da Caso Comércio e Serviços, de propriedade de Freud e também e sua mulher.A empresa, segundo Freud declarou à CPI da Bancoop, é de pequeno porte e tentava entrar no "ramo de clubes", para trabalhar com limpeza de piscinas. "Era uma outra empresinha que a gente tinha, que era Caso Comércio de Serviço. A gente estava criando para entrar no ramo de clubes, porque a gente estava tomando conta de um clube na época, e ia tentar trabalhar com produto químico, piscina e tal."Foi então questionado pelo deputado Bruno Covas (PSDB): "Uma empresa de produto químico, de piscina, prestou serviço de segurança na campanha?". Freud respondeu: "Sim", e confirmou que o trabalho foi feito "de forma irregular", porque nenhuma das duas empresas estava habilitada pela Polícia Federal para oferecer serviços de segurança, uma exigência legal.A Caso Comércio e Serviços foi fundada em 1998 e ainda está ativa. Tem capital social de R$ 10 mil e Freud como sócio majoritário. Ela fica em um apartamento em um prédio no bairro do Paraíso, zona Sul de São Paulo. O depósito destinado a Freud foi identificado em 2005 pela CPI dos Correios, mas só veio à tona depois que o então assessor de Lula se tornou conhecido, quando foi envolvido no chamado "escândalo dos aloprados". Ele foi acusado de ter ordenado a compra de um dossiê contra tucanos que seria usado nas eleições de 2006. Contudo, nunca foi indiciado, nem pela PF, nem pela CPI dos Sanguessugas.Freud não estava na empresa ontem à tarde e não respondeu os recados nem o e-mail encaminhado pela reportagem. Anteontem, ele negou à TV Globo que tenha recebido R$ 100 mil de Marcos Valério: "Não tem nenhum dinheiro na minha conta nem na conta do presidente". Ele afirmou que iria processar o empresário pelas declarações dadas ao Ministério Público. "Quero ver ele provar isso", disse o ex-assessor de Lula. / FERNANDO GALLO e FAUSTO MACEDO

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