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Dilma tenta desfazer mal-estar com Mantega após 'demissão'

Embora o próprio titular da Fazenda já tenha dito várias vezes, em conversas reservadas, que não permanecerá no cargo se a presidente for reeleita, ele ficou magoado com a declaração

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Por Tania Monteiro , Vera Rosa e Adriana Fernandes
Atualização:
Mantega evitou nesta sexta os jornalistas e entrou com o carro oficial pela garagem do Ministério, uma prática pouco habitual Foto: Clayton de Souza/Estadão

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff tentou nesta sexta-feira, 5, desfazer o mal-estar com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por ter admitido que ele não ficará em eventual segundo mandato. Antes de chegar a Brasília no fim da tarde, após cancelar uma agenda de campanha em Laguna (SC), Dilma pediu a dois ministros que conversassem com o titular da Fazenda. Embora o próprio Mantega já tenha dito várias vezes, em conversas reservadas, que não permanecerá no cargo se a presidente for reeleita, ele ficou magoado ao saber da entrevista dada por Dilma, na quinta-feira, em Fortaleza. Na ocasião, a presidente não deixou dúvida sobre a substituição do auxiliar em eventual segundo mandato.

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Mantega evitou nesta sexta os jornalistas e entrou com o carro oficial pela garagem do Ministério, uma prática pouco habitual. Emissários do Palácio do Planalto que conversaram com ele por determinação de Dilma garantiram que a presidente apenas fez uma declaração genérica, com o mesmo teor da véspera, sobre “renovação de governo e de equipe”, após evento de campanha em Fortaleza, sem se referir especificamente a qualquer ministro.

“Eleição nova, governo novo, equipe nova”, afirmou Dilma em Fortaleza, ao responder a perguntas de repórteres sobre o futuro de Mantega. Há quase três meses o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem recomendado a Dilma que ela diga “claramente” o que vai fazer com a economia. Até agora, a candidata à reeleição havia resistido a sinalizar para novos rumos na economia, mas cedeu à pressão após o crescimento da adversária Marina Silva (PSB).

Desconforto. A "demissão" antecipada do titular da Fazenda provocou nesta sexta desconforto na equipe econômica, que, nos últimos dias, teve de lidar com o quadro de recessão técnica do País. A indicação de Dilma de que vai renovar o time num eventual segundo mandato acabou expondo até mesmo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e a diretoria da instituição, deixando toda a equipe mais fragilizada para defender a política econômica dos ataques dos adversários do PT na campanha. Tombini sempre foi um dos nomes mais citados para ocupar o cargo de Mantega em caso de reeleição.

Foi recorrente no Ministério da Fazenda a lembrança de que a própria presidente conduziu com mão de ferro a diretriz da política econômica desde o início de seu governo, em 2011. Dilma deixou pouco espaço para discordâncias, principalmente em relação às sucessivas desonerações de tributos e ampliação dos subsídios governamentais para diversos setores.

Uma das principais críticas a Mantega, feitas por técnicos do ministério, é justamente a de que ele nunca conseguiu ser "o ministro do não", ônus que muitas vezes cabe ao titular do cargo. A percepção dos técnicos de escalões mais altos da área econômica é de que a presidente não precisava expor a sua equipe neste momento de ataques mais fortes de Marina Silva, hoje a principal adversária de Dilma. Marina aproveitou a deixa e criticou a declaração de Dilma ao dizer que o movimento de mudança da equipe "pode ter vindo tarde".

Sinais. A questão agora, como destacou um integrante da equipe econômica, é saber se o sinal dado pela presidente vale também para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que ainda mantém força e prestígio no governo, embora já tenha sido criticado publicamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Novo na equipe e à frente da interlocução do governo com o mercado nas negociações sobre o desenho de financiamento nas concessões, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, continua com chances de ocupar um cargo na equipe econômica de um segundo mandato da presidente.

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