
25 de setembro de 2014 | 20h36
Nova York - O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, negou nesta quinta-feira, 25, que a presidente Dilma Rousseff tenha proposto um diálogo com terroristas para resolver a questão do Estado Islâmico. De acordo com Figueiredo, a presidente defende um diálogo no âmbito da "comunidade internacional" para tratar da delicada situação que se agrava na Síria e no Iraque.
Nesta quarta-feira, 24, após discursar na abertura da 69.ª Assembleia-Geral da ONU, Dilma questionou a eficácia de uma ofensiva militar para conter o Estado Islâmico, ao falar com jornalistas. "Gente, vocês acreditam que bombardear o Isis (Islamic State, na sigla em inglês) resolve o problema? Porque se resolvesse, eu acho que estaria resolvido no Iraque. A gente querer simplesmente bombardear o Isis, dizer que você resolve porque o diálogo não dá. Eu acho que não dá, também, só o bombardeio, porque o bombardeio não leva a consequências de paz", disse Dilma na ocasião. "O melhor caminho para se construir a paz será sempre o diálogo e a diplomacia."
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou nesta quinta-feira Dilma de ter proposto diálogo "com um grupo que está decapitando pessoas". "Essa não é a política externa do Brasil", criticou. Para o chanceler brasileiro, houve uma "grande confusão" na interpretação da fala de Dilma.
"Você tem de ter um diálogo na comunidade internacional para resolver essas questões. Diálogo com a comunidade internacional é exatamente o que é uma solução política, não militar, e isso é dentro sempre das melhores tradições da política externa brasileira, até porque a gente sabe que não há solução militar para isso", comentou Figueiredo, em coletiva de imprensa em Nova York.
Questionado se a presidente não estaria apoiando um diálogo com o grupo terrorista, como acusou Aécio, o ministro respondeu: "Não foi isso que ela disse. Não foi isso. Ela não disse isso".
Campanha. Sobre o discurso de Dilma na abertura da 69.ª Assembleia-Geral da ONU, que enfocou as conquistas sociais da sua administração e do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), Figueiredo afirmou que ela fez um "discurso de estadista, de presidente da República, no padrão que tem sido ao longo dos últimos anos".
O tom do discurso da presidente, no entanto, contrastou com o de participações passadas. Em 2011, Dilma defendeu a quebra de patente de drogas para diabete e hipertensão; em 2012, criticou uma solução militar na Síria e adoção de "políticas fiscais ortodoxas" em nações desenvolvidas no enfrentamento da crise; em 2013, atacou a espionagem do governo norte-americano.
Bilateral. Na manhã desta quinta-feira, Figueiredo participou de uma reunião ministerial do G-4, grupo formado por Brasil, Alemanha, Japão e Índia, que divulgou uma declaração reiterando a defesa por uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Nesta sexta-feira, o ministro terá uma agenda bilateral com o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry. Indagado se a conversa poderia tratar de uma remarcação da visita oficial de Dilma aos EUA, cancelada ano passado após as revelações de um esquema de espionagem por parte do governo norte-americano, o ministro alegou que "esse é um tema entre os presidentes". "A minha agenda com o Kerry é uma outra agenda, é uma agenda de ONU, uma agenda de questões normais do relacionamento bilateral", disse Figueiredo.
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