A presidente Dilma Rousseff disse que não vai acabar com o fator previdenciário se conquistar um segundo mandato nas eleições deste ano, durante entrevista coletiva em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre, nesta sexta-feira, dando a entender que quem está no cargo tem que ter preocupação com a responsabilidade fiscal. Dilma dedicou a tarde ao tema mobilidade urbana fazendo pequena viagem entre as estações Santo Afonso e Fenac a bordo do trem metropolitano da Grande Porto Alegre e visitando o aeromóvel, que liga ao aeroporto Salgado Filho a outra estação do mesmo sistema, na capital gaúcha. À noite, a agenda previa participação em comício com o candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), que também busca a reeleição. Na quinta-feira, também em Porto Alegre, o candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, Beto Albuquerque (PSB), havia acusado as candidaturas de Dilma e Aécio de serem "sócias do fator previdenciário" por não terem propostas para alterar "o quadro de penúria do aposentado brasileiro". Questionada por um jornalista, Dilma respondeu que não acabará com o fator previdenciário e depois passou às ponderações. "Não avaliei essa questão", informou. Na sequência, alegou que qualquer mudança na Previdência deve levar em conta o envelhecimento da população. "Sem isso, alguém falar 'vou acabar ou não vou acabar com o fator previdenciário' é uma temeridade", justificou. "Acho que quem falar que vai acabar tem que explicar como é que paga; um presidente da República tem a obrigação e a responsabilidade de explicar para a população que não está fazendo demagogia". INFLAÇÃO E PROGRAMAS SOCIAIS Ao mesmo tempo, Dilma tratou de garantir a manutenção dos programas sociais e das metas de inflação atuais. "É impossível você falar 'vou reduzir a meta da inflação' e não explicar o que faz com os programas sociais", comentou. "(Se) alguém falar 'vou reduzir a meta da inflação' no dia seguinte tem que cortar programa social", previu, afirmando que, de outra forma a equação não fecharia. DESEMPREGO E TARIFAÇO A presidente também foi lembrada de que a geração de empregos de julho, com saldo positivo de 11,8 mil vagas, foi a pior dos últimos 15 anos, e repetiu que somente na gestão atual foram criados 5,4 milhões de postos de trabalho, enquanto no mundo eram fechadas 60 milhões, graças à decisão que o governo tomou de não enfrentar a crise internacional pelas fórmulas recessivas tradicionais. No mesmo raciocínio, tratou de alfinetar os adversários políticos. "Antes, quando a crise batia, o real enfraquecia, havia aceleração do valor do dólar, (isso) provocava inflação, vinha o tarifaço que eles estão pregando", comparou. "Porque o modelo é sempre o mesmo, aí vinha o tarifaço, aumento de impostos, desemprego, arrocho salarial", emendou. "Nós não combatemos assim". EMPREGO, USO ELEITORAL E NOTICIÁRIO NEGATIVO Dilma afirmou que é óbvio que depois de um período inicial, "quando saímos do desemprego e começamos a crescer", a velocidade de geração de vagas caia porque há uma tendência ao equilíbrio. "Não há situação de desemprego", reiterou, referindo-se aos números ainda favoráveis, "mas é óbvio que tem uso eleitoral dos processos de flutuação". Ao voltar à questão eleitoral, a presidente reclamou do que seria a ênfase no noticiário negativo. "Quando é para cima ninguém anuncia muito, não; quando a inflação começou a cair eu não vi na primeira página do jornal 'a inflação está caindo'", destacou. "Por isso eu vou usar o meu período eleitoral para esclarecer a população", prometeu. DILMA JUSTIFICA AGENDA CASADA E DIZ QUE VAI FALAR DO QUE FEZ Ao justificar a série de viagens que fez nesta semana, típicos de campanha eleitoral, Dilma sustentou que está supervisionado e vistoriando obras. "Eu olho hidrelétrica e, além disso, participo de todos os atos de governo", afirmou, dando graças pela "época bendita" que vivemos, em que a tecnologia permite ações a distância. "Você acompanha tudo o que quiser em tempo real, então você passa a ser múltiplo, ao mesmo tempo em que está fazendo uma coisa, está fazendo outra", disse, justificando as agendas de campanha e de presidente. No mesmo discurso de usar a campanha eleitoral para mostrar o que o governo fez, Dilma aproveitou metade do tempo das respostas para falar de programas e obras, como o Pronatec, o crédito educativo, a transposição do rio São Francisco e a construção de hidrelétricas, entre outros. Em alguns momentos, chegou a questionar o conhecimento dos jornalistas sobre alguns programas e a explicar a construção de cisternas como se estivesse dando uma aula. "O Brasil não sabe que nós fazemos 1 milhão de cisternas, não sabe, por exemplo, que colocamos R$ 180 bilhões em crédito subsidiado para o agronegócio e a agricultura familiar", relatou, admitindo ter "interesse imenso" em falar do que fez como presidente durante a campanha eleitoral por ter "absoluta certeza" de que nem tudo é mostrado à população. "FALTA FAZER MUITA COISA" "Estranho seria se eu falasse 'não, não vou falar do que eu fiz', aí vocês iam olhar para mim com surpresa e questionar 'a troco de que não quer falar do que fez, tá escondendo o que?'", destacou. "Eu quero falar de tudo o que fiz e inclusive das coisas que ainda falta fazer, porque falta muita coisa", reconheceu, para, em seguida, voltar a cutucar os concorrentes, sustentando que só quem faz também sabe o que falta fazer.