Dilma injeta R$ 3 bilhões no Estado de Campos e cobra 'aliado comprometido'

Sucessão de 2014. No mesmo palanque que o governador de Pernambuco, que cogita disputar a Presidência e abandonar parceria com o PT, presidente afirma que 'forças políticas sozinhas' não governam; Campos enfatiza importância de tratamento 'republicano'

PUBLICIDADE

Por Bruno Boghossian e SERRA TALHADA (PE)
Atualização:

A presidente Dilma Rousseff aproveitou a visita a Pernambuco ontem para mandar recados ao governador Eduardo Campos (PSB), que aspira concorrer à Presidência em 2014, e cobrou comprometimento e lealdade de seus aliados com o atual projeto federal de desenvolvimento. Depois de anunciar investimentos federais de R$ 3,1 bilhões no Estado e no mesmo palanque que o governador, a presidente disse que "nenhuma força política sozinha" consegue dirigir o País."O Brasil vai continuar numa trajetória de estabilidade e de controle da inflação, mas de crescimento(...) Nós vamos, cada vez mais, provar que o País só será um país forte, um país desenvolvido se nós tivermos a determinação, a coragem de continuar por esse caminho, e é um caminho deste país complexo (...)Nenhuma força política sozinha é capaz de dirigir um país com esta complexidade. Precisamos de parceiros, precisamos que esses parceiros sejam comprometidos com esse caminho."A presidente, que ao lado de Campos participou da inauguração do trecho de um sistema de abastecimento de água em Serra Talhada, no sertão pernambucano, enfatizou que é impossível governar sem uma coalizão ampla. A última visita de Dilma a Pernambuco havia ocorrido há mais de um ano. O governador é presidente nacional do PSB, partido que tem aliança histórica com o PT, mas a parceria está estremecida desde que ele iniciou uma ofensiva nos bastidores visando a uma candidatura presidencial. Dilma disse abertamente que os Estados dependem de recursos do governo federal para pagar contas e cobrou engajamento dos parceiros. "Não podemos esquecer de onde viemos e não podemos nos esquecer dos compromissos políticos por que lutamos ao longo de nossas vidas. Nós constituímos todo um processo de luta e de mudança, e essa mudança não é uma mudança que está nas estatísticas. Essa mudança que começa em 2003."Cautela. Eduardo Campos fez um discurso cauteloso. Dividido entre a continuidade de uma aliança com o PT ou o desembarque rumo a um projeto próprio, ele agradeceu à presidente pelas parcerias, mas destacou que o governo federal deve manter um tratamento "republicano" a seus adversários."Conheço de perto o fel da discriminação, da arrogância daqueles que, durante muito tempo, não entenderam a importância do diálogo e da democracia. Aqui, há dois governantes que não discriminam por princípio e deixam como legado uma prática política republicana", disse o governador. Campos afirmou ser "um amigo de grandes jornadas" de Dilma. "Aqui a senhora tem um governador, mas também tem um companheiro, e tem um amigo de grandes jornadas", declarou. "Quero agradecer pelas parcerias que temos com o governo federal - muitas que vêm de anos, antes de seu mandato, parcerias iniciadas com um grande brasileiro, o presidente Lula", disse Campos. "Não nos tem faltado o Brasil e não tem faltado apoio político ao governo de Vossa Excelência."O governador pernambucano fez questão de enfatizar avanços anteriores aos governos de Lula e Dilma. "Nesses últimos 30 anos, construímos uma democracia, construímos fundamentos macroeconômicos importantes para um País da dimensão do Brasil e, nos últimos 10 anos, sob a liderança do presidente Lula, vimos essas condições permitirem chegarmos com o governo aonde o governo não chegava antes", disse Campos.O governador, que em declarações recentes faz alertas sobre a economia e mantém contatos até com tucanos - como o ex-governador José Serra -, ouviu outra alfinetada: "Já teve época que país rico era país que não se tratava da questão social, só da questão econômica", disse a petista, referindo-se à gestão do PSDB.Mérito federal. Ao citar avanços de Pernambuco, Dilma salientou o papel do governo federal no desenvolvimento da região, reivindicando o crédito pelo crescimento do Estado. "Pernambuco é um novo Pernambuco. O governador tem um grande papel nisso, sem dúvida, e o governo federal, tanto com Lula quanto na minha gestão, também tem. Todos os investimentos que fizemos em Pernambuco, se você juntar os investimentos federais e feitos pelas nossas estatais, chega a um volume extraordinário de R$ 60 bilhões."Durante o evento, Dilma e sua equipe anunciaram novos investimentos de R$ 3,1 bilhões no Estado, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Desse total R$ 2,8 bilhões (90%) sairão dos cofres federais e R$ 330 milhões serão financiados pelo Estado. Ao anunciar os valores, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) disse que os investimentos "consolidam a parceria entre governo federal e governo estadual".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.