Deputado prometeu emitir notas fiscais a acusado de fraude

Grampos revelam que Roque Barbiere (PTB) também combinou com empreiteiro maquiagem de obra em Birigui

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Foto do author Fausto Macedo
Por Fernando Gallo e Fausto Macedo
Atualização:

Escutas telefônicas da Polícia Federal revelam que o deputado estadual Roque Barbiere (PTB), autor da denúncia, feita em 2011, sobre venda de emendas parlamentares por colegas seus na Assembleia Legislativa de São Paulo, combinou com o empresário Olívio Scamatti - acusado de chefiar a quadrilha que fraudava licitações em prefeituras paulistas - que um assessor seu iria procurá-lo para pegar os dados da construtora para poder emitir notas fiscais a ele. O diálogo não deixa claro a que se refere essa transação, mas para os investigadores mostra o grau de proximidade entre o parlamentar e o empreiteiro que está preso há oito dias.Os documentos indicam que Barbiere foi quem efetuou a ligação, flagrada em 3 de agosto de 2010, às 21h23. O trecho da conversa foi resumido pela polícia: "Olívio pede a Roque que diga a seu assessor ligar para Olívio, para terminarem de organizar aquela situação, pois só está esperando ele mandar os documentos para Olívio. Roque diz que o assessor vai organizar e vai procurar Olívio pessoalmente, que ele vai pedir os dados da empresa para poder emitir as notas. Olívio pede para ele ligar amanhã, para poderem resolver e matar isso. Roque diz que aí já leva as notas feitas".Barbiere também combinou com Olívio a maquiagem de uma obra que a construtora Demop estava fazendo na rodovia SP-461, em Birigui, base eleitoral do petebista. O motivo: uma visita de campanha eleitoral que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), à época candidatos, fariam à cidade do deputado três dias depois do diálogo.As tratativas contradizem o que Barbiere afirmou ao Estado em 10 de abril, quando declarou que o único contato que teve com Scamatti e pessoas relacionadas à Demop foi quando Alckmin já assumira o posto, em 2011. Ele disse que Alckmin mandou revisar os contratos e os empreiteiros ficaram preocupados e o procuraram, razão pela qual ele teria batido à porta da Secretaria dos Transportes.A polícia sustenta que o deputado pediu a Scamatti que "meta o cacete lá no que estiver parado". "Roque liga para Olívio e pergunta se ele está sabendo que o governador e o Aloysio vem a Birigui na sexta-feira. Olívio diz que Não. Roque diz que eles vão chegar uma hora em Araçatuba e vão pegar uma van e se dirigir para Birigui. Roque diz que eles vão dar uma olhada na obra e depois andar no centro de Birigui com eles. Roque diz que gostaria de pedir a Olívio que, mesmo que não possa estar lá, na sexta-feira meta o cacete lá no que estiver parado, ponha máquina, ponha o c.... Olívio diz que pode deixar com ele. Roque diz que já está impressionado, mas que é preciso impressionar eles (governador e Aloysio) também".A Demop venceu a licitação para fazer um dos dois lotes da SP-461. Assinou com o governo do Estado um contrato de R$ 31,5 milhões pela obra.Licença. A assessoria de Barbiere informou que o deputado tirou licença médica de duas semanas e disse que ele estava "incomunicável" e só falaria com a imprensa na próxima semana.Em 10 de abril, ele disse ao Estado que intercedeu em favor da Demop no governo por se tratar da obra "mais importante da história de Birigui", e disse ter sido procurado por Scamatti porque era "o pai político" da duplicação da rodovia. O advogado de Scamatti, Alberto Zacharias Toron, disse que "acredita plenamente que as acusações, uma a uma, serão refutadas".

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