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Denúncia é aceita e 'aloprados' viram réus após seis anos

Grupo é acusado, na Justiça Federal em MT, de amealhar R$ 1,7 milhão para comprar dossiê contra candidaturas Serra e Alckmin em 2006

Por FÁTIMA LESSA e CUIABÁ
Atualização:

Seis anos após o escândalo do dossiê antitucano, o juiz da 7.ª Vara Criminal da Justiça Federal em Mato Grosso, Paulo Cézar Alves Sodré, aceitou denúncia oferecida pela Procuradoria da República no Estado contra os aloprados - seis quadros do núcleo de inteligência do PT que, segundo a Polícia Federal, amealharam R$ 1,7 milhão para adquirir um dossiê com informações falsas sobre o candidato do PSDB nas eleições para o governo de São Paulo, em 2006, José Serra.A denúncia foi apresentada no último dia 14 e descreve a ação do grupo petista. O juiz abriu a ação no dia seguinte, com o argumento de que ficou "demonstrada a existência de materialidade e de indícios de autoria" em "todos os seus termos". Sodré deu prazo de dez dias para que os acusados respondam preliminarmente.São acusados formalmente por formação de quadrilha para a prática de crimes financeiros e lavagem de dinheiro o agente da PF aposentado Gedimar Pereira Passos, o engenheiro Valdebran Carlos Padilha, o ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina Jorge Lorenzetti - amigo e churrasqueiro do ex-presidente Lula -, o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso, o sindicalista Osvaldo Bargas e Hamilton Feitosa Lacerda, coordenador de campanha do então candidato do PT ao governo, Aloizio Mercadante.Conforme o MPF, os acusados "tinham por fim a desestabilização da campanha eleitoral de 2006 ao governo do Estado de São Paulo através de criação de vínculo entre o candidato pelo PSDB à máfia dos sanguessugas e, com isso, favorecer o candidato do PT".O termo "aloprados" foi cunhado pelo próprio ex-presidente Lula para designar os petistas envolvidos no episódio. O grupo foi flagrado pela PF na madrugada de 15 de setembro de 2006 no Hotel Ibis Aeroporto, em São Paulo, de posse da montanha de dinheiro vivo - imagens da pilha de dólares e reais foram exibidas às vésperas das eleições presidenciais por um delegado da PF.O dossiê, supostamente produzido pelo empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin e seu pai, Darci Vedoin - que ficaram de fora da denúncia -, estabelecidos em Cuiabá (MT), não passava de um apanhado de imagens de Serra fazendo entrega de ambulâncias na época em que exercia o cargo de ministro da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso. A sanguessuga era uma máfia de empresários envolvidos em fraudes nas licitações para compra superfaturada das ambulâncias nas prefeituras.Também é acusado Fernando Manoel Ribas Soares, sócio majoritário da Vicatur Casa de Câmbio, situada em Nova Iguaçu (RJ), onde teria sido adquirida parte dos dólares apreendidos. A Procuradoria incluiu na denúncia Sirley da Silva Chaves e Levy Luiz da Silva Filho, que teriam repassado dólares para a organização.Cúpula do PT. "Na esfera nacional, o assunto do dossiê foi delegado ao então chefe do Grupo de Informações do Partido dos Trabalhadores, Jorge Lorenzetti", sustenta a denúncia. "A ligação de Lorenzetti com a cúpula do PT era evidente. Ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina, Lorenzetti havia sido convidado pelo então coordenador da campanha presidencial, Ricardo Berzoini, para trabalhar nas informações de interesse da campanha nacional do PT."Lorenzetti declarou à PF que, em meados de agosto de 2006, "recebeu ligações de Mato Grosso comunicando a existência de informações importantes ligando o então candidato José Serra ao governo de São Paulo ao esquema de corrupção das sanguessugas". Diante disso, "encarregou Gedimar Passos e Expedito Veloso para analisarem os documentos em Cuiabá e encaminharem a negociação com Valdebran para aquisição do dossiê".

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