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'Converso com todo mundo, da esquerda à direita', diz governador

Para Planalto, Eduardo Campos joga pôquer sem mostrar cartas e articula discretamente palanques propondo era 'pós-PT'

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e BRASÍLIA
Atualização:

Eduardo Campos não joga pôquer aberto. É com essa avaliação que o Palácio do Planalto e a cúpula do PT acompanham os movimentos do governador de Pernambuco, o aliado do PSB que pretende desafiar a presidente Dilma Rousseff, em 2014, mas não mostra suas cartas. Em campanha não assumida, Campos planeja se apresentar com o mote do "pós-Dilma" e negocia na surdina apoios para seu palanque.As articulações do governador, que também é presidente do PSB, preocupam o Planalto. Além de assediar partidos da coligação pró-Dilma, como PDT, PTB e PR, Campos transita bem no meio empresarial e entre banqueiros. É amigo do presidente do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e sempre troca figurinha com Armínio Fraga, presidente do Banco Central no segundo mandato do governo Fernando Henrique. "Eu converso com todo mundo, da esquerda à direita", despista o governador, quando questionado sobre sua movimentação. "Não tenho guru", emenda. Quem com ele convive garante que não é bem assim. Desde 2005, Campos não dá um passo sem consultar o marqueteiro argentino Diego Brandy. Foi ele, por exemplo, que apostou na viabilidade de Geraldo Julio (PSB), eleito no ano passado prefeito do Recife em acirrada disputa contra o PT. O governador também tem ouvido conselhos do publicitário Duda Mendonça e do cientista político Antonio Lavareda. Duda foi absolvido no processo do mensalão e quer fazer a campanha de Campos, em 2014.Para sair candidato e enfrentar Dilma, favorita na disputa, o presidente do PSB faz de tudo para engordar o tempo de seu partido na propaganda eleitoral de TV, estimado em 1'54". A meta é atingir o patamar de 4 a 5 minutos. O Planalto também "vigia" as incursões de Campos pelo Nordeste, tanto que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vão reforçar as viagens à região. O governador, que não é conhecido nacionalmente, deu a largada de sua corrida à Presidência justamente no Nordeste, base do PT."O nosso discurso é o do pós-Dilma, pós-PT", diz o deputado Beto Albuquerque (RS), líder do PSB na Câmara. "Uma economia amarrada põe a perder os avanços sociais."Na campanha de 2010, o então candidato José Serra (PSDB) empunhou a bandeira do "pós-Lula". Não deu certo. "Mas nós não somos oposição nem pregamos o rompimento", insiste o líder do PSB. "No nosso partido, até a cubana Yoani Sánchez tem direito de falar, quanto mais nossos filiados. Pode ter certeza de que aqui o Cid Gomes (governador do Ceará), mesmo se manifestando contra o Eduardo, será aplaudido, e não vaiado", provoca ele, numa alusão às vaias recebidas por Cid em Fortaleza, no dia 28, em ato promovido pelo PT.A estratégia do PSB consiste em bater na tecla dos "ciclos" que se concluem. Com esse argumento, Campos reconhecerá conquistas do governo Lula - que integrou como ministro de Ciência e Tecnologia - e da gestão Dilma, mas investirá no discurso desenvolvimentista, criticando a ausência de garantias para investimentos.Na quarta-feira, ele passou seis horas recebendo políticos de vários partidos, em Brasília. Na lista estavam o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM), os prefeitos de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), e de Teresina, Firmino Filho (PSDB), o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) e o senador Sérgio Petecão (PSD-AC). Na sexta, já no Recife, Campos se reuniu com o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT) e, nesta semana, promete ter um tête-à-tête com o senador Aécio Neves (MG), provável candidato do PSDB à Presidência. "Política é como geologia. Às vezes as placas tectônicas têm de se acomodar e podem surgir tremores, mas não dá para confundir isso com tsunami", afirma Déda, que prega o diálogo com Campos. "O PT erra ao cair na armadilha de maltratar aliados de hoje que podem ser adversários amanhã, mas nunca serão inimigos", diz o senador Jorge Viana (PT-AC). / COLABOROU MARIÂNGELA GALLUCCI

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