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Contradição essencial

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Ao contestar a criação da CPI da Petrobrás, em plenário, o senador José Inácio Arruda (PC do B-CE) cobrou à oposição o fato novo que a justificaria, considerando que, dois anos antes, outra CPI já investigara o caso da refinaria de Pasadena.Omitiu o senador, por memória falha ou seletiva, a acusação da presidente Dilma Rousseff de que a diretoria da empresa sonegara ao Conselho dados essenciais da operação que, se conhecidos, levariam à sua rejeição.A acusação da presidente, em resposta a pergunta formulada pelo Estado sobre sua chancela à compra da refinaria, é fato não só novo em relação à primeira investigação parlamentar, como da maior gravidade.A manifestação da presidente estabeleceu uma contradição com a versão da empresa - reiterada ontem pelo ministro da Fazenda Guido Mantega -, de que a operação comercial foi não só legítima como um bom negócio respaldado por consultoria internacional do Citigroup. Como Dilma não refez sua versão , governo e Petrobrás têm narrativas diferentes para o mesmo caso. É essa contradição que inviabiliza a gestão da crise pelo governo e o condena à limitada estratégia de redução de danos.A oposição ganhou espaço e visibilidade sem fazer esforço e ainda capitaliza a agressão à minoria parlamentar configurada na guerra do palácio do Planalto para evitar a CPI. Como demonstra a história recente, mesmo CPIs que tiveram seus resultados limitados por conveniência política suprapartidária - como a que levou o nome do contraventor Carlos Cachoeira -, produziram estragos irreversíveis. Que o diga o governador do Rio, Sérgio Cabral, cuja popularidade despencou a partir dali. Essa imprevisibilidade é que leva governos a impedirem CPIs. A partir de sua discussão, geram vazamentos por interesses contrariados ou por atores do processo que reagem em legítima defesa.Ou por reações de agentes envolvidos nas operações que não se dispõem a pagar solitariamente a conta de esquemas em que tiveram a cumplicidade oficial. Foi o caso do ex-deputado Roberto Jefferson, que acabou na denúncia do mensalão.E que parece ser o caminho escolhido pelo ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, identificado como o agente da fraude a que se refere a presidente Dilma Rousseff. Cerveró não parece ter condições de desmentir a presidente, mas certamente tem elementos para agravar a situação da Petrobrás e de parlamentares com influência política na empresa, É com esse cenário que o governo terá de conviver daqui em diante. A oposição ganhou um palanque, cuja legitimidade foi dada pela presidente da República.

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