Conflito em Salvador ameaça aliança PT-PMDB para 2010 na Bahia

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Por AUGUSTO CESAR BARROCAS
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A aliança política PT-PMDB, que elegeu o petista Jaques Wagner governador da Bahia em 2006 e levou o peemedebista e então deputado federal Geddel Vieira Lima ao Ministério da Integração Nacional, corre o risco de não sobreviver à eleição municipal do próximo dia 5 de outubro. Os dois partidos, que vêm se estranhando há cerca de um ano por conta da disputa pela prefeitura de Salvador, chegaram agora ao radicalismo, com seus respectivos candidatos e dirigentes regionais trocando acusações publicamente. Políticos mais experientes temem que a aliança não chegue à segunda etapa da campanha, como previsto originalmente, e muito menos a 2010. Um deles, que prefere manter-se no anonimato, avalia: "Desse jeito, só Deus sabe o que acontecerá no segundo turno". Nos bastidores da política baiana comenta-se que pelo acordo inicial entre as duas legendas, o PT apoiaria a candidatura de Geddel ao governo do Estado em 2010 e, em troca, o PMDB apoiaria Wagner como candidato à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República. Num cenário mais modesto, em que Wagner tenha que se contentar com a reeleição ao governo da Bahia, Geddel seria o nome para o Senado. ATAQUE OSTENSIVO Candidato à reeleição pelo PMDB e terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o atual prefeito João Henrique passou a utilizar o horário eleitoral gratuito para atacar de forma ostensiva o candidato petista Walter Pinheiro (quarto colocado), a quem acusa de "trair Salvador e o presidente Lula, de não ser digno do governador Wagner e de mentir com interesses eleitoreiros". Exibindo fac-símile de jornais da época, a propaganda peemedebista resgata divergências entre Pinheiro e o Palácio do Planalto na votação da reforma administrativa, no primeiro governo Lula, quando o petista se recusou a votar conforme a orientação de seu partido. Lembra que, por conta disso, Pinheiro teria sido suspenso do PT e que o presidente teria vetado pessoalmente a sua indicação para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, pasta para a qual era cotado. Na época, o episódio provocou também a saída do PT da então senadora Heloísa Helena e a criação de um novo partido, o PSOL. Com esta ofensiva, o PMDB tenta desfazer a imagem que Pinheiro vem construindo ao longo de duas semanas no horário eleitoral, de que ele, Wagner e Lula formam um mesmo time. A direção regional do PT considerou o ataque desleal e já protocolou quatro ações na Justiça Eleitoral, exigindo direito de resposta nos programas do peemedebista. Em outra ofensiva, os programas da candidatura do PMDB deram a entender que, através do ministro Geddel Vieira Lima e de outros oito ministros peemedebistas, o prefeito João Henrique tem acesso direto ao presidente Lula, sem a intermediação do governador baiano. Cada vez mais estão sendo usadas imagens de João Henrique em companhia de Geddel e do presidente Lula, sem a presença de Jaques Wagner. A impressão que fica é que o PMDB partiu para o tudo ou nada. Os ataques aos petistas passaram a ser diários, tanto nos horários gratuitos da tarde e da noite, quanto nas diversas inserções que a coligação realiza ao longo do dia. Até agora Pinheiro não respondeu aos ataques, mas o presidente estadual do PT, Jonas Paulo, qualificou o prefeito João Henrique de "pusilânime", "sem capacidade de liderança" e garantiu que a campanha petista "não vai partir para a baixaria." A ofensiva peemedebista começou logo depois que o instituto Datafolha divulgou pesquisa revelando que Pinheiro subira sete pontos em relação à sondagem anterior (de 6 para 13 por cento), empatando tecnicamente com João Henrique, que caiu 2 pontos e está com 17 por cento. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais. João Henrique está em terceiro lugar e Pinheiro, em quarto.

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