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Como são feitas as pesquisas eleitorais? Entenda

O Ibope Inteligência explica a metodologia usada para levantar as intenções de voto, os protocolos de segurança contra a Covid-19 e por que os resultados podem ser diferentes do pleito real

Por Diego Kerber
Atualização:

Conforme se aproxima o dia das eleições 2020, que acontecerão nos dias 15 de novembro (primeiro turno) e 29 de novembro (segundo turno), mais e mais pesquisas eleitorais, ou pesquisas de intenção de voto, são divulgadas. A sequência dos levantamentos mostra a história da campanha eleitoral, a evolução da opinião pública sobre os candidatos e as tendências de alta ou queda de cada um.

No entanto, nas últimas eleições, algumas pessoas têm questionado a confiabilidade das pesquisas e o método utilizado pelos institutos para entrevistar os eleitores. Além disso, a pandemia do novo coronavírus também levanta uma série de dúvidas sobre como os levantamentos estão sendo feitos e como os entrevistadores estão protegendo tanto a si mesmos quanto aos entrevistados.

Eleições para prefeito e vereador acontecem neste domingo. Foto: Fabio Pozzebom / Agência Brasil

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O Estadão entrou em contato com o Ibope Inteligência para responder às principais perguntas e questionamentos sobre as pesquisas eleitorais, desde a metodologia até o cálculo da margem de erro. Confira abaixo:

Como são feitas as pesquisas eleitorais do Ibope

A primeira coisa a que se deve atentar é que, quando se trata de uma pesquisa eleitoral, sempre é necessário selecionar uma amostra da população. A CEO do Ibope, Márcia Cavallari, explica que uma metodologia “on the book”, em que se determina um local, um domicílio e uma pessoa específica para ser entrevistada diversas vezes, não é adequada para eleições, por mais que, em teoria, seja mais precisa, por ser mais demorada.

“Existe esse outro método que é uma mistura do probabilístico e das cotas proporcionais. Em vez de selecionar uma pessoa específica, eu busco pessoas que preencham aquele perfil do eleitor que eu estou procurando”, explica ela. “Pessoas que moram no mesmo local, com o mesmo tipo de escolaridade e características demográficas, têm uma probabilidade grande de pensarem da mesma forma. É isso que está por de trás da metodologia. Isso dá agilidade.”

Por isso, o Ibope afirma que o mais importante não é tamanho da amostra em si, mas sim a sua representatividade da população que está sendo pesquisada. Ou seja, todos os grupos sociais e regiões geográficas devem ser incluídas na amostra  de forma proporcional à população local. As regiões onde serão feitas as entrevistas são determinadas a partir de seleções probabilísticas e as amostras, a partir de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

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“Nós usamos um método estatístico para a seleção dos locais onde vamos fazer as entrevistas que se chama ‘Probabilidade Proporcional ao Tamanho’. Nós usamos todos os setores censitários do IBGE, mapeados pelo Censo. Esse método garante que haja um bom espalhamento geográfico e que o número de setores que caem em cada distrito seja proporcional ao da população. É como se a amostra já fosse totalmente proporcional na distribuição geográfica também”, explica Márcia.

Para cada setor selecionado, são realizadas sete entrevistas. Os entrevistadores recebem uma folha de amostra com os perfis que precisam ser entrevistados nos setores pelos quais vão passar. Com essas informações, eles batem de porta em porta até completarem todos perfis necessários.

Para as pesquisas de intenção de voto, geralmente são coletados dois dados: a resposta espontânea e a estimulada. Na resposta espontânea, o entrevistado é perguntado sobre em quem pretende votar sem que sejam mostradas quaisquer opções de candidatos. Na resposta estimulada, a pessoa deve escolher um dentre os nomes apresentados.

Como a pandemia afetou a realização das pesquisas eleitorais

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Mesmo com a pandemia de Covid-19 e o isolamento social, a metodologia não sofreu tantas alterações. Márcia conta que a mudança foi com relação aos protocolos de segurança que os entrevistadores agora precisam seguir. “Eles estão usando equipamentos de proteção pessoal, como máscara e luvas, além de álcool em gel e álcool em spray. A cada entrevista eles trocam a máscara e as luvas, enquanto os estímulos (dispositivos para registro) que são usados nas pesquisas estão sendo plastificados para poderem ser higienizados com álcool.”

Ela explica que esse protocolo de segurança foi assinado entre a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) e a Prefeitura de São Paulo para que pudessem ser feitas as pesquisas face a face. No caso de outros municípios, os protocolos são os mesmos, mas o Ibope verifica junto à Secretaria de Saúde local se há alguma medida a mais para seguir. “Em geral esse protocolo está valendo para todos os municípios, são poucos que tem algo diferente”, pontua.

Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência. Foto: Divulgação

Também por isso pesquisas realizadas de forma remota, como as realizadas por telefone, não se tornam tão necessárias. A CEO do Ibope afirma que as entrevistas por telefone só estão sendo feitas em algumas capitais, mas que o instituto tem feito alertas com relação aos resultados. Isso porque pessoas que não têm nenhum tipo de aparelho telefônico são excluídas do universo de pesquisa.

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“Só estamos fazendo esse tipo de pesquisa em cidades onde essa proporção é pequena, nenhuma tem mais do que 5% das pessoas sem telefone. No entanto, se houver um candidato que tem um perfil de eleitor que não usa telefone, ele pode ficar subestimado”, atenta ela.

Quem pode fazer pesquisa eleitoral

Pesquisas eleitorais são feitas por empresas ou entidades de pesquisa, como institutos. A empresas ou entidades que queiram realizar pesquisas eleitorais devem estar cadastradas no Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (PesqEle). Uma vez cadastrada e tendo feito já uma pesquisa, a empresa não precisa se cadastrar novamente.

Quem pode contratar pesquisa eleitoral

Um instituto de pesquisa pode realizar uma pesquisa a pedido de qualquer pessoa, seja física, seja jurídica. Segundo o Ibope, tanto candidatos e partidos quanto veículos de comunicação e organizações da sociedade civil, entre outros, podem contratar uma pesquisa.

As únicas exigências e restrições são que o contratante deve ter o CPF (Cadastro de Pessoa Física) ou CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) informado pela empresa contratada à Justiça Eleitoral com até cinco dias de antecedência junto com as outras informações necessárias para o registro da pesquisa e que o levantamento não pode ser divulgado entre os quinze dias anteriores à eleição e as 18h do dia do pleito.

Qual a diferença entre uma pesquisa eleitoral e uma enquete

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Apesar de se parecerem bastante pelo fato de conterem um questionário e pedirem a opinião das pessoas com relação às eleições, as enquetes e as pesquisas eleitorais possuem uma diferença crucial. Segundo o TSE, uma enquete, ou sondagem, é qualquer levantamento de opiniões sem plano amostral e que não faça uso de método científico para ser realizado.

Isso significa que uma enquete é feita sem um planejamento de quantas e quais pessoas serão entrevistadas, dependendo então da participação espontânea dos entrevistados. Ou seja, mesmo que as opiniões dos entrevistados continuem sendo válidas, a representatividade da população real na enquete fica comprometida.

Quais as diferenças entre uma pesquisa eleitoral para prefeito e outros cargos

Márcia Cavallari afirma que, apesar de as dimensões serem bastante diferentes, a metodologia utilizada em uma pesquisa eleitoral para prefeito e uma feita para governador estadual ou presidente é a mesma. A principal diferença das pesquisas em eleições municipais e as de eleições gerais é que estas últimas precisam de mais uma etapa de seleção de amostra, que são quais municípios serão pesquisados.

“É feita a mesma Probabilidade Proporcional ao Tamanho com base na população dos municípios para selecionar para quais cidades os entrevistadores vão. É feita uma amostra estadual para governador e uma amostra nacional para presidente. As demais etapas dentro do município são as mesmas da eleição municipal”, explica a CEO do Ibope.

Como a lei regulamenta o registro de pesquisas eleitorais

A Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997) traz uma série de exigências legais que as empresas, entidades e institutos pesquisa devem seguir para realizarem os levantamentos eleitorais. A primeira delas é que, cinco dias antes da divulgação da pesquisa, a empresa precisa fornecer uma série de informações. São elas:

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  • quem contratou a pesquisa
  • valor e origem dos recursos usados
  • metodologia e período de realização
  • plano amostral (especificar quais pessoas serão entrevistadas e em qual proporção de acordo com sexo, idade, escolaridade e situação financeira, além de especificar a área física de realização da pesquisa, o intervalo de confiança e a margem de erro)
  • sistema interno de controle e verificação dos dados coletados e do trabalho de campo
  • questionário completo utilizado ou a ser utilizado
  • o nome de quem pagou pela pesquisa (CPF ou CNPJ) e cópia da nota fiscal

Caso o instituto de pesquisa não informe esses dados ou divulgue a pesquisa antes do período de cinco dias, ele deve pagar uma multa que varia de R$ 50 mil a R$ 100 mil. Também é proibida a divulgação de pesquisas por qualquer meio de comunicação entre os últimos quinze dias antes da eleição e as 18h do dia o pleito.

Diferente das pesquisas, as enquetes eleitorais são proibidas durante o período de campanha eleitoral.

Como é calculada a margem de erro

O Ibope afirma que, apesar de ser divulgado apenas um erro amostral ou margem de erro em uma pesquisa, cada item e informação tem uma margem de erro própria. Márcia explica que toda pesquisa que usa a metodologia de amostras tem essa falha. 

“Quando é feito um Censo, não há erro amostral porque todo mundo é entrevistado. Quando é tirada uma amostra da população, há um erro associado ao processo de amostragem. Sempre há um risco que a amostra não represente bem aquele universo que se quer pesquisar, mas não por erro, e sim por um processo decorrente da seleção, devido à aleatoriedade inerente ao processo”, exemplifica ela.

No caso da margem de erro divulgada junto com a pesquisa, a situação é um pouco diferente. Isso porque, pela Lei das Eleições, o instituto de pesquisa precisa apresentar uma margem de erro para registrar um levantamento e poder realizá-lo. No entanto, essa margem só pode ser calculada depois de ter acesso aos resultados, que não estão disponíveis porque a pesquisa ainda não foi feita.

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Para isso, o instituto precisa realizar uma estimativa por meio de um modelo de amostragem aleatório e simples. “É o único modelo de amostragem que permite estimar uma margem de erro em função de resultados que podem ser obtidos”, conta Márcia. No entanto, ela afirma que, por mais que seja uma estimativa, a margem de erro registrada não difere muito da real. “A margem tem muito a ver com o tamanho da amostra e a dispersão do voto analisadas. Quando se faz o cálculo, não é algo que muda bruscamente, é questão de uma casa decimal.”

Por que os resultados das eleições são diferentes das pesquisas?

Quando são definidos os resultados das urnas, sempre há aqueles que reclamam das diferenças entre o que realmente aconteceu no pleito e as tendências apresentadas nas pesquisas eleitorais. No entanto, segundo o Ibope, o problema não está na pesquisa, e sim na interpretação que é feita dela. “A pesquisa não tem esse papel que querem que ela tenha de ser precisa hoje. Ela tem o papel de mostrar qual é o quadro atual”, afirma Márcia.

Ela explica que as pesquisas eleitorais não têm como objetivo prever o resultado das eleições, e sim de mostrar qual é a conjuntura no momento em que foi feita. De acordo com o instituto, os levantamentos feitos durante a campanha eleitoral servem para contar a história da eleição e a evolução da opinião pública até o dia do pleito, eles não devem ser comparados ao resultado das urnas.

“Por meio de estudos, nós sabemos que os eleitores estão definindo o seu voto cada vez mais tarde. O papel da pesquisa é registrar esses momentos e, à medida que as pessoas forem tomando a sua decisão, mostrar, nas sequências de levantamentos, as tendências”, explica Márcia. “Quanto mais a pergunta espontânea se aproxima da estimulada, mais firme está o voto.”