Como Lula, Dilma poupa Cuba e diz não misturar direitos humanos com ideologia

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Por Lisandra Paraguassu e HAVANA
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Em sua primeira visita oficial a Cuba, a presidente Dilma Rousseff, assim como o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, esquivou-se de criticar a ditadura comandada pelos irmãos Castro e as violações contra os direitos humanos na ilha. Atacou os contrários ao regime comunista, principalmente os Estados Unidos: "Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro". E complementou: "Nós, no Brasil, temos os nossos"."Se vamos falar de direitos humanos, nós começaremos a falar de direitos humanos no Brasil, nos Estados Unidos, a respeito de uma base aqui chamada Guantánamo. Vamos falar de direitos humanos em todos os lugares", disse a presidente pouco antes do encontro com o presidente Raúl Castro. Após o primeiro compromisso oficial, a deposição de flores no memorial de José Martí, Dilma falou por 15 minutos com a imprensa. "Não é possível fazer da política de direitos humanos só uma arma de combate político-ideológico. O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países têm de se responsabilizar, inclusive o nosso. Concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspectiva multilateral. De fato, é algo que temos de melhorar no mundo de uma maneira geral. Não podemos achar que os direitos humanos são uma pedra que você joga só de um lado para o outro", afirmou.Durante a campanha de 2010 e na iminência de uma vitória de Dilma, havia expectativas de que a política externa seria o maior diferencial entre ela e Lula, sobretudo em relação a países com regimes ditatoriais. As declarações de Dilma ontem dissiparam de vez esperanças que dissidentes da ilha nutriam de ter uma declaração mais contundente da petista.Da mesma forma que Lula nas suas duas visitas ao país, em 2008 e 2010, Dilma recusou-se a fazer críticas, mesmo que veladas, às prisões de dissidentes e aos intermináveis problemas de direitos humanos em Cuba. Lula, em 2010, na ocasião de sua visita oficial a Fidel Castro, equiparou o dissidente Orlando Zapata, morto na prisão após uma greve de fome, com criminosos comuns brasileiros.O comandante. A agenda de Dilma, centrada na cooperação e nos projetos brasileiros, abriu espaço apenas para um personagem ilustre: Fidel Castro, a quem confirmou que iria ver, "com muito orgulho". Já os vários dissidentes que pediram audiências não encontraram espaço na agenda da presidente ou de integrantes de sua comitiva, nem mesmo a blogueira e colunista do Estado Yoani Sanchez, que em uma carta à presidente pediu o visto e uma audiência. Questionada se pediria a Cuba permissão de saída para que a blogueira visite o Brasil, a Dilma afirmou que já havia feito sua parte. "Demos o visto. Agora, os demais passos não são da competência do governo brasileiro." Outros grupos de dissidentes que também haviam pedido encontros - entre eles as Damas de Blanco, que representam os presos políticos, e a Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional - também não receberam resposta. "Não nos responderam. Mas não vamos fazer nenhuma tentativa, nem no hotel nem em outros lugares. Seria perigoso", disse Elizardo Sanchez, membro da comissão.Guinada à esquerda. A visita a Cuba, dias após participar do Fórum Social Temático, em Porto Alegre, não se trata de uma "guinada à esquerda" para agradar, sobretudo, ao público petista. Quando questionada sobre tal possibilidade, Dilma reagiu: "Fico estarrecida com esse tipo de pergunta. Fui à União Europeia, recebi os EUA. Eu andei pra danar. Fui no G20, na China. Como a gente interpretaria o ano passado? O Brasil faz política internacional com todos os países. Somos um povo absolutamente pacífico, acreditamos no diálogo, achamos que é fundamental também dialogar com os movimentos sociais".

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