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Comissão pretende ouvir jornalista sobre caso JK

Grupo criado pela Câmara Municipal de São Paulo quer checar versão que atribui a um complô a morte do ex-presidente após acidente de automóvel

Por Ricardo Chapola
Atualização:

O presidente da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, vereador Gilberto Natalini (PV-SP), disse nessa terça-feira, 1º, que vai convocar o jornalista Raul Bastos para prestar esclarecimentos sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek.Segundo reportagem publicada em 1996 na revista Interview, Bastos, que à época da morte era chefe de produção do Estado, teria informações de que JK, opositor da ditadura militar à época, fora vítima de um complô. O autor da reportagem da Interview, Valério Meinel, morto no mesmo ano da publicação, trabalhou com Bastos na sucursal do Estado no Rio. Kubitschek morreu em agosto 1976 após um acidente de carro. O ex-presidente viajava de São Paulo para o Rio num Opala dirigido pelo seu motorista, Geraldo Ribeiro, que também morreu, depois de perder o controle e se chocar com uma carreta.No texto publicado em 1996, Meinel conta que, no dia da morte de JK, recebeu ordens do então chefe de produção do jornal para que esperasse a chegada de Wanderley Midei, subchefe de produção, que viria de SP. Midei, diz a reportagem, "revelou que, na cobertura do acidente, repórteres do jornal, mandados de São Paulo, obtiveram de guardas da Polícia Rodoviária a informação de que o Opala de Juscelino se desgovernara porque o motorista Geraldo levara um tiro na cabeça". O Estado localizou Bastos, mas ele não respondeu aos telefonemas e e-mails da reportagem. Midei não foi localizado.O tiro, de acordo com essa versão, teria vindo de uma Caravan que também trafegava pela Dutra, na altura de Resende, no Rio, segundo depoimentos colhidos de passageiros de um ônibus que estava atrás do Opala onde viajava o ex-presidente. O ônibus 1.348 da Viação Cometa era dirigido por Josias Nunes de Oliveira, de 69 anos. Oliveira foi ouvido ontem pela comissão na Câmara Municipal paulistana. Durante o regime militar, o motorista de ônibus foi acusado de ter sido o responsável pelo acidente de JK. Ele nega ter visto a Caravan. Emocionado durante o depoimento ontem, que durou cerca de duas horas, Oliveira negou ter sido responsável pela morte do ex-presidente e, conforme antecipou o Estado, disse que dois homens lhe ofereceram dinheiro para confessar que tinha culpa no acidente. "Cinco ou seis dias depois apareceram em casa dois homens cabeludos. Eles me ofereceram uma mala cheia de dinheiro para eu dizer que tinha matado o presidente", contou Oliveira. Ele disse que vai pedir indenização por ter sido considerado por tanto tempo responsável pelo acidente que matou JK. Natalini afirmou que vai pedir nova perícia do corpo de Gilberto, o motorista de JK. Em 1996 foi feita exumação do corpo e encontrado um fragmento de metal identificado como prego do caixão. Membros da Comissão da Verdade levantam a suspeita de se tratar de uma bala. Na perícia, constatou-se ainda buraco no crânio de Gilberto, provocado por "esfarelamento ósseo".

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