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Cobrança por conteúdo na internet requer planejamento, afirma editor

No encerramento do Congresso da ANJ, executivo do 'Wall Street Journal' ponderou que é preciso 'ir devagar' com o sistema paywall

Por Gabriel Manzano
Atualização:

O indiano Raju Narisetti, editor executivo do Digital Network do Wall Street Journal, fez ontem, no segundo e último dia do 9.º Congresso Nacional de Jornais, em São Paulo, o contraponto do debate sobre cobrar ou não pelos conteúdos da internet. Voz solitária contra a maioria de palestrantes que defendeu o sistema paywall, Nasiretti disse que essa decisão não pode ser apressada. "É preciso ir devagar", advertiu.Ao defender sua fórmula, que chamou de freewall, Narisetti avisou que "ela demanda muito planejamento" - para se chegar, mais tarde, a um patamar em que o serviço se torne rentável, sem pesar para os usuários. "O que precisamos é reexaminar o tema, não seguir cegamente em frente. O que funciona para grandes jornais não vai funcionar para muitos outros."Em outras mesas, vários convidados disseram o contrário. O mais entusiasmado pela ideia de cobrar foi o alemão Mathias Dopfner, diretor-presidente da Axel Springer, uma grande rede de jornais e revistas que tem como carro-chefe o diário Bild. Festejado por tirar o grupo de uma situação difícil, há alguns anos, para um lucro de 600 milhões no ano passado, Dopfner afirmou no painel final que é preciso olhar para o futuro, quando o jornal "será como um guardanapo, leve, flexível, para se guardar no bolso".Sua provocação: se o cidadão já paga por telefone, por celular, por aplicativos, por que não pagaria pelo site? O meio tecnológico, daqui a 50 anos, resumiu, "estará tão adiantado que o único que importará será, de fato, o conteúdo". O meio digital "oferece um espaço ilimitado, é muito mais rápido, elimina custos como papel e distribuição, e não há por que imaginar que será malfeito". E acrescentou: "Há muita imbecilidade, mas também muita qualidade no digital, se você contar com bons jornalistas".Convencido disso, ele leva adiante, no seu grupo, planos de adotar a cobrança nos próximos meses. "Se houver erros, vamos entender e corrigir. Mas é preciso tentar."Organização. Na sua exposição, pela manhã, o indiano Narisetti condicionou a ideia de seu freewall a muita organização. Lembrou que com internet livre o jornal terá mais matérias lidas, mais tempo do leitor olhando seus anúncios, mais fidelidade desse leitor - e isso não se pode jogar fora. Mas é preciso, junto a isso, trabalhar duro. Por exemplo, entendendo bem a intersecção entre conteúdo e tecnologia, até levando desenvolvedores para junto das redações. Estas devem criar "planos de impermanência", criar espaços e serviços focados, como para um leitor que só quer ler manchetes, ou que só quer ler números do mercado.Perguntado se pretende implantar esse projeto no Wall Street Journal, explicou: "Não, por enquanto é só uma ideia. Mas insisto em que não se pode punir, cobrando, exatamente o seu leitor mais fiel".No debate final, o diretor-geral de jornais do grupo RBS, Marcelo Rech, defendeu a busca de qualidade e de capacidade crítica, como metas essenciais para o futuro. "Credibilidade é a palavra-chave", avisou. Depois dele, o ex-diretor-presidente do Grupo Estado, Silvio Genesini, constatou que "estão cada vez mais claros os caminhos para os novos modelos de negócios". Separou uma internet que já começou paga - smartphones, tablets - de outra que era livre "e resta saber se a mudança para o paywall vai funcionar". O desafio é que o sistema "está se movendo para uma dependência maior da publicidade". Nesse último dia do congresso, foram ainda discutidos temas como "planejamento econômico-financeiro em um cenário de transformação estrutural do negócio", inovações no jornalismo impresso e a autorregulamentação da mídia no País.

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