Ciro diz que bloco de esquerda é “improvável” no primeiro turno

Negociações estão em curso, mas estratégia do PT e indefinição no PSB adiam uma definição

PUBLICIDADE

Por Andrei Netto
Atualização:
O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes Foto: Werther Santana/Estadão

MONTPELLIER, FRANÇA - A organização de uma grande coalizão de esquerda para disputar unido o primeiro turno das eleições ao Planalto é “improvável”, segundo o pré-candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes. Em entrevista ao Estado em Montpellier, o ex-governador e ex-ministro afirmou que a estratégia do PT de apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o último momento e buscar um plano B é um empecilho para o acordo. Além disso, a indefinição no PSB sobre a candidatura própria continua a adiar as definições.++ Ciro critica prisão em 2ª instância e elogia STF sobre HC preventivo

Ciro Gomes fez as análises nessa segunda-feira, 26, durante e após sua participação em um seminário com acadêmicos e universitários da Universidade de Montpellier, onde foi convidado a participar de um seminário sobre Transição, Transparência e Soberania: o papel da inovação para a agricultura e o ambiente na França e no Brasil. 

Pré-candidato de esquerda segundo melhor avaliado nas pesquisas de intenção de voto, atrás apenas de Lula – que deve ter sua candidatura impugnada –, Ciro Gomes disse que as negociações com PT, PSB e PSOL seguem seus cursos, mas que nenhuma definição acontecerá antes de julho. O prazo vai bem além de 7 de abril, data na qual serão encerrados os processos de filiação partidária e de desligamento dos cargos eletivos, exigidos por lei. Para representante do PDT, “os obstáculos são enormes” para a formação do bloco. “Mas nós, políticos, estamos trabalhando, costurando”, ponderou. 

+ Para Ciro Gomes, eleições de 2018 serão 'as mais fraudadas da história'

De acordo com Ciro Gomes, as pesquisas de opinião já começam a mostrar um cenário político pós-impugnação de Lula, com a liderança de Jair Bolsonaro, um empate técnico entre Marina Silva (Rede) e ele próprio, e com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em dificuldades. "Na minha análise, o Lula me sombreia, mas ele começa a ser simulado fora. E a população vai procurar. Nós já estamos pesquisando o que faz o eleitor indeciso. Estamos tentando entender isso cada um para o seu lado”, disse.

Publicidade

+ Tribunal da Lava Lato mantém condenação de Lula

Questionado sobre as chances do bloco de esquerda, Ciro Gomes reiterou que uma aliança com PT só deve acontecer no segundo turno. "A probabilidade é de que esse ajuste com o PT só se dará no segundo turno por uma questão de hegemonias. Alguns ali preferem perder para a direita”, criticou. 

Já em relação ao PSB, Ciro Gomes foi mais otimista, lembrando que recebeu autorização do diretório nacional da legenda para tentar sensibilizar as lideranças estaduais sobre a validade de uma coligação. A aliança, entretanto, está condicionada à não-candidatura própria, que poderia acontecer com a filiação do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. "A possibilidade de ele não ser candidato é maior”, opinou.

Definida a posição de Barbosa, o PSB terá de decidir se apoia outra candidatura ou não. É para convencer a legenda que Ciro Gomes vem trabalhando. Para o presidenciável, mesmo assim "o blocão é improvável". "O que recomenda a coesão? A iminência da derrota. Qual é a percepção hoje? É a de que esse lado (esquerda) vai ganhar”, entende. "A disputa interna (na esquerda) é por quem vai ganhar a eleição." 

PARA CIRO, MEIRELLES FOGE DO PRÓPRIO LEGADO ECONÔMICO

Ciro Gomes afirmou ainda em Montpellier que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está deixando o cargo para fugir de seu próprio legado econômico. Meirelles deixa o governo para tentar viabilizar sua candidatura à presidência pelo MDB, mas, segundo o ex-governador e ex-ministro a saída tem mais a ver com o estado das finanças públicas e com a performance econômica do Brasil.

+ MDB tenta colar Meirelles em plano eleitoral de Temer

Publicidade

"Meirelles está fugindo do fato de que quebraram o país, mentiram grosseiramente para a população de que tinham revertido o quadro, e o quadro está se deteriorando pesadamente”, criticou. "É melhor sair porque provavelmente alguma agência de risco vai rebaixar de novo o Brasil. A situação é deplorável."

Ciro Gomes perguntou a assessores por que partido Meirelles se candidataria, e ao saber que se tratava do MDB, avaliou a escolha. "Ele vai ser cristianizado. A tendência do MDB é não ter candidato e não se aliar a ninguém porque virou tóxico”, opinou, afirmando que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin fez um cálculo sobre buscar ou não uma coligação entre o PSDB e o MDB, refletindo entre o tempo de TV maior e a carga de carregar o legado do presidente Michel Temer.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.