O Ministério Público Federal (MPF) no Espírito Santo denunciou à Justiça cinco pessoas pelo tráfico de 445 quilos de cocaína apreendidos em um helicóptero da Limeira Agropecuária e Participações Ltda., empresa criada pelo senador Zezé Perrella (PDT-MG) que tem como um dos sócios o filho dele, o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG). A apreensão ocorreu dia 24 de novembro em Afonso Cláudio, na fronteira entre Minas e Espírito Santo. Os dois parlamentares não foram acusados formalmente. O MPF no Espírito Santo determinou o desmembramento do inquérito e seu envio para o Tribunal Regional Federal da 2.ª Região devido ao foro privilegiado de que desfruta Gustavo, como deputado estadual. O Ministério Público ressaltou que a remessa do caso para a segunda instância da Justiça Federal "não implica uma opinião negativa sobre a participação do parlamentar nos fatos". A decisão "apenas reconhece que não cabe a um membro do MPF que atua perante órgãos de 1.ª instância analisar a questão", afirma texto divulgado pela Procuradoria da República. Durante o inquérito, o deputado, sua irmã Carolina e um primo deles, André de Oliveira Costa, sócios da Limeira, prestaram depoimentos à Polícia Federal por meio de carta precatória na condição de testemunhas.Parte da denúncia corre sob sigilo e o Ministério Público não informou se Gustavo poderá responder, por exemplo, por autorizar o piloto Rogério Almeida Antunes, funcionário da Limeira, a fazer "frete de passageiro", apesar de a aeronave apreendida não ter autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para esse tipo de atividade. A mensagem do parlamentar, encontrada no telefone celular de Antunes, foi uma das justificativas usadas pela PF para declarar, após a apreensão da cocaína, que o deputado mineiro não tinha relação com a droga.Além do piloto, foram denunciados à Justiça o copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior, os responsáveis por descarregar o helicóptero Robson Ferreira Dias e Everaldo Lopes de Souza, e Elio Rodrigues, o dono de uma propriedade que servia de base para a organização. Foi no sítio de Elio, no município de Afonso Cláudio, que ocorreu a apreensão da aeronave. Ele comprou a propriedade, avaliada em R$ 100 mil, por R$ 500 mil, pagos em dinheiro vivo. Com exceção de Elio, todos os suspeitos foram presos em flagrante e confessaram o tráfico.Verba vetada. A apreensão do helicóptero com a droga e a repercussão do caso levou a Assembleia Legislativa de Minas a alterar as normas relativas às verbas indenizatórias. Isso porque Gustavo e Zezé Perrella usavam esse tipo de recurso do Legislativo estadual e do Senado, respectivamente, para abastecer a aeronave. Os parlamentares mineiros não podem mais usar essa verba para abastecer aeronaves particulares. A regra continua valendo no Senado.Após a prisão de Antunes - que alegou trabalhar para o senador Zezé Perrella para tentar evitar a apreensão no momento da abordagem da polícia - a Assembleia demitiu o piloto de seus quadros. Desde abril do ano passado Antunes recebia R$ 1,7 mil como funcionário da Terceira Secretaria da Mesa Diretora da Casa, para a qual havia sido indicado pelo deputado Gustavo Perrella. Ninguém na Assembleia soube dizer o tipo de serviço que ele prestava nem se aparecia no local.O Estado não conseguiu contato com os advogados de defesa dos acusados.