Catador de recicláveis eleito vereador quer levar cão para Câmara de Assis, no interior de SP

'Pretinho', porém, terá de ficar em casa ou do lado de fora do prédio, em cima do carrinho de coleta; terceiro mais votado na cidade, Nilson Pavão promete criar um espaço para animais abandonados

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

Texto atualizado às 20h40 de 07/10/2016

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SOROCABA - Terceiro vereador mais votado no domingo, 2, em Assis, no sudoeste paulista, com 1.275 votos, o catador de recicláveis Nilson Antonio da Silva, o Nilson Pavão (PMDB), já enfrenta um dilema. Ele quer comparecer ao trabalho, na Câmara local, levando seu companheiro inseparável, o cachorro 'Pretinho'. O que o novo vereador esperava era que a direção do Legislativo permitisse que o cão ao menos acompanhe as sessões. "Ele é minha única família aqui e muitas pessoas votaram em mim porque gostam dele", disse.

Após a repercussão do caso na cidade, a assessoria de Pavão esclareceu que 'Pretinho' terá de ficar em casa ou do lado de fora da Câmara, em cima do carrinho de coleta de recicláveis. “Lá dentro é lugar de discutir e decidir o futuro da cidade, um outro tipo de trabalho. Ele entendeu que dentro da Câmara não dá para levar animais, pois, se cada funcionário levar um bicho, vai virar um zoológico”, explicou.

Na cidade de 102 mil habitantes onde trabalha nas ruas há 20 anos, catando papelão, latinhas de cerveja, PET e outros materiais recicláveis, o agora vereador é mais conhecido como o 'Nilson do cachorro'. "É difícil, se não impossível, encontrar o Nilson sem o 'Pretinho'. Onde vai, ele leva o cachorro, ou o cachorro leva ele", brinca o taxista José Honório. 

Nilson Pavão (PMDB-SP) Foto: Reprodução|TV TEM

Nilson tem 62 anos, ensino fundamental incompleto e trabalha na Cooperativa de Materiais Recicláveis de Assis e Região (Coocassis), o que garante renda de um salário mínimo mensal. Ele disse que ficou surpreso com o resultado. "Esperava ter uns 700 votos, mas não ficar entre os mais votados. Acho que tenho mais amigos do que imaginava. O povo gosta de mim", disse.

Quando ocupar uma das 15 cadeiras do Legislativo, o catador passará a receber R$ 4,2 mil por mês, mas vai doar metade do salário em cestas básicas para famílias carentes, como prometeu na campanha. Outra promessa é criar um espaço para animais abandonados, o que lhe valeu muita ajuda pelas redes sociais. "Sou muito apegado aos animais e o vice-prefeito é veterinário, então acho que vai dar certo. Vamos pedir que a prefeitura ceda uma área que não está sendo usada e faça um local com bastante estrutura para que não haja abandono." 

Ele quer também trabalhar por melhorias na saúde das pessoas. "Conheço bem a realidade do SUS (Sistema Único de Saúde), pois já peguei muita fila. Algumas unidades precisam ficar abertas dia e noite." Nilson já foi caminhoneiro e, depois de se afastar da família em outro Estado - um assunto que evita - passou um período vivendo nas ruas. Ele conta que dormia em postos de gasolina, borracharias ou passava a noite em abrigos. Agora, tem uma pequena casa no bairro Santa Clara.

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O vereador eleito não tem telefone fixo, nem celular. Ele teve a ideia de se candidatar depois que um amigo de infância se tornou vereador e prefeito. "Não sabia por qual partido, mas achei um papelzinho do PMDB na rua e procurei o partido para fazer a filiação." Nilson acredita que não foi eleito pelo voto de protesto. "Votaram em mim porque trato bem as pessoas e não tenho medo de lutar pelas coisas."

O presidente da Cooperativa de Materiais Recicláveis de Assis e Região (Coocassis), André Lemes, disse que os cooperados votaram em peso no colega. "Ele é trabalhador, pode ajudar a cidade." Sua eleição repercutiu nas redes sociais. "Muitos julgam pelas roupas, mas o que importa é o caráter", postou a auxiliar de enfermagem Maria Barbosa. "Muita gente tem faculdade e dinheiro, mas não tem um pingo de respeito com os próximos. Os projetos (dele) são ótimos", escreveu Valdemir Candido. "Ele já conseguiu nos surpreender por desbancar uns letrados que estavam só mamando nas tetas do município", postou Marcos Leal, também morador da cidade.

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