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Candidato do PDT no Rio destaca horário integral nas escolas

Paulo Ramos fala em entrevista ao Estado de sua trajetória política, programa de governo e adversários

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Por Redação
Atualização:

Candidato do PDT à prefeitura do Rio, o deputado estadual Paulo Ramos fala, em entrevista ao Estado, de sua trajetória política, do programa de governo, dos adversários na política e de líderes trabalhistas como Leonel Brizola e Getúlio Vargas. Ramos destaca a proposta de horário integral nas escolas municipais e de distribuição de kit de higiene e saúde para famílias que têm crianças antes da idade escolar.   Paes sobe 8 pontos e passa Marcelo Crivella no Rio, diz Ibope   Veja os principais trechos:   Estado - Gostaria que o senhor fizesse um resumo do seu programa de governo. O que o senhor apontaria como as três prioridades?   Paulo Ramos - Brizola (ex-governador e líder trabalhista Leonel Brizola) dizia que programa de governo a gente compra em qualquer quitanda. A grande questão é a trajetória de vida, de luta social. Envolvido em quê eu tenho estado esses anos todos da minha modestíssima trajetória política? Filho de operário do subúrbio é que nem coelho de parque. Na primeira casinhola que abre, você entra. Ingressei na Escola de Oficiais da Polícia Militar, no dia 20 de março de 1964. Mesmo assim, tive uma atuação na clandestinidade ligado à resistência (ao regime militar). Tinha atribuição de levantar os presos que estivessem nos quartéis e os documentos que poderiam interessar. E contribuía financeiramente com aqueles que viviam na clandestinidade. O senhor era ligado a algum partido? Eu tinha uma ligação com o MR-8. Na minha vida pessoal, fui presidente de clube sociorecreativo, de bloco carnavalesco, de associação de moradores, de entidade de classe. Fui deputado federal, deputado constituinte, e estou no terceiro mandato de deputado estadual. Tenho um projeto de país na minha cabeça alicerçado na soberania nacional. Como constituinte, lutei pelo monopólio estatal do petróleo, pelo monopólio das comunicações, pela nacionalização do subsolo, pela bandeira nacional na cabotagem, pela empresa brasileira de capital nacional, mercado interno como patrimônio nacional, defendi as micro e pequenas empresas. Fui constituinte nota 10 porque defendi tudo que interessava aos trabalhadores. Foi um julgamento feito pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Depois lutei contra as privatizações, depois contra a revisão constitucional. Foram muitas lutas inglórias.   Estado-O senhor se sente frustrado?   É lamentável dizer que duas bandeiras uniram a resistência democrática, a anistia e a Constituinte. A Constituição não entrou em vigor, embora o povo tenha tentado. Quando o povo, inadvertidamente, elegeu Collor de Melo, tendo Sarney ficado mais um ano e comprovadamente corrompeu constituintes, dando estações de rádio e televisão, para ter mais um ano... Além de inviabilizar a regulamentação da Constituição usando medidas provisórias, que tinham preferência no processo legislativo, ele criou as condições favoráveis para que o Sistema Globo elegesse o Collor. Eu digo que o Collor não se elegeu pelo PRN, Partido da Reconstrução Nacional, mas pelo PRM, Partido do Roberto Marinho. A globalização, o modelo liberal foi a contramão de todo o esforço constituinte. A Constituição não consagrava o Estado como senhor de todas as coisas, mas definia ao Estado papel importante em setores estratégicos. A eleição do Collor foi a tragédia para a transição que representou a morte do Tancredo Neves. Foi um retrocesso porque ele veio com outra inspiração. Estou no meu terceiro mandato de deputado estadual defendendo as mesmas idéias e com a mesma convicção. Defendendo que o Estado não amesquinhe tanto o seu papel. Sou um defensor dos servidores públicos, do serviço público. Defendo arduamente que o Estado recupere suas funções públicas.   Estado-De que maneira?   Imaginar que a população cresce e não cresce a oferta de vagas na educação significa privatizar a educação. A população cresce e os serviços de saúde não são ampliados. É a privatização progressiva do serviço de saúde. Na Assembléia Legislativo, me envolvo em algumas questões, a lute em defesa da Varig, o crime que foi (a venda da Varig)... fiz aqui uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Ainda consigo exercer o mandato tendo um empenho para demonstrar que é preciso lutar por um projeto nacional. Hoje prevalece na consciência das pessoas, além da desilusão com a democracia, que a conquista das liberdades democráticas não tem significado inclusão social. Tem significado adiamento da inclusão. As pessoas estão desiludidas com processo democrático, o antro de corrupção em que a vida pública mergulhou. Não apenas nos Legislativos, mas nos Executivos e nos Judiciários. Dou um exemplo. O Supremo Tribunal Federal tem a atribuição de processar e julgar os criminosos de alto coturno, a principais figuras da República e até hoje nunca julgou ninguém. É a impunidade de cima para baixo, o mau exemplo. Não são só as casas legislativas. Assim como a política de segurança pública do Estado exclui e depois criminaliza _ qualquer um que é morto na favela já está rotulado de traficante de entorpecente _, na atividade política eles corrompem, desmoralizam e também generalizam. A desilusão da população passar a ser muito maior. Imaginar a população que vê todo esse quadro, se distanciando muito de padrões éticos elementares. E ele mora mal ou não mora, está desempregado ou empregado ganhando pouco, tem filhos fora da escola, não tem atendimento a saúde. Ele tem uma carga de problemas e um voto. Ele não compreende que o dia da eleição é o único em que ele é igual ao mais poderoso. Só que o mais poderoso tem possibilidades de manipular o voto de parcelas expressivas da população. Como essa manipulação se dá? Através dos órgãos de comunicação e dos órgãos de pesquisa.   Estado- Pela experiência que o senhor tem na política do Rio, acredita que nessas eleições o domínio de políticos em currais eleitorais está pior do que em outros anos?   Tentam considerar somente currais eleitorais as comunidades faveladas, quando na verdade eles sempre funcionam em homenagem a quem está no poder. Vou dar um exemplo concretíssimo, pegando o caso do deputado Álvaro Lins (que teve o mandato cassado em agosto). O deputado foi chefe de Polícia durante dois governos. Não se elegeu na primeira eleição de que participou. Na segunda ele se elegeu. Foi eleito apoiado por representantes dessas mesmas comunidades. Os mesmos esquemas. Foi eleito com o deputado Marcelo Itagiba, comparecendo às comunidades. Mas ele fizeram dobradinha sozinhos? O inspetor Félix, em Rio das Pedras, apoiou. Mas apoiou também o governador e o candidato ao Senado da mesma chapa. Eles compareceram em conjunto a várias reuniões pedindo voto nessas comunidades. Como é que o sujeito, lá na comunidade, olha o chamado chefe da milícia, quando o chefe da milícia apóia, mobiliza para as reuniões, o comparecimento do candidato a governador?   Estado-O senhor diz que o governador foi eleito com apoio de milícias?   Teve apoio da estrutura que foi montada e, obviamente, das milícias. Por que os que são eleitos e são acusados de controladores de milícias serem são de partidos do governo? O caso do deputado Natalino, que está preso. Na última vez que o Lula veio ao Rio, o deputado estava no palanque. Os jornais publicaram. Como é que o cidadão lá na comunidade, oprimido pela milícia, se sente? Se sente completamente desprotegido. O senhor diz que os currais não são só as comunidades de favelas. Onde estão os outros currais então? Agora, por exemplo. É perceptível uma orquestração dos órgãos de pesquisa com os meios de comunicação impondo candidaturas. E candidaturas laranjas. É a laranja do prefeito, os laranjas do governador, os laranjas do presidente. Eles são patrocinados por esses instrumentos do poder e usam a máquina administrativa para ganhar voto. Um tipo de milícia mais sofisticado.   Estado-O senhor se considera aliado do presidente Lula?   Não é questão de considerar aliado porque o PDT tem um ministério. A bancada do PDT no Congresso Nacional não tem alinhamento automático com presidente da República. Reconheço que a presença do Lupi no ministério tem servido de anteparo para muitos direitos dos trabalhadores. Mas não invoco o patrocínio nem do ministro do Trabalho, quanto mais do presidente da República. Meu voto foi vencido no partido. Por mim, o partido não estaria integrado ao governo Lula. Isto não quer dizer que eu não tenha acolhido a decisão da maioria, tanto que estou no partido. Mas não me considero um candidato tutelado pelo presidente da República ou qualquer outro que esteja em esfera administrativa estadual e municipal. Tenho autoridade moral e política, tenho autonomia. Meu partido tem um programa de governo.   Estado-Se eleito prefeito, como seria sua relação com o governador e o presidente? De confronto ou de parceria?   Seria o melhor possível. O relacionamento administrativo seria o melhor possível. Lula foi constituinte comigo. Jogávamos futebol juntos. Proximidade pessoal eu tenho. O governador foi deputado estadual aqui comigo. Relacionamento pessoal é uma coisa. Relacionamento administrativo é outra coisa. E alinhamento político, ideológico é outra coisa completamente diferente. Vou dar exemplo espetando outro candidato. O Lupi no Ministério do Trabalho tem uma posição. Não se compara à posição de Haroldo Lima (presidente da ANP, indicado pelo PC do B, partido da candidata a prefeita Jandira Feghali) na Agência Nacional do Petróleo, leiloando as bacias sedimentares. Eu tenho como dizer que o Lupi está lá, mas não está sendo incoerente, na Pasta, com as teses do partido. Diferentemente de outros candidatos. A Jandira Feghali está apoiada pelo PSB, que tem espaços amplos no governo Sérgio Cabral, através do deputado Alexandre Cardoso, que é o secretário de Ciência e Tecnologia, uma das maiores secretarias do governo. O PSB quando discutia quem apoiaria concluiu que, se me apoiasse, teria que deixar o governo Sérgio Cabral, porque a minha bancada aqui atua se opondo ao governo Sérgio Cabral e eu sou o líder da bancada.   Estado-E o deputado Alessandro Molon (candidato do PT à prefeitura)?   O PT tem quatro ou cinco secretarias no governo Sérgio Cabral. Como ele (Molon) se opõe ao candidato Eduardo Paes (do PMDB, apoiado pelo governador)? Ele tem dificuldades. Ele fica se agarrando ao governo Lula. O Eduardo Paes faz a mesma coisa. A trajetória do Eduardo Paes é sempre apaniguado. Sempre foi alguém que não teve atuação própria, sempre foi integrante de sistema meio viciado. Não há legitimidade na trajetória, meio sinuosa. Aí vem a Solange Amaral. Ela seria apoiada pelo Sérgio Cabral. O PMDB fez acordo com o Cesar Maia, depois rompeu. Enquanto dizia que apoiava não havia crítica. Depois, faz crítica. Molon ia ser apoiado pelo Sérgio Cabral, que também rompeu. É uma salada de frutas. Por que o senhor fala em laranjas? Hoje eu gravei para o programa de televisão. "Você deve estar vendo a diferença entre uma laranja podre e o verdadeiro candidato a prefeito. Laranja podre não é para colocar na urna, é para jogar na lata do lixo. Tem laranja de prefeito, tem laranjas de governador, tem laranjas de presidente. Com campanhas milionárias, eles são os preferidos dos meios de comunicação e dos órgãos de pesquisa. Tudo comprado pelos espertos de sempre que, através das laranjas podres, só querem continuar enriquecendo. Comprado com o seu dinheiro."   Estado- O senhor viu que a Jandira Feghali está pregando o voto útil nela no primeiro turno. Como recebeu isso?   A Jandira foi cooptada pelo sistema e, quando estava sendo alavancada, fez muitas concessões. Assinou (a participação) os debates da Band, os debates da Globo. Não foi solidária. Quem resistiu fui eu, os debates não aconteceram por causa de mim. Eu não assinei a concordância. Ela foi alavancada, chegou a um patamar e está caindo porque aquilo era artificial. Era algo que não correspondia à sustentação política, não tinha alicerce, era virtual. Toda pesquisa tem sido virtual. Eles suspendem e derrubam quem eles querem. Mas ela acreditou, colocou um sapato alto de 15, de 20 centímetros. Quando caiu na real, veio com esse apelo de voto útil. Mas em torno de quem? Quem efetivamente representa as idéias da esquerda? Tanto não é ela que ela sinaliza e não tem o apoio. Se ela defende a unidade das esquerdas, o ideal seria que ela resolvesse compreender que não tem essa representatividade e escolhesse quem apoiar. Ele tinha que dar o exemplo retirando a candidatura dela e apoiando quem tivesse mais representatividade.   Estado- Nessa divisão, o senhor teme que a esquerda fique fora do segundo turno e tenha que escolher entre os candidatos Eduardo Paes, do PMDB, e Marcelo Crivella, do PRB?   A questão é que os corruptores de sempre, através dos meios de comunicação e dos órgãos de pesquisa, que são casas comerciais, estão industriando exatamente para isso. Resta saber se o povo vai ter discernimento. Você pega os jornais do Rio de Janeiro, por que não tem cobertura dos meus atos de campanha? Por que não tem fotografia da minha campanha? Qual é a razão de me considerarem um candidato sem estatura política se a minha biografia não perde para nenhuma biografia dos outros candidatos? Ao contrário. O Gabeira (Fernando Gabeira, candidato do PV) também foi alavancado pelo Sistema Globo, mas não tinha alicerce. Também caiu. Há um golpe, retirando do eleitor a possibilidade de comparar, de conhecer. Eles estão fazendo voto útil entre Crivella e Edurado Paes. Como Crivella tem maior índice de rejeição, eles vão tentar colocar no segundo turno Eduardo Paes e Crivella mais ou menos equilibrados no voto favorável, mas o índice de rejeição de um vai na estratosfera.   Estado- O senhor diz que tudo está voltado para a vitória do Eduardo Paes?   Isso faz parte de um projeto dos grandes conglomerados econômicos para o município do Rio de Janeiro e que nós temos que derrotar. Só quem ficou com autoridade política para denunciar isso fui eu. Os outros, tanto Jandira quanto Chico Alencar (candidato do PSOL), quando Gabeira, quanto Molon, eles aderiram, eles acreditaram. E não são tão inocentes assim. Ou então vivem do infantilismo político. Não cresceram. Se existe alguém que tem projeto sou eu... educação integral. Meu projeto é baseado no programa do meu partido e na minha luta política. Tenho autoridade moral e política para não me subjugar à Firjan (Federação da Indústria do Rio de Janeiro), à Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), à Fecomércio (Federação do Comércio). Porque para administrar o Rio de Janeiro correspondendo aos interesses da população não pode te sido patrocinado por eles em nenhuma época. Os outros podem dizer o mesmo?   Estado-O senhor falou em educação. Educação em horário integral. Todas as crianças na escola em horário integral. É possível adaptar a rede atual de escolas ao horário integral?   As coisas não são como apagar e acender a luz. Tem um processo. Se o programa dos Cieps não tivesse sido abandonado, como estariam hoje nossas crianças e jovens? Estariam com escolaridade muito maior. Segurança pública... talvez não tivesse experimentando os patamares (de criminalidade) que experimentamos hoje. Há equipamentos disponíveis, como os clubes sociorecreativos. Temos que recuperar e ampliar a capacidade instalada para que as crianças todas tenham atividades não apenas esportivas, mas culturais, teatro, cinema, literatura, artes. O programa dos Cieps incorporava os animadores culturais. Era um projeto completo. Vai associando com o que dispõe. E programa esportivo não só para crianças. Imagina o que será para as crianças conviver em atividades com os idosos. Há de ser uma experiência muito rica na construção de um sentimento de solidariedade, de respeito.   Estado-A que outra área o senhor daria prioridade?   Saúde. O prefeito é o gestor pleno do SUS (Sistema Único de Saúde). O Rio de Janeiro já tem uma malha, uma infra-estrutura de saúde, se somar o que tem de federal, de estadual, de municipal. Só que não é descentralizado. Tem lugares que tem a rede intensificada e lugares onde a rede é precária. Tem que descentralizar. Sou de uma geração em que tudo girava em torno da residência, o hospital, o posto de saúde, a escola, o clube, a igreja. Como o senhor faria a descentralização da saúde? Colocar toda a estrutura que existe e estabelecer a diferença de atribuição de acordo com os graus de complexidade. O senhor criaria metas? Claro, agora tem que existir baseado na conjugação de esforços entre as esferas administrativas. Não pode ser o prefeito isoladamente. É uma parceria responsável, serena, até alegre. Não é possível a pessoa para ter um atendimento ter que pegar trem, ônibus. Aí entra o médico de família.   Estado-O senhor ampliaria o Programa Médico de Família?   É uma unanimidade. Começou no Brasil com Jorge Roberto Silveira em Niterói, em integração com Cuba. O senhor fala em seu programa de governo na distribuição de um kit para crianças. Como funciona? Não pode cuidar só da saúde no sentido curativo. Imagino que deva ter primeiro esforço para registrar todas as crianças que nasçam. Com o cadastro, cada família, dependendo da renda, receberia um kit de saúde e higiene. Todo mês. O que teria no kit? Não tenho condições de elencar tudo, mas seria saúde e higiene. Até que idade seria distribuído o kit? Até entrar na creche. Tem que ter esta rede de proteção. O senhor imagina este programa para famílias com que teto de renda? Não quero adiantar porque não seria razoável imaginar que eu teria a resposta pronta com todos os detalhes. Essa seria a diretriz. Qual é o terceiro ponto das suas prioridades? Transportes. A submissão à Fetranspor faz com que o transporte de massa do Rio de Janeiro seja este caos. Como é que temos esse milagre da Baía de Guabanara na região metropolitana e o transporte aquaviário não é prestigiado? Reduziria muito o número de ônibus. Mas o dono da empresa de ônibus é dono da empresa de barca, é acionista da empresa de trem. O senhor faria novas licitações na concessão das linhas de ônibus? Licitação tem que ter. É uma concessão pública. O Brizola, num ato de desespero, encampou tudo. Mas é uma coisa complicada, foi uma luta política, o Brizola enfrentou a resistência dos empresários. Será que ninguém imagina a possibilidade de ligar Santa Cruz à Praça Mauá com Veículo Leve sobre Trilhos ou Veículo Leve sobre Rodas, para reduzir o número de carros?   Estado-A prefeitura teria orçamento para isso?   O VLT é um projeto antigo que nunca saiu do papel. A idéia é: meu enfrentamento com o governo federal. Qual a razão de fazer trem bala (entre Rio e São Paulo). Se perguntar à população qual é a prioridade, é resolver o problema de transporte de massa na região metropolitana e não o trem bala, que vai custar R$ 20 bilhões. Com metade do dinheiro do trem bala, colocando a outra metade em São Paulo, você faz Veículo Leve sobre Trilho, leva o metrô até a Barra, fazia o túnel da Grota Funda, o túnel da Pedra Branca e faria o sistema de barcas. Administrar é definir prioridades. Eu reagiria junto ao governo federal. "Não quero trem bala. Quero resolver o problema". A falta de autonomia, de independência política leva o gestor a se distanciar do interesse público e a decidir em função do interesse de quem patrocina campanha eleitoral, dos corruptores. Alguns candidatos dizem que governos populistas do Rio permitiriam o crescimento desordenado das favelas.   Estado-O senhor faria esta crítica ao ex-governador Leonel Brizola e outras administrações do PDT no Rio?   Isso é um absurdo, uma asneira. tão despropositada que só quem não tem conhecimento ... é afirmação baseada na ignorância e na má fé. É só verificar o crescimento da população e a inexistência de política pública na construção de habitações populares. As pessoas vão morar onde? Está na Constituição. Moradia é um direito. É um direito ocupar a terra para morar. A grande questão da favela é que não é solução urbana. Resulta do desespero de quem não tem onde morar. A prefeitura não tem recurso. Favela-bairro é a eternização da favela. Imaginar que um governador do Estado foi buscar inspiração em Bogotá e Medelin (de medidas de combate ao crime) é pular da ponte Rio-Niterói. A Colômbia servir de inspiração para qualquer coisa para o Brasil é a confissão do atraso, da mediocridade, do engodo, da mentira. O que eu defendo para as favelas é a substituição das habitações sem remoção das pessoas.   Estado-Um fator de inclusão imediata é a moradia. Então construiria casas melhores no mesmo lugar que as casas precárias?   Claro. E como conteria a expansão? Oferecendo alternativa. Só existe possibilidade de ter moradia na perspectiva da casa própria, tem que comprar. E quem não tem renda? Não tem renda, mas tem direito à moradia. Quando deputado federal, participei de CPI que investigou o Sistema Financeiro de Habitação com a extinção do BNH (Banco Nacional de Habitação). Sabe qual foi a conclusão? Tudo que o BNH construiu, se tivesse sido doado, o prejuízo seria menor. Ou existe a compreensão de que tem que haver um investimento social na construção de habitações populares... Para doar para os moradores? O que fez o bendito Getúlio Vargas na sua política habitacional, no tempo dos institutos? O trabalhador alugava a casa. Pagava um aluguel simbólico. Tinha que morar ali. Não podia vender, não podia alugar. Depois de trinta anos, pagando aluguel simbólico, ele era o dono. É o leasing social. O Getúlio consagrou o direito à moradia.   Estado-E os recursos seriam federais?   Quando o trabalhador levou aquela punhalada, perdeu a estabilidade e foi criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, a lei que criou o fundo dizia que o dinheiro era para construir habitações populares e saneamento básico. O dinheiro do trabalhador passou a ser administrado pelo BNDES. Emprestou para as privatizações, empresta para as multinacionais. Era preciso pelo menos recursos do Tesouro. O Lula, em oito anos de governo, terá pago em juros da dívida quase R$ 2 trilhões. Fernando Henrique nos oito anos que ficou também pagou R$ 2 trilhões de juros da maldita dívida pública. Então tem dinheiro. Era preciso destinar recursos não para os malandros que vêm para cá e não investem nada. Nega uma casinha para o desgraçado, mas a CSA vem aqui e ganha áreas à vontade, isenção fiscal, ganha tudo. O município tem dívida de R$ 8 bilhões com a União.   Estado- O que o senhor fará com ela, se eleito?   As dívidas estão sendo roladas, renegociando. Não tem política fiscal e tributária para conglomerados econômicos? Por que não tem para a prefeitura? O senhor cogitaria não pagar as parcelas da dívida? É uma situação muito difícil porque o governo tem a supremacia e não faz os repasses. Você não tem como enfrentar. Se o dinheiro estivesse na minha mão , eu não pagaria. Mas não está. As receitas municipais dependem de repasses do Estado e da União. Se eu tivesse possibilidade que teve o Nestor Kirchner na Argentina eu faria a mesma coisa: 75% não pago, os outros 25% negocio. Aí era outra coisa. Mas não tenho essa possibilidade, então tem que haver um entendimento.   Estado-O senhor pensa em auditar as contas do prefeito Cesar Maia, se for eleito?   Fazer campanha com esse argumento é não ter o que dizer. Eu conheço Cesar Maia, tenho grandes divergências. Eu não faria a Cidade da Música. Reconheço que ele dá ao servidor público um tratamento muito melhor que o governador. Muito melhor que o Garotinho, a Rosinha e a Benedita deram ao servidor estadual. Reconheço que o servidor municipal, com exceção de uma ou outra categoria, como os garis, que estão na penúria... O servidor público sabe que eu, sendo prefeito, ele não vai perder, só vai ganhar. Servidor tem que ser concursado, ter planos de cargos, carreiras e salários, tem que ter estabilidade. Defendo que em todos os cargos de chefia e direção sejam colocados servidores das carreiras. Já é uma diferença. Tem a questão do lixo. E eu faria albergues para a população de rua. É uma desumanidade. Mas esses albergues já não existem? Não. Tem um monte de prédios abandonados no centro da cidade. Tem que fazer sanitários públicos. Ficam falando em turismo. Outro dia o Gabeira falou "Barcelona recebe mais turistas que o Brasil inteiro". Claro! As pessoas vêm para cá para ver miséria? Dizem que fazem turismo na Rocinha. Chega a ser uma desfaçatez. As pessoas vêm para cá para ficar alegre e sai com complexo de culpa.   Estado-O que o senhor faria em relação ao turismo?   Tem que ser prestigiado, com a apresentação da cidade. Ela tem que estar apresentável, limpa, tem que cuidar da população de rua, tem que cuidar da questão ligada à poluição. É uma vergonha o programa de despoluição da Baía de Guanabara. Um antro de corrupção, ninguém foi punido, o banco japonês não foi responsabilizado. Como um banco libera dinheiro sem saber se a obra está sendo feita na contrapartida? Quem ganhou com isso? Ganhou também o banco. Se eu sou governador, processo o banco, suspendo o pagamento. As coisas que tem aqui não tem em outros países. Chega na Rocinha, aquilo ali ... Dante Alighieri, se tivesse andado ali, o inferno dele seria outro. O senhor está falando da Rocinha? Aquilo está se espraiando. Aquilo é solução urbana? Um cartão postal da cidade. As pessoas estão satisfeitas morando naquela situação? Claro que não. e outras (favelas) que estão aí. A Rocinha não pára de crescer. O senhor tem uma política para evitar? É um processo. Tem que ter um projeto nacional. O prefeito não pode se limitar a ser um síndico rigoroso sem ser inserido na discussão política sobre o projeto nacional, para ir eliminando as causas. Não é possível que o avanço tecnológico no Brasil esteja servindo para aumentar o desemprego, para substituir profissões. Tem que ter um debate nacional sobre o modelo de país. Os jovens estão desesperançosos, sem horizonte.   Estado-E na segurança, o que o senhor faria, uma parceria com o Estado?   O modelo de segurança pública está baseado em uma premissa falsa. O que foi estabelecido no governo Marcello Alencar ainda é que o elemento propulsor da criminalidade é o crime organizado. Simplificaram o crime organizado no tráfico de entorpecentes. E reduziram mais ainda: nas favelas. Todo o aparato do Estado foi sendo dirigido através de operações policiais nas favelas. A Polícia Militar foi deixando de fazer o policiamento ostensivo normal para fazer operações nas favelas. A Polícia Civil foi deixando de fazer a investigação criminal para fazer operações policiais nas favelas. Tem que restabelecer a normalidade institucional. Tem que desestressar a segurança pública, que está estressada. Hoje, a insegurança decorre muito mais do modelo da ação policial do que da ação do criminoso. É preciso restabelecer o policiamento ostensivo normal. Aí, sim, amplia o efetivo da Guarda Municipal, recoloca a Polícia Militar no trânsito.   Estado-O senhor é a favor de armar a Guarda Municipal?   Não. Defendo que para a vida pessoal do guarda municipal, os guardas tivessem porte de arma. Mas para a vida pessoal. O modelo de segurança pública, que é uma inverdade, tem que mudar. A polícia do Rio é a que mais mata, mas também a que mais morre. O princípio da autoridade está completamente fragilizado. A presença da polícia desestimulando a prática criminosa. Acontece isso hoje? Não. Paga mal e dá autoridade. A tendência é o descontrole ético. E o que a prefeitura pode fazer? Uma interlocução. Ter uma conversa com o governador: "vamos discutir esse modelo de segurança pública".   Estado-O senhor é a favor do Exército nas ações de combate à violência?   Completamente contra. O Exército tem outras atribuições ligadas à soberania nacional. Tenho um projeto para o serviço militar. Um planejamento estratégico de segurança da Amazônia e do Pantanal. Reduziria o tempo do serviço militar, o jovem ficaria quatro meses, aprenderia os fundamentos. Imagina o jovem dizer; "no ano de 2008, eu aprendi a proteger a pátria e defendi a Amazônia, protegi o Pantanal". Tem uma finalidade imediata. O que faz o jovem não querer o serviço militar é que ele acha que é perda de tempo. Se tem finalidade imediata, ele se entusiasmaria. O senhor disse que não construiria a Cidade da Música. Se eleito, o que faria com ela? Venderia. Eles têm lojas, restaurantes. Até em homenagem à Orquestra Sinfônica Brasileira, eu poderia reservar o teatro à OSB. Haveria quem comprasse? Minha posição é vender, mesmo que o município tenha algum prejuízo. O que não dá é o município ter que terceirizar a gestão a preço pequeno. Um aluguel também teria preço pequeno. Eu venderia. E descentralizaria as atividades culturais. Investiria em cultura.   Estado-O senhor está convencido de que houve sobrefaturamento na Cidade da Música?   Vejas as obras do Pan. A avaliação é que custariam R$ 400 milhões. Custaram R$ 4 bilhões. A conclusão é óbvia. Por quanto foi projetada a Cidade de Música e quanto vai custar. Já está em R$ 500 milhões.   Estado-O senhor começou a entrevista citando o ex-governador Leonel Brizola. O brizolismo ficou no passado?   Brizola pagou um preço alto pelas pessoas que ele próprio patrocinou. Imaginar que Cesar Maia está aí, que Marcello Alencar ainda está aí, que Garotinho está aí. Todos que Brizola mais prestigiou, que conseguiram ser alavancados, traíram Brizola. Qual foi a conseqüência disso? O Brizola era a principal figura política do País, mas conseguiram dissociar o Brizola das esperanças da população. Tinha prestígio político e não tinha prestígio eleitoral correspondente. Tem que ver a contribuição dada pelos próprios controlados dos meios de comunicação, a começar pelo Sistema Globo. Brizola pagou um preço não foi pelos erros, foi pelos acertos. Era uma espécie de estadistas, tinha um projeto nacional. Não dá para comparar com o Fernando Henrique Cardoso, com o Lula, que não têm projeto nacional. São subservientes, submissos. Brizola não foi corrompido nem seduzido. Não chamo de brizolismo, chamo de trabalhismo. O trabalhismo ainda é a alternativa.

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