Cancelar viagem aos EUA pode prejudicar relações comerciais, diz especialista

Especialista destaca que os Estados Unidos continuam sendo o principal parceiro econômico do Brasil

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O professor de Relações Internacionais da Escola de Sociologia e Política de São Paulo Moisés Marques disse que acha improvável que a presidente Dilma Rousseff cancele sua viagem para os Estados Unidos após as denúncias de espionagem. Segundo ele, Dilma sofrerá pressão do empresariado brasileiro, que teme que a suspensão do compromisso vá fragilizar as relações bilaterais de comércio entre os países. A visita está prevista para 23 de outubro.O que o sr. acha do cancelamento da viagem de Dilma aos EUA?Não acredito que vá ter a suspensão, porque existem vários interesses envolvidos. Quando se faz uma viagem desse tipo a comitiva de empresários que vai é muito maior do que a de políticos. Não acho que ela vá tomar essa decisão. Se tomar vai ser complicado. Por que complicado?Vai ser um sinal inequívoco de que essas espionagens criaram um tremendo desconforto. Teria outra série de consequências. A primeira delas é que a relação entre Brasil e EUA, em termos econômicos, pode piorar. Ela está razoável há alguns anos. Nunca chegou a ser fantástica, mas nunca houve ruptura. No caso, seria uma ruptura entre a maior potência da América do Norte e a maior potência da América do Sul. O sr. pode dar exemplos? Por exemplo, o Brasil pode tirar da atual licitação para compra de novos caças os aviões da Boeing. São 36, é um valor relativamente alto, o Brasil pode eventualmente tentar suspender essa licitação. Outra coisa é que várias empresas brasileiras têm negócios grandes nos EUA e vice-versa e se sentiriam afetadas. Várias outras coisas. Os EUA vendem para o Brasil uma série de manufaturas em geral e acabam comprando cítricos, um pouco de petróleo, carne, soja. Mesmo produtos que às vezes são concorrentes para eles, mas que eles acabam comprando para complementar porque eles têm um consumo muito grande. A questão é que os norte-americanos ainda são nosso maior parceiro comercial, revezando mais recentemente com a China. Se Dilma não for, pode ser o começo de uma crise diplomática entre os dois países?É claro que isso não vai criar problemas diplomáticos clássicos, porque não há um rompimento de relação, é uma simples não ida. Mas isso pode atrapalhar um pouco negociações que já estavam em andamento. Principalmente para o Brasil, acredito que seria ruim porque há uma série de possíveis acordos comerciais que podem ser feitos entre os dois e que, com a desistência da viagem, podem ficar congelados. Isso pode piorar a relação comercial entre os dois países, que já não é muito boa.E do ponto de vista político?Do ponto de vista político é o maior problema. É bastante negativo para a política externa americana, que quer manter sua influência na região. Ficaria muito ruim porque é um país do porte do Brasil estaria dando sinal negativo para isso. Os EUA perdem mais espaço na região justamente com o País que eles consideravam um aliado. Os americanos perderiam um aliado. Dá a impressão de que um episódio que precisa ser explicado acaba maculando uma relação de muitos anos. O sr. se refere às espionagens?Sim. Os EUA precisam parar com isso. Boa parte dessa espionagem que aconteceu foi comercial. Eles na verdade estavam interessados em obter informações comerciais nossas. Os americanos não tinham nenhuma suspeita de que o Brasil tivesse atos terroristas e principalmente com participação de alguém do governo. Isso piora muito e isso pode não ser bom.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.