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Brancos são metade da população, mas governarão 70% das cidades

Essa é a primeira vez na história em que é possível saber a distância que separa brancos de pardos e pretos na política municipal, após o tribunal ter obrigado os concorrentes a declarar sua cor de pele no momento de registrar a candidatura a partir de 2014

Por Rodrigo Burgarelli
Atualização:
João Doria, do PSDB, foi o único candidato eleito pela primeira vez no primeiro turno em São Paulo Foto: Gabriela Biló/Estadão

SÃO PAULO - Apesar de compor 47% da população, segundo os dados do Censo Demográfico de 2010, os brancos vão governar 70% dos municípios brasileiros a partir do ano que vem, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essa é a primeira vez na história que é possível saber a distância que separa brancos de pardos e pretos na política municipal, após o tribunal ter obrigado os concorrentes a declarar sua cor de pele no momento de registrar a candidatura a partir de 2014.

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A maior subrepresentação racial nas prefeituras, em pontos porcentuais, será a dos pardos. Eles compõem pouco mais de 43% da população brasileira, mas foram eleitos prefeitos em apenas 27% dos municípios. Já os negros, que são cerca de 8% da população, governarão 2% das cidades brasileiras. O 1% restante dos total de municípios será administrado por candidatos que se declararam amarelos (em 28 cidades) e indígenas (em 6).

Os dados deste ano ainda são provisórios e não contam as 55 cidades que terão disputa pelo segundo turno nem 8 municípios que, até o meio-dia desta segunda, 3, ainda não tiveram a apuração concluída pela Justiça Eleitoral. Entretanto, é improvável que haja mudança significativa na distribuição de prefeitos de acordo com a cor da pele, por causa do alto número de municípios em que a apuração já foi finalizada: 5.505.

O fosso racial na administração das cidades brasileiros não se constrói apenas na hora do voto. Primeiro, há o filtro das candidaturas - brancos se candidatam mais a prefeito que candidatos de outras raças - e, depois, o filtro do dinheiro - são eles também que arrecadam mais recursos, que, nas eleições passadas, já se mostraram essenciais para o sucesso nas campanhas eleitorais. 

Conforme o Estadão Dados mostrou no decorrer da campanha, os brancos já eram a maioria dos candidatos a prefeito: 66% do total dos concorrentes declararam ter essa cor de pele. E, em média, eles haviam arrecadado 65% a mais do que os não-brancos em recursos eleitorais até a metade do mês passado.

Nas eleições de 2014, as primeiras após a regra da auto-declaração da raça se tornar obrigatória, já foi possível observar que houve proporcionalmente mais candidatos brancos do que na população como um todo (56%) e que eles se elegeram em porcentual ainda maior (75%). Essa proporção foi ainda maior para cargos mais importantes, como deputado federal (80%) e senador (82%).

Divisão regional. Na análise regional, Espírito Santo e Rio de Janeiro lideram o ranking de Estados com maior diferença entre a composição racial da sua população e a dos prefeitos que irão governá-la. Nesses dois Estados, o porcentual de brancos entre os prefeitos eleitos é mais de 40 pontos porcentuais maior que na média da população. Em ambos, os brancos são minoria da população, mas governarão quase 90% dos municípios. 

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Em apenas um Estado brasileiro a proporção de brancos na população é maior do que a dos candidatos eleitos para as prefeituras: o Acre. Lá, os brancos vão governar apenas 23% dos municípios - cerca de 1 ponto porcentual a menos que a proporção geral desse grupo racial na população. 

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