“Cara, dá um tempo! Me deixa...!” – O candidato Jair Bolsonaro em campanha é refratário às regras da equipe de segurança e, nas ruas, jamais abandona o estilo corpo a corpo: apertos de mão, fotos, muitos abraços, autógrafos em camisetas, selfies e paradas para conversar. Um pesadelo para os agentes da Policia Federal que o acompanham desde os últimos dias de agosto. Bolsonaro foi o primeiro a solicitar os cuidados que a PF ofereceu a todos os concorrentes à presidência da República sacramentados nas convenções dos partidos políticos e registrados na Justiça Eleitoral. Cada um dos candidatos mais bem situados nas pesquisas de intenção de voto é protegido por uma equipe de 20 agentes, sob o comando de um delegado. Os demais contam com esquemas menores. Eventualmente, em um evento de maior exposição, o plano pode ser ampliado.
O grupo dos federais encarregado de garantir autoridades é uma espécie de time de elite, agentes prontos para salta na frente de um tiro, peritos em disparos de precisão e artes marciais. Na tarde de quinta-feira, em Juiz de Fora, havia 13 homens dando cobertura a Bolsonaro na rua Halfeld. Alguns, talvez quatro ou cinco, claramente identificados – camisetas pretas e insígnias bem a vista, inevitáveis óculos escuros escondendo a direção dos olhos. Os outros, em trajes comuns, misturados entre a multidão. Todos com uma missão prioritária, procurar entre as pessoas o rosto do atentado, um homem ou uma mulher vestido em desacordo com o clima, olhar fixo, pálido, respiração irregular, tenso, eventualmente transpirando anormalmente. Funciona melhor em ambientes controlados.
Adélio Bispo e sua faca de cortar frutas e legumes não atraíram a atenção de ninguém a não ser quando o autor do ataque já havia passado do primeiro perímetro de defesa. O segundo círculo, formado pelos agentes mais próximos do alvo, conteve parcialmente a estocada que, de outra forma, teria provocado a morte por hemorragia e dilaceração das vísceras. “Foi por bem pouco”, disse a um amigo médico, o cirurgião Paulo Oliveira Junior, da Santa Casa de Juiz de Fora, responsável direto pela delicada recomposição vascular do abdômen ferido.
As equipes da Policia Federal designadas para a garantia dos candidatos serão reforçadas em 60% do efetivo garantiu o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. E as normas definidas em horas de treinamento e experiência acumulada terão de resistir às variações de temperamento dos protegidos. Até agora Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Marina Silva e Alvaro Dias estão sendo acompanhados em regime de 24 horas. À exceção de Marina, da Rede, os demais mantém seguranças privados em caráter complementar. Os de Jair Bolsonaro são voluntários, quase todos policiais militares.