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Bolsonaro ataca STF no dia do julgamento de nova denúncia de racismo contra ele

Candidato do PSL à Presidência afirmou que magistrados têm 'que se dar ao respeito'; Corte julga caso de preconceito contra quilombolas e refugiados

Por Constança Rezende
Atualização:

RIO DE JANEIRO - No dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa se tornará réu por racismo o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, o candidato atacou os ministros da Corte durante agenda pública no Rio. O deputado afirmou nesta terça-feira, 28, que o Supremo tem de “respeitar” o povo brasileiro e criticou a discussão sobre a descriminalização do aborto para mulheres que façam a interrupção voluntária da gestação até a 12.ª semana da gravidez.

"Quero mandar um recado para o STF: respeite o Artigo 53 da Constituição que diz que eu, como deputado, sou inviolável por qualquer opinião. E ponto final, p...(sic). A missão do STF não é fazer leis. Eles querem agora legalizar o aborto. Não é atribuição deles e ponto final. Eles têm que ser respeitados? Têm. Mas têm que se dar ao respeito também. Não é porque a Câmara não decide que eles devem legislar. Respeito o STF, mas eles têm que respeitar o povo brasileiro", disse o candidato em visita ao Central de Abastecimento do Rio de Janeiro (Ceasa) da capital fluminense.

O presidencíavel do Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, fez campanha no Mercado Popular de Madureira, na zona norte do Rio, na tarde desta segunda-feira, 27 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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Bolsonaro também fez referência às religiões dos ministros. Segundo ele, não há nenhum ministro do STF que se diga cristão. "Nós somos 90% cristãos. Por que não temos nenhum lá dentro (do STF)? Porque, de acordo com indicação política, o PT botou oito. O PT botou gente (no STF) que interessa ao seu projeto de poder", afirmou. O candidato acrescentou que os ministros do STF estão "na iminência de interpretar a perda de liberdade após condenação em 2.ª instância". Segundo ele, com a suposta aprovação, poria "todo mundo pra fora". "É um estímulo para a corrupção", emendou. Questionado por eleitores, em meio à entrevista à imprensa que concedeu, sobre qual a sua proposta para o STF, Bolsonaro negou ser a favor de concurso público para as nomeações dos ministros. O candidato do PSL disse que aceitaria esse modelo "se fosse para todos os 11, começando do zero". "Do modo que está, vão ter três indicações no futuro. Vocês sabem o perfil que indicarei. Vamos tentar buscar equilibrar o jogo", argumentou.

Julgamento

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julga esta tarde uma denúncia contra Bolsonaro pelo crime de racismo. Se a denúncia for acatada, o inquérito será transformado em ação penal, e Bolsonaro passará à condição de réu.Caso a denúncia seja aceita, não há previsão que ela seja analisada até o fim da eleição. 

De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro praticou de racismo em uma palestra que deu no clube A Hebraica, do Rio de Janeiro, em abril do ano passado. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, considera que ele demonstrou preconceito contra quilombolas e refugiados. Bolsonaro afirmou que "o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas". "Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais", disse Bolsonaro na ocasião.

Bolsonaro já é réu no STF em outra ação penal, aberta em 2016, em razão de uma entrevista na qual ele disse que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não merecia ser estuprada. Ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ele declarou em dezembro de 2014 que ela era “muito ruim” e “muito feia” e, por esse motivo, não seria merecedora do estupro. Duas ações penais o tornaram réu em razão desses casos. 

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Xingamentos 

O presidenciável defendeu-se das acusações de racismo, homofobia, misoginia e xenofobia com críticas ao chamado “kit gay” – material didático preparado pelo Ministério da Educação durante o governo da presidente cassada Dilma Rousseff (PT), que atacou. As afirmações foram feitas em atividade de campanha no Rio. Cercado por simpatizantes que fizeram a maior parte das perguntas em ambiente preparado para receber a imprensa, Bolsonaro disse que “a senhora Raquel Dodge, lamentavelmente, fez uma juntada disso (acusações por declarações dele) e mandou para o STF”. O candidato disse também que inventaram que ele é misógino e ironizou que agora “não gostava de mulher”.

“Descobriram que eu sou gay, é aquela palhaçada de sempre”, minimizou, sendo recebido por gargalhadas de eleitores.

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O presidenciável disse que “ninguém quer chegar e encontrar o filho Joãozinho de sete anos de idade brincando de boneca por influência da escola”. Com xingamentos, disse que estão "tentando abrir as portas para a pedofilia". Bolsonaro acrescentou que “queremos que o nosso filho em sala de aula seja respeitado e não que fique inventado coisinha pra botar na orelha dele com seis anos de idade”. 

“Ele em um piu-piu debaixo da perna, mas quando tiver 12 anos de idade, vai decidir se vai ser menino ou não. Vamos acabar com isso. Até o pessoal da imprensa, duvido que vocês querem isso para o seu filho ou sua filha. E não peguem, por favor, pedacinhos do que falei aqui para dar outra conotação lá na frente”, disse.

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