Bancadas do lobby terão mais força na Câmara

Ascensão de siglas ligadas aos principais grupos deve ter influência sobre a pauta

Por Mariana Haubert e Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA - Com a ampliação dos partidos mais ligados a pautas conservadoras, as três principais frentes da Câmara que defendem temas específicos – bancada da bala, evangélicos e do agronegócio – tendem a se fortalecer na próxima legislatura, mesmo com o alto índice de renovação.

Sessão na Câmara dos Deputados. Foto: Adriano Machado/Reuters

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Se analisadas em conjunto, as três reelegeram menos da metade de seus atuais integrantes, mas a ascensão de partidos ligados aos temas deve dar impulso para que ampliem a influência sobre a pauta da Casa.

“Os assuntos que elas defendem foram legitimados nestas eleições. Se elas perderam um membro que não tenha sido reeleito agora, deverão ganhar dois no próximo ano. Elas vão ficar muito mais aguerridas”, afirmou ao Estadão/Broadcast o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz. Entre estas pautas está a liberação do porte de armas, bandeira do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que disputa o segundo turno contra Fernando Haddad (PT).

Entre julho e agosto, o Estado publicou na série de reportagens Os donos do Congresso como o lobby desses setores atua no dia a dia da Câmara. Dos 513 deputados federais hoje no País, 285 participam diretamente da defesa de demandas desses setores.

Em relação às reeleições para a próxima legislatura, a menor renovação foi nas bancadas evangélica e ruralista. Na primeira, dos 82 deputados ativos, 37 foram reeleitos, ou seja, 45%. No caso da segunda, 54 deputados, do total de 119, continuarão seus mandatos, representando a reeleição também de 45% da bancada. No caso da bala, apenas 35% dos seus 34 integrantes permanecerão na Câmara.

Influência. O crescimento exponencial do PSL, que veio na esteira da candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência, deverá ajudar na ampliação do poder da bancada da bala, principalmente, ainda que ele tenha influência nas outras duas também. Os três grupos declararam apoio formal ao parlamentar ainda no primeiro turno das eleições. 

O PSL, que tem oito deputados, elegeu 52 parlamentares nestas eleições. Outro fator que também deve influenciar nesta questão é o aumento da participação de militares no Congresso. Hoje, seis parlamentares usam as patentes nos seus nomes oficiais. Neste pleito, foram eleitos 18 deputados com estas características.

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Atualmente deputado, Bolsonaro é um dos que mais defende a liberação da posse e do porte de armas, tema considerado crucial pelo grupo suprapartidário. A bancada defende também o endurecimento da legislação penal e a defesa de privilégios de policiais.

“Se Bolsonaro for eleito no segundo turno, estas bancadas terão respaldo do Executivo para avançar com estas propostas”, disse Queiroz. 

Apesar da tendência de crescimento, a bancada perderá nomes importantes. O presidente da Frente Parlamentar da Segurança, Alberto Fraga (DEM), que integra o grupo, não estará na Câmara no ano que vem. Ele disputou o governo do Distrito Federal mas ficou em sexto lugar, obtendo pouco mais que 5% dos votos válidos. Já o deputado Major Olímpio (PSL-SP) foi eleito senador.

O crescimento do PRB, ligado a igrejas evangélicas, também é apontado como um dos fatores para o crescimento da bancada religiosa. O partido, que hoje tem 21 deputados, passará a ter 30 a partir do ano que vem.

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A bancada conseguiu reeleger quase metade de seus integrantes, mas foi a que, proporcionalmente, mais tentou a reeleição neste ano. De acordo com os registros de candidaturas, 84% dos 82 parlamentares que compõe esse grupo tentaram garantir um retorno ao mesmo cargo no próximo ano. Um dos que não concorreu ao cargo de deputado federal, foi Cabo Daciolo (Patriota-RJ) que disputou a Presidência da República.

Para a próxima legislatura, um dos objetivos deste grupo é evitar mudanças em questões ligadas ao aborto e às drogas. O grupo é liderado na Câmara pelo deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR), que não foi reeleito.

A bancada ruralista também perdeu nomes de peso, como os deputados Nilson Leitão (PSDB-MT) e Adilson Sachetti (PRB-MT) que concorreram ao Senado, mas não foram eleitos. De Santa Catarina, Valdir Colatto (MDB) também ficou de fora.

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A poderosa bancada do agronegócio, que tem hoje a participação ativa de ao menos 119 deputados federais, tentou em peso à reeleição neste ano. Do grupo, 77% dos parlamentares registraram candidaturas para o cargo de deputado federal, porém apenas 45% foi eleito, ou seja, 54 deputados. Entre os que voltam à Casa no próximo ano, está a presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), a deputada Tereza Cristina (DEM-MS). A parlamentar liderou o movimento da bancada em apoio a Bolsonaro. O apoio do setor foi bastante disputado desde o início da campanha entre os candidatos ao Planalto do Palácio, devido a força da bancada que é uma das mais bem organizadas do Congresso.