Aura de Campos envolve Pernambuco

Comoção com tragédia fez de ex-governador um forte cabo eleitoral de Marina no Estado no 1º turno; influência agora é colocada à prova

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Por Redação
3 min de leitura

O desaparecimento precoce, vítima de um acidente aéreo aos 49 anos e às vésperas do início da propaganda eleitoral, em agosto, fez do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos o cabo eleitoral mais poderoso do 1.º turno. Seu grupo político manteve a hegemonia no Estado e impingiu derrotas marcantes ao PT. A dúvida é se essa força política influenciará também a votação que vai definir hoje o próximo presidente da República.

Em seu reduto, o neto de Miguel Arraes elegeu o sucessor com a maior votação proporcional do País, Paulo Câmara, um economista pouco conhecido que será governador após passar pelo secretariado de Campos. Também foi eleito senador o ex-ministro Fernando Bezerra, desbancando o deputado e ex-prefeito do Recife João Paulo (PT).

A parceira de chapa do ex-governador, Marina Silva, assumiu a candidatura presidencial do PSB e foi a mais votada pelos pernambucanos, único eleitorado do Nordeste a não dar preferência para Dilma Rousseff. E, para completar, a terra em que nasceu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não elegeu sequer um deputado federal petista.

A viúva Renata Campos e os filhos durante votação no Recife no 1º turno Foto: Hélia Scheppa/JC IMAGEM

Para o 2.º turno, tanto o PSB quanto a viúva e os filhos de Campos anunciaram apoio a Aécio Neves (PSDB). O tucano obteve 6% dos votos válidos no dia 5 - seu pior desempenho no País - e conta com a família do ex-governador para atrair a maioria dos 48% de eleitores que escolheram Marina - Dilma obteve 44% dos votos válidos.

O cientista político Hely Ferreira, do Núcleo de Estudos Eleitorais e Partidários da Universidade Federal de Pernambuco, não acredita que a transferência de votos para Aécio se dará de maneira automática. “No 1.º turno, teve efeito para Marina porque era da chapa dele (Campos). Historicamente, o processo natural do PSB era estar ao lado do PT no 2.º turno.”

Após a morte do ex-governador, o eduardismo, como ficou conhecido o movimento político dele, ganhou mais força. Campos foi onipresente na campanha, o que criou situações inusitadas. Até o adversário de Câmara, o senador Armando Monteiro (PTB), apoiado pelo PT, exibiu vídeo do ex-governador na propaganda eleitoral com elogios de Campos feitos em 2010, quando eram aliados. 

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Família. A vitória de Câmara no 1.º turno, com 68% dos votos válidos, teve participação ativa da família Campos. A viúva, Renata, e os filhos do casal se engajaram na campanha, em especial o primogênito, João, apontado como herdeiro político do pai. O apoio dado a Marina no 1.º turno presidencial foi transferido para Aécio.

No Facebook, João chegou a conclamar, em vídeo, os jovens que participaram das manifestações de junho de 2013 a ingressar na campanha tucana. “Se engajem e participem da campanha do futuro presidente Aécio Neves nesta reta final. Principalmente você que é jovem, que foi às ruas no ano passado. Agora chegou a hora de escolher o caminho da mudança. Eu sou brasileiro. Eu sou Aécio 4.5.’’

Para o senador Humberto Costa (PT), coordenador da campanha de Dilma no Estado, a comoção em torno da morte de Campos foi o “grande motor” da campanha no 1.º turno. O petista acredita que esse impacto não se repetirá na votação de hoje. “Essa grande vitória (do PSB) tem tudo a ver com a associação feita ao Eduardo Campos e à tragédia”, disse. “O voto para presidência guarda independência importante em relação às lideranças locais, estaduais.” 

A imagem de Campos tampouco vai descansar. Artistas plásticos responsáveis pela fabricação dos bonecos gigantes de Olinda finalizam um novo boneco com as feições do ex-governador - o atual o retrata mais jovem. A previsão é de que esteja pronto no carnaval.

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