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Apoio de Lula não ajuda impulsionar Marta, diz cientista

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Por CAROLINA RUHMAN E GUSTAVO PORTO
Atualização:

Não basta apenas o apoio e a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudar a impulsionar a campanha de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo neste segundo turno. A petista precisa ampliar o diálogo com a classe média para tentar reverter o quadro desfavorável. A avaliação é de Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para o cientista político, a questão chave é a classe média. "O desempenho de Marta tem refletido muito a mudança no perfil do eleitor do PT em SP. Hoje o eleitor do PT está muito concentrado em uma camada social mais vulnerável, mais carente, e menos nos bairros de classe média, como se caracterizava no passado", apontou. A parceria com Lula tem sido constantemente enfatizada pela petista. Na tentativa de superar seu adversário, o atual prefeito Gilberto Kassab - "São Paulo no Rumo Certo" (DEM-PR-PMDB-PRP-PV-PSC) -, o PT insiste na tese de que o único candidato com facilidade de conseguir verbas é Marta. "Uma coisa é ter uma prefeita de São Paulo que apóia o presidente Lula, que vai facilitar o trâmite de projetos. Outra coisa é ter uma prefeitura que se alinha com a oposição sistemática", disse à Agência Estado o presidente do diretório estadual do partido e prefeito de Araraquara, no interior de São Paulo, Edinho Silva. Entretanto, Teixeira ressalta que embora o governo de Lula tenha índices históricos de aprovação, a administração Kassab também é bem vista pela população paulistana. "Você tem que reconhecer que assim como o Lula está com um prestígio de governo muito grande, isso também é verdadeiro para o Kassab na capital", apontou. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada no dia 30 de setembro, a gestão Kassab é avaliada como boa ou ótima por 49% dos entrevistados. Contra e a favor Em sua avaliação, há uma divisão no eleitorado paulista entre contra e a favor do PT. Ele diz que em 2002 houve o rompimento da luta entre petistas e malufistas, a qual deu lugar a uma disputa entre PT e PSDB na capital. "De alguma maneira, o Kassab expressa essa rivalidade entre PT e PSDB, apesar de não pertencer aos quadros do PSDB. Na realidade, o Kassab é uma construção política do Serra. Ele não é alguém organicamente vinculado a um projeto do partido dele, que é o DEM", reiterou. Neste contexto, o pesquisador da PUC e da FGV acredita que Marta está em uma situação difícil, até porque ela não deve conseguir nenhum apoio formal de outros partidos no segundo turno. O PSDB já se posicionou ao lado de Kassab, enquanto o PP, partido de Paulo Maluf, posicionou-se como neutro e o PPS de Soninha Francine já avisou que não dará apoio a Marta. "Marta vai precisar de muita capacidade para construir uma agenda de propostas que contemple a classe média", disse, e arriscou um diagnóstico: "Eu diria que o problema não é o PT, talvez seja a própria imagem que a Marta tem." Terreno perdido No início do segundo turno, a estratégia inicial da campanha da petista tem sido a de recuperar o terreno perdido na zona leste, seu tradicional reduto eleitoral, para o adversário do DEM. Na avaliação de sua equipe, é "mais fácil" Marta recomeçar a campanha tentando reaver os votos perdidos na região para Kassab. A candidata da coligação "Uma Nova Atitude para São Paulo" (PT-PCdoB-PDT-PTN-PRB-PSB) obteve mais votos na periferia, enquanto Kassab teve melhor desempenho no centro da capital paulista. Entretanto, o prefeito superou a petistas em alguns bairros da zona leste, como Sapopemba, Parque do Carmo, Ermelino Matarazzo e Ponte Rasa. Em outros, como Itaquera, a votação foi apertada: Marta ficou com 35% dos votos válidos e Kassab com 31%. Marco Antônio Carvalho Teixeira destaca que a zona leste é uma região ampla, onde há "ilhas de classe média", como no caso do Tatuapé e da Penha. Nestes dois bairros, Marta perdeu para Kassab por 43% a 16% e 42% a 17%, respectivamente. O resultado reflete, em sua visão, esta mudança no eleitorado petista. "A própria lógica do governo dela (2001-2004) foi de contemplar muito esses setores mais vulneráveis da sociedade", lembrou. O discurso oficial de Marta é de que pretende conquistar os eleitores da cidade inteira. "Você não escolhe o eleitor que seja o eleitor do Morumbi, de Pinheiros, ou de Itaquera ou do Grajaú. Eu posso ter tido mais votação aqui ou ali, mas eu tenho que fazer propostas para todos os eleitores", argumentou a petista hoje. Entretanto, a agenda da petista parece dizer outra coisa. Marta concentrou a retomada das atividades de campanha nesta semana na zona leste - ela visitou ontem o comércio em Cidade Tiradentes, bairro onde teve seu melhor desempenho na região, e hoje fez corpo-a-corpo em Itaquera.

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