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Antes da proibição legal, Roger Waters projeta 'ele não' em Curitiba

Justiça Eleitoral havia alertado o cantor britânico sobre proibição de manifestação política-eleitoral nas vésperas do pleito no Brasil

Por Katna Baran
Atualização:

CURITIBA - O cantor britânico Roger Waters voltou a se manifestar politicamente em seu show em Curitiba, na noite deste sábado, 27. Pouco antes das 22h, foi projetado um texto no telão explicando que a produção do show foi alertada pela Justiça Eleitoral sobre a legislação brasileira, que não permite manifestações políticas após esse horário na véspera do pleito.

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"São 21:58 e nos disseram que depois das 22h não podemos falar sobre eleições. É lei", dizia o texto. Depois, outra tela foi projetada com os dizeres: "Essa é nossa última chance de resistir ao fascismo antes de domingo". E depois: "ele não", em referência aos protestos contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Depois disso, o telão avisou que ainda faltavam 30 segundos para a possibilidade de manifestação política antes da restrição legal. Às 22h, o telão alertou: "São 22h. Obedeçam a lei". As frases causaram mais vaias que aplausos do público na capital paranaense. Alguns grupos entoaram "ele não", enquanto outros gritavam "mito". Outros presentes chegaram a gritar "fuck you" para o artista. Depois, em uma fala, o cantor disse em inglês “I love you too” (eu amo vocês também) e afirmou que este se tratava de um espetáculo de "amor".

O cantor, compositor e músico Roger Waters, ex-Pink Floyd Foto: Fabio Motta/Estadão

Após cantar a música “Another brick on the wall” com a participação de crianças curitibanas, houve um intervalo no show, momento em que foram projetadas várias frases de protesto no telão, remetendo à “resistência” a várias formas de violência, como a discriminação religiosa e étnica, o abuso policial, as oligarquias globais, a escravidão e as guerras. A plateia entoou em alguns momentos “ele não” e, logo após, outro grupo mais forte gritou “fora PT” e “mito”.

O show na capital paranaense foi realizado no estádio Couto Pereira, do Coritiba, e teve 41.480 ingressos vendidos. Na sexta-feira, 26, a Justiça Eleitoral do Paraná mandou advertir a produção do show do cantor para as restrições de manifestações políticas-eleitorais que ocorrem a partir das 22h do dia que antecede as eleições, no domingo, 28. A decisão do juiz eleitoral Douglas Marcel Peres tem como base um pedido do Ministério Público Eleitoral. 

O magistrado observou que a lei eleitoral brasileira traz restrições para “o livre e ilimitado exercício de manifestação” no dia anterior e na data do pleito. “(Entre 22h e) meia-noite (de sábado), há uma restrição para manifestação pública em prol ou contra candidatos a cargos eletivos, transgressão essa sujeita a multa”, escreveu. Ele alertou que, após 0h de domingo, qualquer manifestação política pode configurar boca de urna, sujeita à prisão. 

Depois de questionada sobre a notificação de outros eventos, a assessoria do TRE informou que outro show que ocorreu em Curitiba na noite deste sábado, o da cantora Alcione, também foi notificado sobre a restrição da legislação eleitoral. Poucas horas antes do show em Curitiba, ela manifestou pelas redes sociais voto em Fernando Haddad (PT) no segundo turno. 

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Shows do cantor são marcados por manifestações políticas Foto: Reprodução/Twitter

As mensagens de resistência foram iguais às apresentadas em shows anteriores de Waters e citavam o anti-semitismo e ao neo-fascismo em referência a nomes de alguns políticos como Vladimir Putin, Donald Trump e Marine Le Pen. No último nome, havia uma tarja preta, que em espetáculos anteriores trazia o nome de Bolsonaro. Outra frase projetada também pedia resistência àqueles que “premiam a tortura”.

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