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Análise: As curvas dos gráficos contam a história da eleição em SP

Na véspera, Bruno Covas aparece à espera de adversário, sonhando com ventos que o façam liquidar já a fatura, como se deu com Doria em 2016

Por Carlos Melo
Atualização:

Há meses, Celso Russomanno disparava na corrida eleitoral e Bruno Covas carregava o desgaste da administração. O PT, tradicionalmente competitivo, apostava na mística da militância; Márcio França prometia repetir 2018, na cidade; Guilherme Boulos era um azarão. E os padrinhos – Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva e João Doria – pairavam sobre os mortais.

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Mas, pesquisas são instantâneos; um fotograma, enquanto política é filme. Somente o processo, observado nas curvas dos gráficos que as ilustram, pode dar ideia do que foi, de fato, a eleição. É para eles que se deve olhar: na ponta da curva da pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo, desta véspera de eleição, vê-se que Russomanno era apenas o mais conhecido; que a visibilidade na pandemia, a máquina e a precariedade dos adversários não poderiam ser desprezadas e isso de fato parece ter pesado a favor de Covas.

Mais: que o PT pode estar vivendo sua mais decisiva crise; que Guilherme Boulos se revelar como o novo astro da esquerda nacional; que as eleições de 2018 não podem ser parâmetro para outras. E o mais importante: que os padrinhos, mais desgastados e rejeitados do que queridos, se revelaram obsolescentes – Bolsonaro, de modo mais acelerado do que se imaginava. No mais, candidatos antes inexpressivos assim permaneceram; um tapa na vaidade de vários deles.

Na véspera, Bruno Covas aparece tranquilo à espera de adversário, sonhando com ventos que o façam liquidar já a fatura eleitoral, como se deu com João Doria em 2016. Para Guilherme Boulos, Márcio França e Celso Russomanno, o segundo lugar parece ter se tornado algo até mais importante do que ir ou não ao segundo turno, pois olham para o que o futuro lhes reserva (ou não), após a eleição. Difícil dizer o que será; a eleição acontece a cada dia e ainda falta um.

* CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER