Americanos buscavam apoio brasileiro na 2ª Guerra

Após encontro com presidente dos EUA, Vargas determinou a criação da Força Expedicionária Brasileira

PUBLICIDADE

Por NATAL
Atualização:

Eram quase 8 horas quando as águas do Potengi receberam o impacto da aeronave de Roosevelt. O presidente americano voltava de uma conferência de guerra em Casablanca, no Marrocos."Na ida, o avião que levava Roosevelt voou para Belém, no Brasil, depois cruzou o Atlântico, até a colônia britânica de Gâmbia, daí para Casablanca", explica o escritor Roberto Muylaert, no livro "1943". A reação aliada ao nazifascismo estava no auge e Roosevelt trabalhava para consolidar o apoio do Brasil aos aliados e, com isso, evitar a expansão alemã na América do Sul. E queria transformar Natal, o ponto mais próximo da África - 3 mil quilômetros de travessia oceânica até Dakar, no Senegal - em um trampolim da aviação de combate e abastecimento das tropas que lutavam contra o Eixo Alemanha-Itália-Japão.Na cidade, como também mostra a obra de Muylaert, o presidente norte-americano selou com Vargas a participação brasileira na guerra. Desse encontro derivaram a criação, meses depois, em setembro, da Força Expedicionária Brasileira (FEB), e também de ordens que renderam ao Brasil acordos comerciais como a construção da siderúrgica de Volta Redonda, base para o que seria, nas décadas seguintes, suporte para a indústria brasileira. E, por fim, serviu para ajudar a disseminar no País hábitos americanos, como o gosto pelo jazz, blues, além de cachorro-quente e da Coca-Cola. "A primeira Coca-Cola não foi 'pelas asas da Panair', como canta Milton Nascimento. Surgiu em Natal, na base aérea de Parnamirim", escreve Muylaert no livro.Vargas, que tinha vivido os últimos anos da década de 30 em uma posição dúbia na política externa, flertando com alemães e italianos, mas encontrando-se também com Roosevelt no Rio, em 1936, saiu do encontro no Potengi, no final daquela manhã de janeiro de 1943, dizendo que o Brasil deveria se preparar para uma guerra ainda longa. "Tratamos de assuntos referentes à guerra e também, possivelmente, dos que se apresentarão depois da paz", afirmara o político brasileiro em reportagem sobre a Conferência de Natal publicada no dia 30 de janeiro na capa do Estado, que estava sob intervenção da ditadura Vargas. O político brasileiro chegara a Natal na véspera, dia 27, à noite, em segredo, e ficara hospedado em outro navio americano, o Jouett, ancorado no Rio Potengi.Um ano antes, Vargas, aconselhado pelo então embaixador Osvaldo Aranha, já havia rompido com o Eixo após o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, no Pacífico, em 7 de dezembro de 1941, fato que precipitou a entrada de Washington no conflito europeu, e o afundamento de navios mercantes brasileiros na costa atlântica em 1942. O Brasil declarou guerra ao Eixo em agosto daquele ano. Orientado por Aranha, o ditador brasileiro, finalmente, então, se decidira pelos lado dos americanos. O livro de Muylaert aborda ainda ligações pessoais de Vargas com alemães. A nora dele, Ingeborg, casada com Lutero, era alemã e tinha sido da juventude nazista. Casada com Lutero em 1940, morava com os sogros nos Palácios Guanabara e Catete. Muylaert relata também detalhes da vida pessoal de Roosevelt, como a paralisia sofrida pelo presidente americano, contaminado por poliomielite em 1921 - o que não o impediu de ser governador de Nova York e de chegar à presidência dos EUA em quatro mandados (32, 36, 40 e 44).Em depoimento à Fundação, o veterano americano John Harrison, o Jack, que à época da visita era fotógrafo das forças americanas, lembra que Natal era uma pequena cidade. Hoje morando em Delaware, nos EUA, Jack lançou em seu país o livro "Fairwing Brazil - Tales of the South Atlantic" com uma coleção fotografias sobre a experiência na base de Parnamirim. "Fairwing Brazil" pode ser comprado pela internet no endereço www.wwiibrazil.com. O americano recorda combates entre aviões e submarinos alemães na costa brasileira nos dias que precederam a Conferência de Natal. / P.P.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.