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Abstinência programada

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

O aumento do IOF em 1,5 mil por cento e a suspensão das desonerações de impostos marcam o fim da política econômica expansionista, iniciada em 2008, base da sustentação eleitoral dos governos Lula e Dilma. O governo começa a ter de sacrificar posições, como a de preservar integralmente a aprovação da classe média, para não arriscar perdas na faixa do eleitorado mais importante numericamente.Por isso, um IOF maior, que tira o humor do eleitor mais bem informado, e pouca ou nenhuma alteração em desonerações concedidas a setores como o de eletrodomésticos.Carros mais caros, sem qualquer contrapartida na chamada mobilidade urbana, também danificam o patrimônio eleitoral da presidente Dilma Rousseff nos grandes centros urbanos, em que pese a distância que ainda separa os atos de seus efeitos. O país entra no ciclo da abstinência, que o governo administra homeopaticamente para graduar a retirada da anestesia consumista.O endividamento das famílias e a inflação em viés de alta, fatores até aqui negligenciados pelo governo Dilma por conveniência eleitoral, impuseram a rendição antes do início formal da campanha.Não são, certamente, o resultado e o timing esperados pelo governo, embora o primeiro fosse óbvio e o segundo uma arriscada aposta que empurra a conta de truques e maquiagens para 2015. Jornais estrangeiros já registram esse momento, com o enfoque de uma vida mais cara para a classe média brasileira em 2014. Lembram a insustentabilidade, este ano, da administração de preços feita pelo governo, em 2013, como no caso da energia elétrica e dos transportes públicos.No exterior, a camisa de força imposta à Petrobrás é também contabilizada como uma bomba-relógio incontornável. A empresa fez duas correções nos preços dos combustíveis em 2013, lembram especialistas, mas precisará ir além disso para viabilizar seu Plano de Investimentos.O governo deveria se preocupar com um aspecto inerente aos processos de correção de rumos: a economia cobra maior velocidade na arrumação da casa do que se levou para desorganizá-la.Como tudo é feito para que o mal ocorra em 2015, a conta lá será grande para quem vencer.Como resume o ex-secretário da Receita, Everardo Maciel, a conjuntura não permite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias "são males cuja superação vão requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política".

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