A ira vence o delírio

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Por Dora Kramer
Atualização:

Fiel ao seu lema de que política é encenação, o artífice da propaganda do Planalto, João Santana, trocou o cenário do otimismo de governo pelo embate na arena do pessimismo na campanha eleitoral.A celebração do paraíso em contraposição às críticas dos que apontavam equívocos na condução da política e da economia do País não foi suficiente para cumprir o vaticínio feito pelo mesmo Santana de que no fim de 2013 a presidente Dilma Rousseff não só recuperaria todo capital de popularidade como seria eleita no primeiro turno, batendo com facilidade os "anões" da oposição.Conforme atesta também o mago do marketing em sua teoria, política é teatro, mas não é ficção. De onde, a realidade se impôs e contrariou suas previsões indicando a necessidade da mudança de rumo na estratégia."Não está tudo bem com os preços", começou dizendo a presidente em recente encontro com jornalistas. Nesta semana, reconheceu que o governo "subestimou" a complexidade e os prazos das obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. Pegou leve diante do quadro real, mas fez uma inflexão menos delirante do ufanismo costumeiro.Na mesma linha, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, rendeu-se à "frustração" ante ao atraso das obras da Copa e admitiu que o governo foi "incompetente" no diálogo com a sociedade. De fato, monologou o tempo todo e atuou na base do "venha a nós". O comercial do PT exibido na terça-feira faz referência aos "fantasmas do passado", genericamente representados por perdas de benefícios obtidos durante os governos comandados pelo partido. Há quem veja nisso a repetição com sinal trocado do medo versus esperança que dominou a cena da eleição de 2002. A comparação, contudo, não resiste a um exame racional. Na época havia um receio real a respeito do que faria o PT no governo. Tanto que o partido precisou se comprometer por escrito com os fundamentos da estabilidade econômica para ganhar a eleição.Hoje as incertezas têm origem justamente nas atitudes do governo, que ao longo do tempo vem abandonando os compromissos firmados na Carta aos Brasileiros e se aproximando cada vez mais de seu programa original. Com receio de perder o poder, deixou de lado a leveza do modelo da fantasia paradisíaca e ficou bravo de novo.Há receio quanto à crença firme do governo na manutenção de uma inflação baixa, na necessidade do controle de gastos públicos, na correção de rumos equivocados, na oitiva aos apelos à racionalidade, na capacidade de enfrentar com realismo situações adversas e de fazer o que precisa ser feito para o País avançar. A estratégia do medo pode render boas propagandas, mas só terá resultados se refletir a realidade. João Santana tem razão: política é teatro, mas não é ficção. Devido processo. Líder da corrente mais transigente no julgamento de crimes eleitorais, defensor da mínima interferência da Justiça nos embates entre partidos, o novo presidente do TSE não considera que a atual movimentação de candidatos configure campanha eleitoral antecipada. Na concepção do ministro Dias Toffoli, só incorreria em infração à lei em vigor aquele que dissesse "eu sou candidato, vote em mim". Embora seja louvável a ideia de não interditar o debate político, a revogação de leis não é ato de vontade, é prerrogativa do Poder Legislativo.Logo, consente. Não seria o caso, ainda que para cumprir uma formalidade civil, de o PT repudiar as ameaças de filiados e militantes à integridade física do ministro Joaquim Barbosa?Em silêncio, o partido avaliza o espírito de intolerância e o caráter violento desse tipo de manifestação.

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