A 'contundência da verdade' que atinge aliados e arma rivais

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Por Andreza Matais e BASTIDORES: Tânia Monteiro
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Preocupada em se afastar do foco das investigações sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em especial a tocada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a presidente Dilma Rousseff comandou uma reunião tensa na noite de terça-feira para responder aos questionamento sobre sua participação na decisão tomada pela Petrobrás. A resposta redigida de próprio punho pela petista acabou ampliando o problema, tanto no Congresso como dentro do próprio governo.No cálculo traçado pelo Palácio do Planalto, a "contundência da verdade" seria uma vacina capaz de retirar dos holofotes a gestão de Dilma à frente do Conselho de Administração da estatal. Em 2006, com aval da presidente, então ministra-chefe da Casa Civil, foi fechado o negócio que provocou um prejuízo bilionário à empresa. A opção por dizer que não fora informada das cláusulas contratuais que multiplicaram o valor final da refinaria foi costurada com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e compartilhada com o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Thomas Traumann. Mas foi a presidente que redigiu o texto, que acabou por gerar um novo foco de tensão para o governo no Congresso. A presidente da Petrobrás, Graça Foster, não participou do processo de elaboração da nota. Setores dentro da estatal ficaram bastante insatisfeitos com o teor do texto, no qual a responsabilidade pela aquisição que provocou um prejuízo bilionário é deixada exclusivamente para a empresa. Essa postura também desagradou a parlamentares do PT ligados ao ex-presidente da Petrobrás Sérgio Gabrielli, hoje secretário estadual da Bahia.Na tarde de terça-feira, a Petrobrás redigiu uma nota explicativa sobre a compra de Pasadena, depois de questionada pela reportagem do Estado. Esse texto foi enviado ao Planalto. Depois de lê-lo, Dilma rasgou o documento, segundo relatos de pessoas próximas à presidente.Ontem, a resposta da presidente à reportagem provocou surpresa inclusive no Planalto, principalmente pelo fato de Dilma ter assumido que não teria avalizado a compra, caso soubesse das cláusulas que posteriormente obrigaram a aquisição total da refinaria, e que só soube dessas condições dois anos depois. As implicações políticas desta revelação pela presidente foram avaliadas por Dilma e Mercadante.Diante desse cenário, a estratégia de Dilma de deslocar a crise para o corpo técnico da Petrobrás criou novo foco de tensão e o temor de um efeito bumerangue. A base aliada no Legislativo teme que uma eventual convocação do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró possa complicar a já difícil vida do Planalto no Congresso.

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