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Veni, vidi, vendi

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Por Redação
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 Foto: Estadão

Barack Obama foi aplaudido 23 vezes durante seu discurso no Teatro Municipal, no Rio de Janeiro. Citando Jorge Benjor, Paulo Coelho e fazendo referência ao filme Orfeu Negro, ganhou a simpatia entusiasmada da elite carioca.

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Não havia sido diferente em Brasília. A políticos no Palácio do Planalto e a empresários no Itamaraty, o presidente norte-americano esbanjou charme e eloquência. Encaixou o discurso certo para cada público. Arrancou risadas um par de vezes, e uma dezena de aplausos.

Só não disse nada de concreto. Apoio para o Brasil obter a cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU? Fim do visto para entrada de brasileiros nos EUA? Suspensão das barreiras comerciais a produtos brasileiros no mercado norte-americano? Não foi desta vez.

O objetivo de Obama no Brasil ele deixou claro no discurso que fez para o seu eleitorado, pouco antes de embarcar para Brasília. A palavra que mais repetiu foi "jobs". Tradução: as importações brasileiras, explicou, geram 250 mil empregos nos EUA.

Candidato à reeleição, o presidente norte-americano precisa reativar a economia dos EUA e, para isso, quer dobrar suas exportações. É essencial cativar mercados emergentes como o brasileiro, cuja economia cresce acima da média mundial. Palavras de Obama.

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O discurso de Obama antes de embarcar para o Brasil: Foto: Estadão

Em tempos de diplomacia comercial, quando presidentes de todos os continentes são mascates das empresas de seu país, Obama foi sincero quando disse aos cariocas que queria oferecer serviços e produtos norte-americanos para as Olimpíadas e Copa do Mundo.

Comercialmente, a turnê brasileira de Obama foi um sucesso. Veio, viu e vendeu.

Luz no vapor nuclear

Temendo que a radiação contamine seu território, o opaco regime chinês cobrou mais e melhores informações do Japão sobre o acidente na usina nuclear de Fukushima. Quando o risco é atômico, até quem faz da censura uma política de governo demanda transparência.

Os chineses estavam certos na cobrança, que foi endossada pelos EUA. A empresa responsável pela usina demorou a admitir o tamanho do estrago nos reatores e assim aumentou o risco corrido pelos japoneses.

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Por isso, antes de o governo brasileiro pensar em construir mais quatro usinas nucleares, deveria pressionar o Senado para desengavetar e aprovar o projeto que garante livre acesso às informações públicas em poder do estado.

Só assim os vizinhos das usinas, novas e antigas, teriam alguma garantia de que os operadores dos reatores estão contando toda a verdade sobre eles.

Kadafi, o ecumênico

A cada hora após o início dos bombardeios contra a Líbia, Muamar Kadafi atribuía a um ator diferente a responsabilidade pelos ataques. Primeiro, culpou os "sionistas". Depois, disse que a luta era contra os terroristas da Al-Qaeda. Finalmente, chamou os mísseis de "cruzados".

Em sua eloquência metafórica, o ditador conseguiu pôr judeus, islâmicos e cristãos do mesmo lado: contra ele. Nem a ONU conseguiu uma aliança tão ecumênica para apoiar o ataque à Líbia.

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Guerra de palavras à parte, os aviões e mísseis dos EUA, França e Itália, entre outros, são eficientes apenas para destruir a infra-estrutura, desbaratar a defesa anti-aérea, desconectar redes de comunicação e explodir tanques usados por Kadafi.

A eventual derrubada do ditador se dará no solo, para onde nenhum dos países aliados quer mandar tropas. É provável que enviem armas, contando que as forças rebeldes tenham capacidade de usá-las para tirar Kadafi do poder. É um tiro no escuro.

O ditador aposta em uma guerra longa. Sabe, por experiência, que o "cachorro louco" de hoje pode voltar a ser o governante abraçado por Berlusconi anteontem, ou o comprador dos equipamentos nucleares franceses que Sarkozy tanto tentou vender à Líbia em 2007.

Cada dia a mais que Kadafi passe no poder aumentará a oposição à guerra dentro dos países da coalizão. Dá tempo para se questionar os dois pesos e duas medidas: os governos do Iêmen e do Bahrein também atiraram na própria população, sem sofrer sanções militares.

Enquanto isso, os civis líbios estarão no meio do fogo cruzado, ou pior: armados pelos dois lados, trocando tiros entre si.

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