Não que os números tenham mudado muito de uma pesquisa para outra. Guardadas as diferenças intrínsecas de cada instituto, os dois contam mais ou menos a mesma história: Dilma Rousseff (PT) esboçando uma recuperação, enquanto os adversários não saem do lugar, ou até regridem uns passos. O problema é o significado que os aliados e potenciais financiadores extraem dos números.
Raramente as pesquisas influem diretamente no voto do eleitor. Mas elas pautam a campanha eleitoral, lubrificam ou emperram apoios e, mais importante, abrem e fecham cofres. Hoje não é um bom dia nem para Aécio nem para Eduardo pedirem contribuições.
No Brasil, têm-se o hábito de não comparar pesquisas de institutos diferentes - como se a marca do termômetro mudasse a temperatura que ele mede. Jabuticabas à parte, esse hábito duplica boas e más notícias, que são repetidas como se fossem novidade toda vez que uma nova pesquisa é divulgada. Não importa se o fenômeno que ela mostra já havia sido mostrado.
Uma pesquisa acaba sendo o eco da anterior. O efeito - positivo ou negativo - que ela exerce sobre cada candidatura é dobrado. Se o candidato caíra no Ibope e - como era de se esperar - caiu no Datafolha, é como se ele caísse duas vezes. Pouco importa que sejam duas fotos de um mesmo tombo. Dói de novo. Isso aconteceu com Dilma em julho, e acontece agora com seus rivais.
O eco das pesquisas tende a se embaralhar à medida que a campanha esquenta e a frequência dos levantamentos encurta. Quanto mais perto da reta final, menos decisivo ele é. Mas, na fase de pré-campanha, esse efeito pode custar minutos de propaganda na TV se um partido decidir alugar seu tempo para o candidato em ascensão, preterindo o que caiu "várias" vezes.
Todos podem reclamar, mas aceitam as regras. O preterido de hoje é o beneficiado de ontem. Só não adianta brigar com os números.
Efeito 13º
A melhora de Dilma no Datafolha reflete um fenômeno sazonal. A série histórica de pesquisas do Ibope mostra que a satisfação com a vida do brasileiro sempre cresce no final do ano. Pode creditar-se ao verão, ao Papai Noel ou ao 13º salário, mas todo ano, em dezembro, o brasileiro fica mais satisfeito. Não raramente, isso ajuda o poderoso da vez.
Como em toda sazonalidade, o efeito positivo é transitório. Às vezes a popularidade do governante se afoga nas águas de março (e suas enchentes e desabamentos), às vezes aguenta até o outono. No caso de Dilma, a pequena melhora está associada ao crescimento por dois meses seguidos da confiança do consumidor. É a milésima prova de que é a economia que define a eleição.
Não que todo eleitor se paute pelo bolso. Só a maioria. O resto se divide entre petistas e anti-petistas, que vão votar a favor ou contra a presidente, independentemente do que acontecer com sua capacidade individual de compra. Mas esses, ao mesmo tempo que se completam, se anulam. Por isso que quem decide a eleição não é o eleitor ideológico, mas o pragmático.
Não é à toa que a presidente vem gastando o verbo para economizar nos gastos. Tenta desarmar a tempestade econômica perfeita prevista por Delfim Netto para 2014. São os números das contas públicas, da inflação e da cotação do dólar que podem assombrar Dilma na eleição. Pesquisas ferem, a economia mata.
Muito além do mensalão
A economia é que criará ou não condições para Joaquim Barbosa desencapar-se no STF em abril para tentar a travessia da praça dos Três Poderes.
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