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O perfil de cada eleitor

Na média, o eleitor tem um seio e um testículo. A velha piada dos estatísticos revela as limitações do uso da média para retratar um conjunto complexo de informações. O resumo minimalista está sempre arriscado a virar uma caricatura.

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Por Redação
Atualização:

Por isso é desafiador traçar um perfil do eleitor de cada candidato. Os presidenciáveis favoritos atraem votos de vários tipos, por vezes contraditórios entre si. Marina Silva (PV) mistura em seus índices evangélicos e agnósticos. José Serra (PSDB) atrai patrões e empregados.

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Além disso, alguns estratos são tão maiores que todos os candidatos acabam extraindo a maior parte de seus votos dali. É o caso do Sudeste, onde vive quase metade do eleitorado. Mesmo Dilma Rousseff (PT), que tem 2 de cada 3 votos nordestinos, tem maior número de eleitores no Sudeste do que do Nordeste.

Descrever o perfil do eleitorado da petista destacando apenas as partes mais volumosas implica dizer que seu eleitor está majoritariamente no Sudeste, não participa de nenhum programa social do governo Lula, e mora nos maiores municípios do país.

Mas esse não é o eleitor médio de Serra? Também é. Ou seja, esse tipo de análise espelha onde há mais eleitores, e apenas isso. É o mesmo que sublinhar no perfil de um candidato que seu corpo tem 75% de água. O dele e o de todos os adversários.

Se quisermos saber o que o eleitorado de um candidato tem de particular, de diferente, de característico, devemos comparar a intenção de voto em cada segmento, confrontando os percentuais de um presidenciável com o dos rivais.

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O resultado está no quadro que ilustra esta coluna. As características destacadas para cada candidato refletem não onde ele tem mais votos, mas onde seus eleitores mais se distinguem da média.

 Foto: Estadão

A despeito de ter 51% das intenções de voto e de, portanto, estar bem em todos os segmentos, Dilma vai ainda melhor entre quem vive com até 2 salários mínimos, entre os que cursaram até o ensino médio, e entre os moradores do Nordeste e das pequenas cidades.

Ela também se destaca entre os homens, entre eleitores com mais de 30 anos, entre os trabalhadores por conta própria, entre os católicos, entre os participantes dos programas sociais do governo federal e, acima de tudo, entre os simpatizantes do PT.

Embora 85% dos seus eleitores digam que navegam na internet pelo menos uma vez por semana, esse percentual é ligeiramente abaixo da média. O mesmo ocorre entre os assinantes de jornais.

A petista vai pior onde Serra vai melhor. Com 27% de intenção de voto, o tucano está acima da média entre os eleitores com nível superior, entre quem vive com mais de 5 salários mínimos, entre os simpatizantes do PSDB e do PMDB, entre os jovens de 18 a 24 anos e no Sul.

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O eleitor de Serra assina jornais acima da média, mas não tanto quanto o de Marina. Os 7% que compõem o eleitorado da candidata do PV têm uma maior concentração nas grandes cidades e nas capitais, entre patrões e empregados, entre quem ganha melhor e quem estudou mais.

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Apesar de esse perfil se aproximar muito dos eleitores de Serra, há duas diferenças fundamentais: ela vai proporcionalmente melhor do que o tucano entre os eleitores evangélicos e entre os moradores da região Norte/Centro-Oeste. Ela é evangélica e nasceu no Acre.

E quem não vota em ninguém ? Os 5% de eleitores que preferem anular ou votar em branco aparecem com mais frequência entre os com mais de 40 anos. Eles vivem nas grandes cidades do entorno das capitais do Sudeste, ganham entre 1 e 2 salários mínimos e cursaram até o nível médio.

O perfil dos 9% de indecisos tem mais pontos em comum com o dos eleitores de Dilma do que com os de seus principais adversários. Quem não sabe ainda em quem vai votar é notoriamente do sexo feminino, tem mais de 40 anos, não passou da 4ª série do Fundamental, mora em pequenas cidades e vive com menos de 2 salários mínimos.

A principal diferença entre esses indecisos e os eleitores de Dilma é geográfica. Eles estão mais concentrados no Sul e no Sudeste. Há outros pontos que não seguem o perfil típico de quem vota na petista: essas mulheres tendem a ser evangélicas, trabalhar apenas em casa e não participarem dos programas sociais do governo Lula.

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Esse perfil é característico de quem deixa para decidir o voto em cima da hora, nas vésperas da eleição. Embora se aproxime mais do eleitor de Dilma do que dos de Serra, o histórico mostra que os indecisos tendem a se dividir proporcionalmente entre os candidatos.

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