O "Dilmômetro" de Lula

(coluna publicada na edição impressa do Estado)

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Por Redação
Atualização:

A política é a arte da repetição. A máxima de Fernando Henrique Cardoso está sendo demonstrada por seu sucessor e desafeto. Foi falando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viabilizou a candidatura de Dilma Rousseff à sua sucessão. E é repetindo que ele tenta elegê-la.

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Lula disse e repetiu o nome de Dilma até convencer a cúpula do PT, cooptar os simpatizantes petistas, os aliados do PMDB e, por ora, 38% do eleitorado. Há uma correlação direta entre as menções de Lula e o crescimento de Dilma nas pesquisas.

A pregação do presidente não respeitou prazo legal. As citações continuadas a Dilma lhe renderam seis multas por propaganda antecipada. Dado o benefício eleitoral, a infração parece compensar. Lula deve R$ 42,5 mil à Justiça eleitoral, ou 0,02% do custo oficial da campanha presidencial do PT, estimada em R$ 187 milhões.

O primeiro sinal de sua opção por Dilma apareceu no discurso de Lula em meados de 2007, muito antes de que a maioria dos caciques do partido se desse conta de que uma neopetista, filiada há menos de 10 anos, cortaria a fila e viraria a candidata governista.

Em uma série de lançamentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em todas as regiões do país, o presidente soltou seu balão de ensaio eleitoral. Em apenas 54 dias, entre julho e agosto de 2007, ele repetiu o nome de Dilma em 18 discursos diferentes.

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Até então, as menções do presidente à ministra-chefe da Casa Civil eram proporcionais ao destaque de seu cargo: cerca de 3 por mês -embora isso já fosse duas vezes mais frequente do que as citações a seus colegas Ciro Gomes e Marina Silva.

O balão subiu devagar. Lula voltou à carga em março de 2008, quando batizou Dilma de "mãe do PAC", um epíteto que abandonaria mais tarde. Desde então, as citações a Dilma nos discursos e entrevistas do presidente só aumentaram, como se pode notar nos gráficos.

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

Em 2003, quando era uma desconhecida ministra das Minas e Energia, Dilma aparecia em apenas 4% dos discursos de Lula, metade do que Ciro (Integração Regional) e um terço a menos do que Marina (Meio Ambiente). Em 2005 ela substitui José Dirceu na Casa Civil e é lembrada por Lula em 12% dos discursos e 17% das entrevistas. O "dilmômetro" de Lula não parou mais de subir.

Foram 39 discursos (15% do total) de Lula citando a ministra em 2006, 63 em 2007 (19%), 80 em 2008 (24%), até chegar ao recorde de 98 citações em diferentes ocasiões ao longo do ano passado, o que significa que ele mencionou a ainda ministra em 1 a cada 3 discursos que fez em 2009. Repetiu a dose com as entrevistas: citou-a em 87 oportunidades, ou 32% das vezes que falou aos jornalistas.

Em 2010, o "dilmômetro" entrou em curto-circuito. Só nos três primeiros meses do ano, o presidente mencionou Dilma em 39 dos 78 discursos que fez. Ou seja: um sim, um não. Em março apenas, Lula citou Dilma em 20 discursos, repetindo seu nome 94 vezes, mais até do que falou "Deus" (47 vezes), uma referência permanente nas falas presidenciais.

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Aí foi demais para o TSE. O Tribunal Superior Eleitoral multou Lula duas vezes em março, por propaganda antecipada. Coincidência ou não, Lula não citou Dilma em nenhum discurso em abril -fato inédito desde que ela assumiu a Casa Civil. Em maio o presidente não se conteve e falou 6 vezes o nome da já ex-ministra, inclusive na festa do 1º de Maio, além de uma vez em junho. Resultado: 4 novas multas do TSE.

Mas o "dilmômetro" descontrolado de Lula já tinha dado o efeito esperado pelo presidente. Entre dezembro e junho, Dilma praticamente dobrou sua intenção de voto, ganhou cerca de 27 milhões e eleitores e empatou com José Serra (PSDB). Ela chegou ao patamar histórico de Lula nessa fase da corrida eleitoral.

A burla à lei e as multas do TSE implicaram um custo de R$ 1,00 para cada grupo de 635 novos eleitores que o presidente conseguiu para sua candidata. Lula pode dizer que fez sua parte. Agora é com Dilma.

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