Foi, antes de mais nada, um discurso de balanço. Como era esperado, "São Paulo" foi uma das expressões mais citadas (46 vezes), na maioria das vezes no final das frases, e associada a "governo" (49 citações) e a "estado" (30). Em comparação a "Brasil" (17), "São Paulo" recebeu praticamente três vezes mais menções. O que mostra que Serra, nesse discurso, estava mais preocupado com o que acabara de fazer como governador do que com o que virá a fazer como candidato.
A "política" não ficou fora do discurso. Explicitamente, citou a palavra apenas 3 vezes, e negativamente, como em "política do ódio". Mas, implicitamente, a política esteve presente na maioria das vezes que Serra usou a expressão "pública(o)" (26 vezes), como em "vida pública". E foi aí que ele encaixou uma "indireta" para o presidente Lula ao dizer que "nós governamos para o povo e não para partidos".
Além do institucional, o discurso de Serra teve uma parte pessoal. A palavra "vida", seja no sentido de "minha vida", de "vida pública" ou de "ao longo da vida" foi citada 36 vezes. Em muitos casos, Serra associou-a a "pessoas" ("vida das pessoas"), outra campeã de citações (23 vezes) e mais um sinal da preocupação do tucano de "humanizar" seu discurso.
O discurso foi construído para que o final apontasse para o futuro e, obviamente, para suas pretensões presidenciais, sem, contudo, explicitar isso. Serra não mencionou as palavras "eleição" nem "candidato". Mas terminou com uma expressão que tem todo o jeito de ser seu mote de campanha:
"Até 1932, nosso Estado, em seu brasão, ostentava aquela frase em latim "não sou conduzido, conduz". Esse era o lema de São Paulo, até a Revolução Constitucionalista de 32. Mas, desde então, a divisa mudou. A divisa passou a ser: "Pelo Brasil, façam se as grandes coisas". É o papel, é o destino de São Paulo, construído por brasileiros de todas as partes do Brasil. E esta é também a nossa missão. Vamos juntos, o Brasil pode mais!"
"O Brasil pode mais" tenta resolver um conflito de interesses. Muitos eleitores de Serra, atuais e potenciais, avaliam bem o governo Lula. Portanto, o tucano não pode partir para o confronto direto. A ideia implícita no mote é de mudança, mas uma mudança que em vez de abandonar o passado pretende somar novas conquistas ao que já foi feito. É uma fórmula engenhosa, mas não original.
Outras campanhas já usaram fórmulas semelhantes. A de Barack Obama, em 2008, propunha "mudança" de modo também implícito com o seu "yes, we can" (sim, nós podemos). Na de Serra, em vez de "podemos", "o Brasil pode".
Outra coincidência é com o nome da chapa de oposição na última eleição da diretoria do Santos Futebol Clube, batizada de "O Santos pode mais". O candidato a presidente a ser batido, Marcelo Teixeira, havia conquistado vários títulos em sua longa gestão. O mote funcionou e a chapa oposicionista venceu. Os marqueteiros de Serra conhecem a história de perto.