Se Fernando Haddad entrar para a história como o primeiro petista a não chegar ao segundo turno paulistano, o PT não precisará procurar bode expiatório -Marta já assumiu o papel. Em caso de derrota, pouco importa que a culpa seja do próprio candidato e de seu padrinho, vai sobrar para a senadora. Em caso de vitória, será apesar de Marta. Ou seja, a ex-prefeita satisfaz seu orgulho ferido, mas se enfraquece policamente com qualquer resultado.
Na prática, que diferença faz se Marta vai ou não à cerimônia de lançamento da candidatura de Haddad? Fora a simbologia, nenhuma. Haddad vai mal nas pesquisas de intenção de voto porque é desconhecido do eleitorado. O PT não conseguiu fazer mais alianças até agora para aumentar seu tempo de propaganda na TV por dificuldades que nada têm a ver com a ex-prefeita. Se ela tivesse ido à cerimônia, esses problemas permaneceriam.
A única coisa que a ausência de Marta na campanha de Haddad prova é que a escolha de cima para baixo causa tantos desgastes quanto uma disputa aberta -ou até mais. Depois do semi-fiasco nas prévias tucanas que referendaram seu nome como candidato a prefeito, José Serra não teve que responder mais perguntas sobre divisão interna do PSDB. O tucano mudou de marcha e avançou nas coligações. Enquanto isso o PT patina.
Não convencida de que cometeu um erro estratégico em São Paulo, a cúpula petista repete a intervenção autoritária no Recife. Enterra de vez a tradição de fazer prévias para escolher seus candidatos. O PT se arrisca a inverter a máxima: ao renegar a própria história, está sujeito a não repeti-la.
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