A humanização de São Paulo permeia as propostas em todas as áreas. Em "educação", a ideia mais popular, tanto entre o público quanto entre os jurados, é valorizar os professores. Em "urbanismo", é aproximar o morador do seu local de trabalho, criando núcleos de serviços e oferta de emprego nos bairros. Em "cultura" e "sustentabilidade", levar centros de lazer e recreação e mais "verde" à população na periferia.
Esse tipo de concepção da cidade contrasta muito com o que parecia ser a ambição do eleitor para São Paulo no auge do malufismo, por exemplo. Na primeira metade dos anos 90, o que capturou o imaginário paulistano foram obras de engenharia, reais ou fictícias: grandes túneis e avenidas, o Fura-Fila.
Um mapeamento dos maiores investimentos da Prefeitura de São Paulo naquele período mostrava que a maior parte deles se concentrava num raio de dez quilômetros em torno da casa do prefeito. Foi o auge e o começo do fim da centralização.
A decadência da política faraônica ocorre porque ela não se mostrou uma solução para a cidade - ao contrário, acentuou suas deficiências ao priorizar o transporte pessoal sobre o coletivo, por exemplo. No trânsito, como na vida em sociedade, não há saída individual e individualista viável no longo prazo.
O sentido geral que emana do "Que São Paulo você quer?" é uma cidade mais intimista e menos megalômana. A descentralização pedida implica o encurtamento das distâncias entre o morador e seu trabalho, sua escola, seu médico e sua diversão. Até a demanda por segurança é menos tecnológica e mais comunitária, com policiais que façam parte da convivência dos moradores.
Embora o grande atrativo de uma metrópole seja reunir em um só lugar múltiplas culturas e influências, os moradores tendem a conviver em pedaços restritos do território. Suas ligações mais fortes são com os familiares.
A proximidade geográfica produz também comportamentos similares. É o que acontece, por exemplo, nas eleições. Estudo recente do Estadão Dados e do Ibope demonstrou estatisticamente que vizinhos têm votos mais parecidos entre si do que paulistanos de mesma renda e escolaridade mas que moram em regiões distintas.
Isso produz uma cultura local cada vez mais independente do "centro" - seja ele onde for. Na prática, a cidade desenvolve vários centros, que se articulam entre si. A proposta vencedora em "transporte público" mostra que são mais e mais frequentes as demandas por ligações entre bairros, sem a passagem obrigatória pela região central. As "novas" São Paulo que surgiram desde os anos 70 se conectam entre si e se emancipam da cidade histórica.
Nesse clima de fragmentação, é simbólico que uma das ideias mais bem aceitas seja a despoluição do rio que orientou a fundação e o desenvolvimento da cidade. Não pela despoluição em si, mas pela sua consequência: a reintegração do Tietê ao cotidiano nos moradores, seja como via de transporte coletivo, seja como ponto de encontro e convivência. Um rio que une e não que separa.
...