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Áreas de migração têm metade da renda do resto de São Paulo

Rodrigo Burgarelli José Roberto de Toledo

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Por Redação
Atualização:

Um século depois de receber uma leva de imigrantes maior do que era a sua população nativa de então, a capital paulista abriga apenas 28% de moradores que não nasceram no Estado de São Paulo. Mas a distribuição dessas pessoas que escolheram viver na cidade está longe de ser homogênea. Varia de 49% de imigrantes na periférica Anhanguera a 14% na tradicional Vila Carrão.

Os imigrantes - originários majoritariamente de outros Estados e, em menor parte, do exterior - se concentram em duas grandes áreas espacialmente distantes, mas economicamente semelhantes: a extrema periferia e o centro histórico de São Paulo. Entre elas, a formar um anel de distritos com maior presença de paulistas, encontram-se as regiões mais ricas da cidade e os bairros de moradia da tradicional classe média paulistana.

 Foto: Estadão

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Esse anel está pintado com as cores mais claras no mapa que ilustra esta página. Ele compreende 56 distritos cuja renda domiciliar média é de R$ 5 mil. Só 1 em 5 de seus moradores veio de outros Estados ou países. Os outros 78% são, em grande parte, a segunda ou terceira geração de ondas migratórias mais antigas. Numa cidade que teve o maior crescimento entre as metrópoles mundiais no século 20, poucos não são imigrantes ou seus descendentes.

Os outros 40 distritos - identificados pelas cores mais vivas no mapa - têm uma presença de migrantes bem acima da média da cidade: 35%. Não por coincidência, o rendimento médio em suas habitações é metade do resto da cidade: R$ 2,5 mil. Nos mais pobres é a metade da metade. A desigualdade de renda é reflexo de como se deu a ocupação dessas regiões nos últimos 50 anos.

A maioria dos imigrantes recentes foi morar em áreas nos extremos da cidade que foram sendo incorporadas à mancha urbana sem planejamento e com carências de todo tipo de serviço público: do transporte à assistência médica, de escolas ao saneamento básico. Nos anos 70 e 80, esse movimento criou gigantescos distritos dormitórios, como o Grajaú, onde vivem mais de 100 mil moradores nascidos fora de São Paulo.

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Esse movimento expansionista transbordou para os municípios vizinhos a São Paulo nos anos 80 e 90. Na cidade em si, até por falta de espaço, ele ficou restrito a poucas regiões. A mais dinâmica delas é Anhanguera. No extremo noroeste da cidade, é o distrito que forma a ponta de uma das orelhas do cachorro imaginário que muitos vêem quando olham o mapa paulistano. Sua renda domiciliar é de apenas R$ 1.788.

O restante dos imigrantes reocupou áreas do centro histórico - muitas vezes em habitações coletivas - em distritos como o Pari, onde nada menos do que 46% dos moradores são imigrantes. Nessas regiões mais centrais a renda média é maior do que na periferia. Chega a R$ 2.784 no Brás e a R$ 2.984 no Pari. Um dos motivos é que nessas áreas vive um outro tipo de imigrante, o estrangeiro.

 Foto: Estadão

As ondas mais recentes de migração do exterior para a cidade de São Paulo miraram principalmente o centro. Os distritos paulistanos com maior concentração de estrangeiros são o Bom Retiro (16% de seus moradores nasceram em outros países) e Pari (14%), seguidos por Brás, Belém e República.

Repetem-se os destinos dos imigrantes italianos e espanhóis que desembarcaram em São Paulo na virada do século 19 para o 20. Mas, em vez de europeus, as novas onda migratórias vêm da Bolívia, da China e da Coreia do Sul. Os bolivianos como mão-de-obra, os coreanos como empregadores dos bolivianos, e os chineses em ambas as posições.

METODOLOGIA

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As informações analisadas no projeto "96 vezes São Paulo" são fruto de uma parceria do Estadão Dados com o Ibope. Usando métodos estatísticos e de georreferenciamento, o instituto conseguiu associar aos 96 distritos paulistanos as respostas do questionário estendido do Censo 2010.

Aplicado a apenas uma parcela das habitações recenseadas, a chamada "amostra" do Censo inclui informações sobre migração, religião, rendimento, trabalho, condições e bens presentes nos domicílios. Elas serão objeto de reportagens ao longo das próximas semanas e de mapas interativos no blog do Estadão Dados.

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