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Aluga-se palácio brasiliense

Por Jose Roberto de Toledo
Atualização:
 Foto: Estadão

A nova lista do Janot envolve Brasília em fumaça, mas, se repetir o ritmo da versão anterior, será difícil ver o fogo. Em março de 2015, o procurador-geral decidiu investigar 54 políticos. Dois anos depois, metade ainda está no gerúndio investigatório. Dos que foram denunciados, só quatro viraram réus no Supremo. Ninguém foi condenado. O único punido por ora é o ex-todo-poderoso Eduardo Cunha. Cassado na Câmara, perdeu o foro e foi preso provisoriamente pelo juiz Moro. Em Curitiba.

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Em Brasília, a velocidade da Justiça não acompanha a pressa da opinião pública. Nem deveria, mas os efeitos desse descompasso se realimentam e se multiplicam. A demora dá chance a partidos no poder de se recomporem, reforça a percepção de impunidade, desacredita ainda mais a política e abre espaço ao populismo.

Essa espiral deu corpo ao discurso da antipolítica e favoreceu candidatos e movimentos que surfam nessa onda. A nova lista do Janot não parece ter o timing para mudar sua trajetória: segue como marola para só quebrar mais adiante. Sorte do presidente.

Ministros - Jucá, Geddel, Padilha - vão, Michel Temer fica. Delação após delação, segue apoiado pelo compadrio do Congresso, prorrogado pela lentidão da Justiça e legitimado pelo anseio reformista do mercado. Só tem que administrar o calendário e evitar que seu destino transite em julgado antes de 2018 - ano da eleição. Torna cômoda sua permanência à maioria dos atores políticos ao permitir que subam o valor do aluguel do palácio.

Com a Turma do Pudim peemedebista consumida por denúncias, o governo é cada vez menos de Temer ou do PMDB e mais de um condomínio multipartidário no qual o PSDB tem a cobertura. Na prática, é um parlamentarismo torto. Não há um síndico único - como foi Ulysses Guimarães no governo Sarney -, mas uma parelha deles. Nada de importante acontece sem que sejam consultados. Até espacialmente o poder do presidente encolheu.

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A mudança da família Temer de volta ao modesto Jaburu pode ter sido como dizem, por comodidade, mas não deixa de ser um retorno à residência dos vices. No rearranjo compartilhado dos espaços brasilienses, é simbólico que o domínio dos presidentes da República, o Palácio da Alvorada, fique vago, a mercê das emas.

Ao compartir cada vez mais poder, Temer faz de sua eventual saída uma perda maior para os condôminos de seu governo. Em troca, ganha votos até onde não deveriam existir bancadas.

As delações da Odebrecht deram brecha para a defesa de Temer no Tribunal Superior Eleitoral. Ao requererem novos depoimentos e provas, permitem protelações. Somam-se a isso as trocas iminentes de três ministros do TSE, inclusive do relator do caso, e inevitáveis recursos ao Supremo. Vão-se aí meses.

Mesmo se o TSE cassasse seu mandato, não há consenso sobre como seria a sucessão de Temer. O Código Eleitoral prevê eleição direta quando o cargo vaga a mais de seis meses do fim do mandato. Já a Constituição manda o contrário: se a vacância se der nos dois últimos anos, o novo presidente deve ser eleito pelo Congresso. A contradição vai acabar nos tribunais. Meses.

Se tudo desembocar em 2018, como parece, caberá aos eleitores escreverem o próximo capítulo. As pesquisas, a história, e as urnas no resto do mundo mostram que um populista autofinanciado - à la Berlusconi e Trump - se aproveita melhor do descrédito da política do que um líder partidário tradicional. Especialmente se for para enfrentar um adversário popular mas que também é percebido como político profissional. O mesmo timing que ajuda Temer hoje conspira a favor de João Doria amanhã.

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