O cenário mais provável para a eleição presidencial, na proporção de 9 para 1, é de um segundo turno entre PT e PSDB. É a mesma polarização que domina a política brasileira há 20 anos.
Projeção do Ibope aponta o PMDB como favorito para eleger hoje a maior bancada da Câmara dos Deputados. Entre os muitos nomes repetidos que aparecem nas pesquisas do instituto, destaca-se o do atual líder do partido, Eduardo Cunha. Se for bem votado, como parece que será, e o PMDB ultrapassar o PT em cadeiras, esse mestre sem cerimônia do toma lá dá cá será forte candidato à presidência da Câmara, o cargo mais poderoso do Parlamento.
Cunha é o símbolo de que podemos não saber quem será o presidente, mas sabemos que o PMDB estará no poder. Controlando as maiores bancadas na Câmara e no Senado, os peemedebistas terão posição ainda mais forte para barganhar cargos, verbas e sabe-se mais o quê com quem vier a ser eleito para o Palácio do Planalto.
Tanto melhor quanto menor for a bancada do partido do novo presidente. Se Dilma Rousseff for reeleita, muito provavelmente terá a seu lado um PT menor do que os quase 90 deputados de hoje. Se for Aécio Neves, terá um PSDB com menos de 50 cadeiras. Se for Marina Silva, o PSB onde está hospedada mal chegará a 30.
Para complicar, a dispersão partidária tende a aumentar na Câmara. Segundo a projeção do Ibope, haverá mais partidos médios, os nanicos virarão pequenos, e os sem-bancada virarão nanicos. É o habitat perfeito para o cultivo fisiológico.
Nas disputas pelo poder nos Estados, 11 governadores ou seus candidatos chegam favoritos à boca da urna. No mínimo, ocupam o primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. É assim em todo o Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas se repete em todas as regiões. De São Paulo e Rio de Janeiro no Sudeste, a Acre, Rondônia e Roraima no Norte, passando por Pernambuco e Sergipe no Nordeste, e Goiás no Centro-Oeste.
Em outros lugares a disputa está mais apertada, mas o candidato governista está num segundo lugar e ameaça o favorito, como no Ceará, Bahia, Pará e na Paraíba.
Há Estados onde parece que haverá renovação, como no Amazonas, Espírito Santo, Piauí, Amapá e Tocantins, mas só parece. Os favoritos são ex-governadores tentando voltar ao poder. Nos dois primeiros casos, por briga interna: elegeram o sucessor, se desentenderam e agora tentam retomar o que era seu.
Outra miragem de mudança acontece em Alagoas e no Rio Grande do Norte. Mal avaliados, os governadores devem ser substituídos por políticos 2.0 - de segunda geração, como Renan Filho (herdeiro político do presidente do Senado, Renan Calheiros) e Henrique Eduardo Alves (11 vezes deputado federal, filho do ex-ministro e ex-deputado Aluísio Alves, primo e sobrinho de senadores).
Mudança, se houver, só no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão e Distrito Federal. Mesmo assim, os favoritos são senadores, ex-ministros e ex-deputados.
Por que a onda de 2013 vai morrer na praia? Entre outros motivos, porque as redes e organizações ditas horizontais que chamaram os protestos do ano passado não produzem lideranças. A democracia representativa depende de líderes, o poder não admite vácuo. Os manifestantes não se organizaram para preenchê-lo, mas os profissionais sim. É a volta dos que nunca foram embora.
Por essa contradição mal-resolvida, pela aridez econômica e climática, 2015 deve ser ano de mais nuvens lacrimogêneas. Melhor estocar água e vinagre.
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