A "terceira" queda de Dilma

Por hábito, os veículos de comunicação brasileiros não comparam pesquisas de institutos diferentes. O resultado é que um mesmo fenômeno da opinião pública acaba noticiado várias vezes como se fossem fenômenos diversos.

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Por Redação
Atualização:

Quando estão em alta, governantes se beneficiam dessa prática, porque aparecem várias notícias positivas subsequentes sobre sua popularidade. Mas, quando estão em baixa, penam com a mesma má notícia toda vez que um instituto divulga uma nova pesquisa - mesmo quando o resultado é igual ao já publicado.

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É o que está acontecendo com Dilma Rousseff. A queda da popularidade da presidente já aconteceu, mas vai aparecer como uma nova queda amanhã, quando a CNI divulgar sua pesquisa de avaliação do governo. Porque o resultado será comparado com a pesquisa anterior do Ibope/CNI, feita em junho, mas antes dos protestos que precipitaram a derrocada dos governantes.

A primeira notícia da queda de popularidade de Dilma veio pela pesquisa Datafolha do fim de junho. Comparada com outra, do mesmo instituto, feita 20 dias antes, o novo levantamento mostrou que a avaliação do governo Dilma despencou de 57% de ótimo+bom para 30%.

Quando MDA/CNT divulgaram a sua, duas semanas depois, o resultado foi igual, dentro da margem de erro: 31% avaliavam o governo Dilma como ótimo+bom, contra 29% de ruim+péssimo. Mas a notícia foi que ela caíra novamente. Na verdade, a notícia era que Dilma parara de cair, mas pouca gente prestou atenção.

Agora, na CNI/Ibope, a presidente deve ficar no mesmo patamar de popularidade já registrados por Datafolha e MDA. Mas as notícias já são de que "a aprovação do governo Dilma continua caindo". É fato. Continua caindo, no noticiário.

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O argumento de que as metodologias das pesquisas não são comparáveis equivale a não comparar a temperatura de dois termômetros porque um é digital e o outro, analógico. A febre é a mesma. Se o método de coleta muda, o resultado tem que ser igual.

Foi comparando e calculando a média de pesquisas de diferentes institutos de pesquisa que Nate Silver se tornou uma celebridade nos EUA ao acertar tudo o que previu sobre as eleições norte-americanas em 2008 e 2012. Foi contratado pelo The New York Times, e, agora, foi "roubado" do jornal pelas redes de TV ABC e ESPN. Estenderá seu método a esportes, clima e o que der.

Na cultura (ou falta dela) de divulgação e análise de pesquisas corrente no Brasil, Nate Silver seria tachado de charlatão.

 

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